Porque é que choras Sara? O síndrome do regresso

Sara voltou há três meses da Indonésia. Depois de um ano de viagem estava tudo encaminhado para o seu regresso, no entanto o regresso não foi tão fácil como esperava.

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Troquei as sandálias por uns saltos altos pretos, as saias e as t-shirts coloridas por umas calças pretas, uma blusa branca e um blazer preto, o simples lápis preto por uma panóplia de produtos de cosmética, a água de colónia mais barata do super mercado por um perfume da Givenchy e a mala colorida do Camboja por uma simples e preta.

Caminhava pelas ruas, os mais curiosos observavam e a dúvida seria se era indiana, brasileira ou espanhola; hoje sou só mais uma no meio de tantas outras pessoas que vão trabalhar para escritórios.

Cumprimentava as pessoas com vénias ao estilo coreano e japonês; hoje tenho que me relembrar que dois beijinhos é estilo português, nalguns casos os abraços calorosos e cheios de boas energias que pré-Ásia me davam ânimo para continuar com a vida hoje são cuidadosos “para não sujar a camisa com base” – acabou-se a vassalagem, estamos na Europa.

Antes esforçava-me por prestar atenção a tudo o que todas as pessoas diziam, se comportavam e tentava traduzir para a minha língua todos aqueles estímulos e me proteger; hoje esforço-me para me focar somente no meu computador, no telefone que tenho junto a ele, em tudo o que me dizem para fazer (e para não fazer) e para não ouvir o que dizem todas as outras pessoas da sala – foco.

Almoçava e jantava com uma colher, com um garfo ou com uns chopsticks, eles sorriam e perguntavam porque é que não o faço com as mãos e eu sempre disse que era demasiado asiático para mim; tento segurar na faca e no garfo e comportar-me como sempre fui “portuguesa”.

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Agradecia sempre e pedia sempre desculpas por não conseguir ter uma mente aberta o suficiente. Tenho que parar de agradecer e acabaram-se os pedidos de desculpas.

A coreana estava quase sempre em todo lado, a chilena e os europeus convidavam-me para jantar, as indonésias para conversar. Estou sozinha a maioria do tempo, chateio os meus amigos para nos reunirmos e para eles virem um dia destes a minha casa jantar.

Sacrificava-me para que Portugal não perdesse uma vaga no futuro e senti-me a pessoa mais incrível do Mundo quando na cerimónia de encerramento a minha bandeira lá estava e tinha sobrevivido este ano na Ásia. Penso nas contas que tenho para pagar e no mestrado.

Impacto – tinha tudo e não tinha nada, tenho tudo e não tenha nada.

Perdi o sentido à vida.

Caixas, dói muito querer encaixar nela, mesmo sabendo que é demasiado pequena para ti.

Desistir é deixar de acreditar em ti.

Por isso é que é desmesurável, desmedida essa força que dias melhores vão chegar.

Que vais encontrar essa estabilidade e essa coragem.

Usa o teu sorriso para mudar o Mundo, não deixes que o Mundo mude o teu sorriso.

Afinal não és português, não és asiático e os outros até podem querer caber nessa caixa, mas tu.

Tu cabes no Mundo.

Pertences ao Mundo. Nada nem ninguém será capaz de te convencer do contrário.  Nem tu mesmo.

Liberdade pra dentro cabeça. Sorri, sou Rei.

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