Chamo-me Cátia e aos 27 decidi que estava na hora de voltar a fazer um retiro, desta vez na Indonésia. Disse adeus ao meu emprego de sonho e antes de abraçar o novo desafio profissional precisava de um “reset à séria”. Decidi embarcar naquela que foi a viagem que mais me desafiou: um bilhete de ida, duas semanas numa ilha ao estilo-completamente-deserta e duas semanas a aprender sobre Qi-Gong, Yoga, Meditação e Mindfullness
eating.
O meu pai ficou roxo e pôs as mãos à cabeça, a minha mãe disse para ter cuidado e a minha madrinha ficou com o coração nas mãos. O meu namorado apoiou-me e disse que me acompanhava nas duas primeiras semanas e os meus amigos disseram “Tu és louca!”. Como ex-consultora passava a vida a viajar e andar de hotel em hotel ou de avião em avião não era grande novidade. Mas pela primeira vez, tudo dependia de mim: não haviam prazos, planos, horas marcadas, hotéis de luxo: seria mesmo uma experiência “muito à lá into the wild”. Durante duas semanas estive numa ilha e sem direito a um resort requintado, mas garanto-vos que tive direito a uma APRENDIZAGEM de LUXO.
Como disse no meu primeiro retiro feito no Nepal: “Uma viagem por si só já nos transforma, dando-nos uma perspetiva completamente diferente de atitudes, espaços, culturas e costumes; um retiro leva-nos a refletir mais sobre nós, a nossa essência e propósito de vida”. Passou exatamente um ano, e vou contar-vos step-by-step desta grande aventura (e não me refiro só “à viagem pela Indonésia”).
Para já fiquem com a entrevista ao W360.PT
Com 25 anos fizeste o teu primeiro retiro no Nepal. Porque voltaste a fazer um retiro?
Gosto muito de tratar a minha saúde mental/emocional, como trato da minha saúde física. Para mim é tão importante ir ao ginásio, como é ir a um psicólogo ou simplesmente fazer reflexões internas. Além disso, sempre gostei de alargar a minha zona de conforto e como a minha amiga Eve diz “esta miúda não está satisfeita se não tiver coisas altamente-desafiantes e que ame fazer 24/7”.
Dentro de 2 meses ia abraçar uma nova experiência profissional e pensei “Cátia, ou é agora ou não é!” – Dói sempre dizer adeus ao que amamos fazer e partir para novas aventuras e eu estava nessa fase. Marquei a viagem de ida para a Indonésia no dia que entreguei a carta de demissão e tinha voo de ida marcado no fim-de-semana seguinte àquele que seria o meu último dia de trabalho (mesmo para evitar pensar muito “sobre a coisa”).
Precisava de um reset e de refletir muito sobre o meu crescimento pessoal, profissional e sobre o meu propósito e ambições futuras. Era tempo de PARAR, de estar “só” e de redefinir os meus valores e propósito.
Pergunta para queijinho: Quantas vezes já pararam para pensar no que abana o vosso mundo? Mas à séria! E no que vos inspira? Quais são os vossos valores? E qual o vosso propósito? Com que regularidade fazem aquele-check-up-básico e refletem se tudo isso está alinhado?
Eu faço isto com muita regularidade, e achei que aquele momento era o certo para me “desprender de tudo”, parar e ir.
Como organizaste a viagem?
Honestamente… não organizei muito (risos)! E sim: eu sou uma planning-freak! Dei uso há minha intuição mega apurada e pus me a jeito (demasiadas vezes). Organizei somente o básico:
#1 Comprar viagem (comparei imensos voos e dei prioridade à duração da viagem). Comprei a viagem de ida e comprei os bilhetes de avião internos para os dias que sabia que queria mudar de local.
#2 Fiz a consulta do viajante e levei a vacinação necessária (p.s: não deixem para a última como eu).
#3 Usei o site Book Yoga Retreats para escolher os retiros de yoga, meditação, qi-gong. Fiz reservas para as últimas semanas para Lombok (Mana Yoga Retreat), Gili Air (H2O Yoga Meditation), Bingin (Homestay), porque sabia que ia estar completamente sozinha. Garanti que tinha aulas de yoga incluídas, pelo menos 1 refeição por dia e transporte assegurado dos aeroportos ou cais para o hotel/ quarto e que cumpria o meu budget pessoal. Óbvio que existem resorts e alojamentos muito mais requintados, mas não foi com esse mindset que fui e não me importei de ficar em quartos mistos de 6 pessoas.
