Aprender com os erros é uma das melhores formas de crescermos. E se esta velha máxima se pode aplicar à vida de cada um de nós, garantidamente que sempre se aplicou à indústria aeronáutica. Todos os que vão lendo notícias sobre aviões percebem que um acidente é um evento raro, mas quando acontece não há descanso por parte das autoridades envolvidas para saberem exatamente o que correu mal, para que não se volte a repetir.
As janelas dos aviões têm tudo a ver com a aprendizagem que foi feita ao longo dos anos e se elas têm a forma que conhecemos atualmente é porque houve erros fatais que custaram vidas e, como uma vida perdida num avião nunca pode ser em vão, foram prontamente corrigidos.
Para percebermos efetivamente como é que as janelas acabaram com o formato oval que hoje têm, temos que recuar ao final da década de 40 para conhecermos o Havilland Comet, um percursor no transporte de passageiros em aviões a jato. Não foi o primeiro avião com motores a jato, mas foi o primeiro a ser construído para transportar passageiros em viagens mais rápidas, mais confortáveis e mais altas.
Como todos os pioneiros, o Comet recolheu os louros de conseguir fazer viagens bem mais rápidas do que os antecessores com motores a hélices, era muito mais silencioso e sofria muito menos com a turbulência porque conseguia voar a altitudes muito mais elevadas.
A altitude é um dos maiores segredos das companhias aéreas para darem aos passageiros viagens mais confortáveis porque há muito menos adversidades climatéricas, mas com a rarefação do ar também é possível poupar combustível o que, naturalmente, se traduz numa viagem mais barata e mais rentável para a companhia aérea.
Mas para que os aviões possam subir é preciso pressurizar a cabine para que os passageiros e tripulantes respirem normalmente, um processo que na época do Havilland Comet não era usado na aviação comercial porque os seus antecessores voavam a altitudes mais baixas.
Como é natural a construção do primeiro avião a jato para transportar passageiros foi feita com um projeto complexo, mas recuperando muitas das caraterísticas dos aviões que já estavam em operação. As janelas foram um dos elementos que o Comet herdou e que o empurraram para um fim trágico.
A pressurização da cabine é como um balão cheio de ar que à mínima falha, rebenta. Em toda a fuselagem há pontos mais frágeis que podem fazer o avião despedaçar-se em quanto voa e um dos trabalhos mais importantes dos fabricantes de aviões é perceberem quais são as zonas mais frágeis que em voo podem não aguentar a pressão elevada que há na cabine. No caso do Comet, as janelas quadradas eram um desses pontos frágeis.
Depois de dois acidentes fatais que levaram à morte dos 30 passageiros que seguiam a bordo, as investigações concluíram que os vértices das janelas quadradas eram pontos que não aguentavam a pressão da cabine e acabavam por ceder, levando o avião a desintegrar-se em voo. As investigações concluíram também que havia outros pontos frágeis que era necessário reforçar, mas o avião foi posto em terra e só voltou a levantar quando os erros foram corrigidos e as janelas passaram a ser ovais.
A forma das janelas não sofreu mais alterações desde que se percebeu que o formato atual oferece menos riscos, mas menos riscos não significa exatamente zero riscos. As janelas continuam a ser uma das zonas mais sensíveis do avião e há até quem acredite que podem ser eliminadas de todo.
Em 2018, o presidente da Emirates, Tim Clark, apresentou uma nova experiência a bordo dos aviões da companhia em que todos os passageiros tinham um lugar à janela, mesmo que estivessem sentados em lugares no meio da fuselagem do avião. Tal façanha só é possível porque numa das paredes das suites de primeira classe são aplicadas janelas virtuais que dão ao passageiros a sensação de estarem a olhar para a rua quando, na verdade, estão em frente a ecrãs de alta resolução.
Com a aplicação desta medida, dizia o presidente da Emirates, era possível eliminar os tais pontos sensíveis do avião, mas também torna-lo mais leve, logo mais rápido e menos gastador de combustível.
Com estes ecrãs, acredita este responsável, os passageiros quase nem iam notas que estavam a olhar para ecrãs que refletiam o ambiente exterior em tempo real captado por câmaras no exterior da fuselagem. Mas é provável que a médio prazo não vejamos esta tecnologia ser implementada porque as janelas também servem para que os passageiros percebam o que se passa no exterior do avião quando fôr preciso fazer uma evacuação de emergência. É também por isso que as persianas têm que estar abertas quando o avião descola e aterra.