Quando, no dia 12 de julho de 2019, os 284 passageiros e tripulantes embarcaram num Boeing 777-200 da Air Canada com destino a Sydney, não imaginaram que a viagem ia ter uma paragem no Havai. O voo tinha partido de Vancouver, no Canadá, e a rota inicialmente desenhada pelos pilotos não incluía nenhuma paragem, mas ela teve que acontecer.
Cerca de oito horas depois de o voo ter começado, e sem que estivessem à espera, os passageiros começam a sentir uma forte agitação que se foi intensificando. Não durou mais do que “alguns segundos”, mas foi o suficiente para que houvessem pessoas “a serem atiradas para o ar e a bater com a cabeça no teto”, “gritos”, “malas a caírem das bagageiras” e “um carrinho de transporte de comida a bater com violência numa das hospedeiras”.
Os relatos são de alguns dos passageiros que, ilesos, falaram com a imprensa no local já depois de o avião ter feito uma aterragem não programada no aeroporto de Honolulu. Houve outros, 37, que acabaram encaminhados para hospitais por terem saído feridos desta viagem.
Numa imagem revelada por um dos passageiros é possível ver que algumas máscaras chegaram mesmo cair dos compartimentos. Em princípio não terá havido despressurização da cabine (se assim fosse todas as máscaras teriam caído), a libertação das máscaras terá estado relacionada apenas com a violência da turbulência sentida naqueles segundos.
Os feridos que resultaram deste acidente não tiveram ferimentos de maior e a maioria dos passageiros deste voo acabaram por completar a viagem no mesmo dia em que foi interrompida.
Este é um evento muito raro. A maioria dos passageiros, mesmo os mais frequentes, nunca passaram por turbulência severa, muitos podem já ter experimentado turbulência leve, que é muito semelhante à viagem de um carro numa estrada em más condições. A turbulência moderada também pode ser comum, ainda assim o máximo que pode acontecer é acabar com o copo da bebida que pediu à tripulação em cima das calças.
A turbulência severa é rara porque os pilotos fazem tudo o que é necessário para a evitar, mudando a altitude ou fazendo uma curva para contornar as zonas encarnadas do radar. Mas nem sempre é possível, porque o avião não pode mudar de altitude de forma deliberada nem fazer mudanças de rota bruscas, uma vez que está em causa todo o tráfego aéreo da região por onde está a voar. E mesmo fazendo alterações, as condições climatéricas adversas movem-se e podem acabar a atingir o avião.
No caso do Air Canadá houve um acumular de acontecimentos raros. Para além da turbulência severa, os pilotos viram-se a braços com um fenómeno quase impossível de detetar, a turbulência de céu limpo. Este é um fenómeno que não aparece nos radares e que por isso não dá oportunidade aos pilotos de o contornarem, muito menos de avisarem os passageiros, com antecedência, para a necessidade de voltarem ao lugar e apertarem os cintos.
Mas como na aviação até as surpresas são previsíveis, há uma recomendação que todos os passageiros ouvem antes de o avião descolar e que devem levar a sério: “durante o voo, e enquanto estiver sentado, deve manter sempre o cinto de segurança apertado”. Todas as pessoas que no Air Canada acabaram feridas, estavam com os cintos de segurança desapertados. Importa também dizer que a maioria dos feridos seriam tripulantes de cabine que estavam em pleno serviço de bordo.
Para Patrick Smith, piloto da companhia aérea americana United Airlines, “a turbulência é encarada como uma questão de conforto para os passageiros, não é um problema de segurança”, diz a Bussiness Insider. É por isto que imaginar os pilotos a transpirar enquanto tentam segurar os controlos do avião é uma ideia muito distante da realidade. Na maior parte dos casos o piloto automático nem se desliga, e mesmo quando os pilotos tomam o controlo da aeronave, o procedimento baseia-se na menor interação possível, deixando que o avião siga normalmente “ao sabor do vento”, até que o mau tempo passe.
A turbulência é exatamente isso, mau tempo. Na verdade um conjunto de eventos metereológicos que criam ventos cruzados e fazem o avião ficar agitado. As diferenças térmicas também podem justificar alguma instabilidade, assim como as diferenças de pressão.
Para quem tem medo de voar, a turbulência é o grande papão, mas “não me lembro de nenhum avião ter sido derrubado por turbulência, talvez tenha acontecido, mas não me lembro”, continua o comandante que diz ainda que não é possível que uma asa, por exemplo, seja arrancada do avião por causa de um fenómeno de turbulência, por mais severa que seja. Na verdade é exatamente para poderem aguentar fortes pressões que as asas estão a “abanar” quando olhamos para elas durante um evento de turbulência, são feitas de materiais flexíveis.