#5 Não planei as duas primeiras semanas que estive nas Mentawais e deixei que o meu namorado organizasse essa parte. Nas Mentawais foi um “desatino” e sem dúvida a parte mais hilariante da viagem. Ficámos numa cabana, no meio da selva (com muitos animais selvagens e perigosos ao virar da esquina…), numa ilha deserta habitada por uma comunidade local. Fizemos as reservas antes, mas cuidado: muita coisa é negociada na hora e na Sumatra é preciso ter um olhar redobrado para aldrabices. Falarei desta experiência noutro post.
#6 Levei só o essencial numa mochila às costas. Levei uma mini-farmácia recomendada pelo profissional de saúde da consulta do viajante, 3 vestidos, biquínis & fatos de banhos, chinelos, 2 calções, 4 t-shirts, uns ténis mega confortáveis, produtos de higiene, carregadores, powerbanks, muitas toalhitas, (…) enfim, o essencial. Aqui não aguentei e fiz uma lista (risos)!
Porque escolheste esse(s) destino(s)?
Foi a minha segunda vez na Indonésia e não me canso daquele sítio. Nas duas primeiras semanas queria uma experiência muito diferente de todas as que já tive.
Para as duas primeiras semanas o destino de eleição foram as Mentawais, o destino de sonho de qualquer surfista. São um pequeno arquipélago tropical em pleno estado selvagem (literalmente), composto por quatro ilhas principais. Água cristalina, corais incríveis e garantem as melhores ondas para surfar. É habitada maioritariamente por indígenas, locais e claro toda a fauna e flora do BBC-vida-selvagem. Foi o sítio em que tive mais medo e todos os dias achava que era o meu último dia! Só havia net em determinado ponto da ilha a partir das 19h e cada minuto era pago a peso de outro (por momentos achei que ia ter de deixar um rim para dizer à minha família que estava viva).
Todas as manhãs acordava e pensava: “ok Cátia, não há aqui sinal de cobra, de animal selvagem ou de monstro papão! Estou inteira e viva, boa!”. Também tinha por hábito escrever há minha família logo pelas 6h00 da manhã, para que às 19h00 quando tivesse acesso à internet, não perdesse tempo a escrever mensagens ou a enviar mensagens de voz ou vídeos. Foram duas semanas muito difíceis para mim: no meio da selva, com acesso limitado a alimento e com muitas tempestades tropicais pelo meio que alteraram os ecossistemas e portanto os animais selvagens (perigosos) estavam ao virar da esquina. Pensei seriamente em desistir do resto da viagem sozinha, até porque estava cansada e amedrontada… mas superei uma série de medos e fui na mesma. Hoje olho para trás e digo que foi a “experiência da minha vida” e voltava (risos), muito mais preparada, não me punha a jeito tantas vezes e não ficava no meio da selva com os locais e indígenas.
As duas semanas seguintes, como ia estar sozinha: decidi optar por outro tipo de experiencia e ter retiros à séria em Lombok, Gili e Bingin (sendo que depois acabei por andar de mochila às costas pela Indonésia e visitar novamente Uluwatu, Padang-Padang, Impossibles, Single Fins e mais uns quantos sítios magníficos onde já tinha estado).
Muitos dos nossos leitores preocupam-se com o budget para viagens. Foi caro ter esta experiência?
A pergunta da praxe! (risos). A minha resposta é depende. Depende de quanto tens para gastar em viagens e de que forma queres priorizar as experiências da tua vida. Para mim, fez todo o sentido gastar o que gastei. Podes sempre gastar mais ou menos, dependendo dos luxos que queres ter.
Como disse no início, a minha expectativa não era ter umas férias requintadas mas sim, uma aprendizagem de luxo. Em transportes gastei aproximadamente 1.500€ no total (voos principais, voos internos, barco, moto, etc.). Para alojamento para 1 mês, aproximadamente 1200€ (cerca de 40€ por noite, incluído aulas de meditação, yoga, cozinha vegan e qi-gong). No total devo ter gasto aproximadamente 3500€ (contando com vacinas, medicamentos, etc.).
Se podes fazer viagens mais baratas? Claro que sim.
Se podes regatear/negociar/etc.? Óbvio! Eu também o fiz.
Se podes ter acesso à internet num retiro? Depende: se fizer sentido para ti, força.
Se precisas de ir para tão longe para fazer um retiro? Claro que não: “o retiro” começa dentro de ti.
Para alguém que tenha medo de ir. Que conselho darias?
Vai! O medo é uma crença TUA, não deixes que te LIMITE. O Mundo é uma reflexão do que se passa dentro de nós, aproveita essa viagem maravilhosa (e não estou a falar daquela em que tens de apanhar um avião).