O ar condicionado dos aviões ajuda a propagar doenças?

Com a Covid-19 a manter vários passageiros afastados dos aviões, importa saber se o ar condicionado tem alguma influência na propagação da doença.

O ar condicionado dos aviões ajuda a propagar doenças
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Um Airbus A380 da Emirates acabado de chegar a Nova Iorque ficou imobilizado na placa do aeroporto sem se aproximar do terminal. À volta do aparelho foram parando alguns veículos de emergência médica, bem como elementos da equipa de handling. Ao contrário do que seria expectável, nenhum dos 521 passageiros abandonou o avião, tendo ficado todos eles em quarentena a bordo.

O episódio é de setembro de 2018, data suficientemente antiga para que se possa pensar que houvesse suspeitas de coronavírus a bordo. Tudo terá começado com alguns passageiros que se sentiram indispostos durante a viagem, um valor que terá aumentado progressivamente. À chegada aos Estados Unidos eram já 10 as pessoas que precisavam de assistência médica.

A imobilização de um avião destas dimensões justifica-se com a possibilidade de aquelas pessoas poderem estar a exportar para o aeroporto de chegada, bem como para a cidade, uma possível doença infecciosa. Para evitar a possível propagação, todos os passageiros foram examinados por médicos e foi feita uma medição individual da temperatura de cada um deles para despitar sinais de possível doença grave.

No final tudo não passou de uma gastroenterite que não se provou que tenha sido causada por nenhuma comida a bordo. Significa que o mais certo é que tenham existido várias coincidências no mesmo voo que tinha acabado de chegar do Dubai.

Sendo o problema aqui identificado uma doença do aparelho digestivo, não é possível ser propagada através do ar, mas caso se tratasse de uma doença respiratória como a Covid-19, o fator avião podia ter sido encarado como um fator multiplicador do risco de infeção?

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A resposta é clara: sim. Um espaço fechado, com muitas pessoas concentradas e pouco distanciadas umas das outras é sempre um lugar onde a propagação de doenças respiratórias pode ocorrer. Todos os transportes públicos são assim e o avião não é exceção.

Importa também sublinhar que em setembro de 2018 não havia quaisquer regras adicionais para que se evitasse a propagação de doenças a bordo. Atualmente é diferente. Apesar de os aviões não voarem com lotação limitada, todos os passageiros são obrigados a usar máscara durante todo o voo, há desinfetante para ser usado durante toda a viagem e há até companhias aéreas e aeroportos que estão a fazer medições de temperatura antes e depois do embarque, havendo também alguns casos em que são feitos testes à Covid-19. As regras de limpeza também foram radicalizadas por forma a garantir que todos os espaços são desinfetados.

O distanciamento de segurança também é recomendado até a exaustão nos momentos em que os passageiros esperam para entrar, é pedido que ninguém se levante quando o avião pára depois de aterrar e há em toda a sociedade um conjunto de alertas que deixam a maioria das pessoas muito mais atentas a sinais e à necessidade de cumprir as regras de segurança de saúde pública.

Apesar de todas as precauções, viajar de avião não é 100% seguro, assim como nenhuma atividade que envolva lugares públicos o é. Mas há um aliado dos passageiros aéreos escondido.

O ar condicionado dos aviões sempre foi mal amando, quer seja porque lhe é incutida a responsabilidade de ser o responsável pelo ar seco e de má qualidade que respiramos a bordo, quer seja porque a temperatura da cabine nem sempre é a mais agradável para viagens de longa duração. Para além de tudo isto há quem assegure a pés juntos que a probabilidade de se ficar doente a bordo de um avião é grande por causa do ar reciclado que circula a bordo.

De facto parte do ar que respiramos é reciclado, mas não a totalidade. Os sistemas de ar condicionado dos aviões fazem uma renovação constante de cerca de 50% do ar que chega diretamente do exterior através dos motores dos aviões. O ar não é totalmente reciclado porque há pouco oxigénio na altitude a que o avião voa e introduzir um ar completamente novo na cabine podia ser um risco à segurança dos passageiros.

Todo este processo acontece a cada três minutos, em média. Este é o tempo em que o ar está dentro da cabine antes de voltar ao sistema de ar condicionado e ser conduzido pelos filtros HEPA (High Efficiency Particulate Air), filtros equivalentes aos que são usados em salas hospitalares e que ajudam a eliminar cerca de 99% dos vírus e bactérias.

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