Malang, como está Malang?
No mesmo sitio.
Já cantas também o adhan?
Continuo a escuta-lo todos os dias, cinco vezes, há dias em que não consigo relaxar e meditar em português ou em inglês quando o escuto, mas faço um esforço, agradeço a este deus (eu acredito que existe algum!) por esta oportunidade.
Arroz pela manhã, pela tarde e pelo fim do dia, já experimentaste todos os tipos, certo?
Ainda não, mas descobri que gosto de arroz com manteiga de amendoim (nasi pecel), já estou um bocadinho mais habituada com os picantes (eles continuam a dizer que não!), adoro tempeh (é um snack tradicional da Indonésia) e o terang bulang manis (são panquecas indonésias).
Deves ser também já fluente no bahasa, certo?
Adorava. No entanto o Javanês, o gaul (calão) e o wali-han (lingua falada pelos locais de Malang) são as línguas que eles usam para comunicar aqui na ilha de Java. Claro que se falar em bahasa, todos me entendem e conseguimos comunicar. Se calhar talvez devesse ter aulas de javanês e não de bahasa, mas a verdade é que a Indonésia é o maior arquipélago do Mundo, cada ilha tem a sua própria língua, o bahasa indonesia é uma forma de unificação entre todos os estes povos e culturas.
Mas tu gostas de línguas, falas várias, para ti deve ser fácil fixar tudo?!
Adorava ter o Google Translator no cérebro para conseguir fixar tudo o que me dizem, sabes? A verdade é que por muito apaixonada da vida que seja por línguas, por culturas, por pessoas, desde que cheguei tenho tentado aprender tudo com calma e desfrutar ao máximo da experiência. Claro que dentro da sala de aula evito pensar em português porque continua a ser confuso. Mas a comunicação é algo super engraçado, transversal a qualquer idioma e quando descobrimos pontes entre a nossa lingua materna e outras que nada têm a ver com a nossa, é muito divertido. É o que me fascina cada vez mais.
Fascina-te porque tens mais em comum do que imaginavas?
Fascina-me porque, por muito diferentes que sejamos, por muitas línguas que falemos, as culturas sejam distintas, somos todos humanos. Sentimos todos o mesmo. A maioria das vezes, esquecemo-nos disso. De olhar introspetivamente sobre nós mesmos, enquanto pessoas não enquanto nacionalidade, raça ou cor da pele. Estou a viver há quase 7 meses com uma rapariga da Coreia do Sul que fala um idioma que nada tem a ver com o meu, com uma cultura muito distinta, com uma educação igualmente distinta, mas que tem a minha idade, que tem viajado comigo, que é das minhas melhores amigas e que me tem ensinado muito sobre isto de igualdade, de construir pontes, de olharmos o mundo de maneira distinta.
Hoje fala-se em construir muros e tu segues com a ideia de pontes?
Fiz amizade com uns mexicanos e uma argentina, com um rapaz caribenho que vive na Escócia, com um grupo de rapazes da Coreia do Sul e com jovens indonésios nas minhas viagens na ilha de Java. O muro no México, a guerra das Coreias, a situação da Escócia perante o Brexit e a influência da religião no exercício do poder politico aqui na Indonésia.
Tive mais consciência de umas coisas, aprendi outras. Percebi que é cada vez mais essencial criar pontes, trabalhar para que todos enquanto pessoas possamos ser melhores ajudando o próximo. É verdade que correm tempos difíceis, para todos. Mas onde é que anda a esperança?
A Indonésia é o maior arquipélago do Mundo, amante de viagens, já deves ter feito imensas?
Não viajei tanto quanto queria, nem a todos os sítios onde queria, mas a bucket list ainda não está terminada, vou apagando e acrescentando coisas, é mesmo assim.
Qual foi o sitio que mais gostaste? Porquê?
Na ilha de Java, o templo Plaosan em Yogyakarta. O templo fica entre sawa (campos de arroz), umas montanhas e próximo de um templo muito famoso aqui (Candi Prambanan) que normalmente está repleto de gente. Observa-se antiguidade, respira-se ar puro e sente-se uma paz difícil de explicar.
Em Bali, o templo Ulun Danu Bratan. Este templo está construído sobre o lago Bratan, representa a cultura balinesa e é tão famoso que está nas notas de 50 mil rupias. A paisagem é linda e saber que é importante para eles, é importante para mim.
Passados quase sete meses, sete meses tão intensos, sete meses em que todos os dias são uma roda-viva de emoções, sete meses que já passaram.
Sabes estas, pensei eu, seriam algumas das perguntas que terias para me fazer, se nos encontrasse-mos agora, ou então fazem parte de um monólogo imaginário que acabei de pensar. Acontece que cinco meses depois, estas seriam algumas das possíveis respostas que teria para te responder.
“Com poucas expetativas, sem querer saber dos desafios com os quais te irás deparar, nem da introspeção nem auto-descoberta que os efeitos de tudo isso terá em ti. Mas parte. Por favor, Parte.”