Going Global: uma dedicatória a uma semana de intercâmbio na Bretanha

A Carlota arriscou e deu um passo lá fora. Foi para um país novo, com gente nova e garante que veio de lá mudada.

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Quero escrever uma dedicatória a esta semana que passou, sem dúvida uma das semanas mais transformadoras da minha vida, mas nem faço ideia de como começar. Por onde fazê-lo? Pelas primeiras impressões que tive desta aventura gigantesca, que testou a minha coragem, determinação e à vontade? Pelos contactos marcantes que travei com tantas pessoas diferentes, que me inspiraram, ensinaram, ajudaram e tanto partilharam comigo? Pelas experiências novas, como as noites na praia, as cervejas belgas, as descobertas de novas culturas, os trabalhos de grupo e as refeições animadas? Por todas as lágrimas que derramei quando chegou o fim, pela vontade avassaladora que senti de virar as costas ao aeroporto e regressar a correr para começar uma nova semana assim? Ou, talvez, pelos vislumbres que tive de quem posso ser, da vida que posso ter e dos percursos que posso percorrer… se tiver a coragem de me pôr a caminho!

Esta semana não me ensinou, só, muitas coisas sobre outras pessoas e outras culturas. Ensinou-me também muito sobre quem eu própria sou, sobre a minha identidade, os meus desejos e ambições e sobre a vida que quero ter. Há algumas semanas atrás, escrevi um texto (A gaiola) em que disse que, “se não dermos um passo em frente, nunca sairemos do mesmo sítio. Se não dermos um passo para fora, nunca veremos o que há para lá das fronteiras. É fácil permanecer no mesmo lugar de sempre; é confortável, é tranquilizador”. E também é uma pena, porque pode impedir-nos de alcançar os nossos sonhos e os nossos objectivos. E depois desta semana, estas palavras parecem-me mais reais e acertadas do que nunca. Esta semana, eu arrisquei e “dei um passo lá para fora”: viajei para uma região desconhecida (e eu que tenho tanto medo de andar de avião!), independente e autónoma, decidida a participar num projecto sobre o qual pouco sabia e que implicaria interagir e envolver-me com mais de trinta participantes de outros países. Para quem me conhece bem, incluindo para mim mesma, não poderia imaginar-me a fazer algo do género há uns poucos anos atrás. Mas agora que o fiz, sinto que, mais uma vez, segui o meu coração e não podia ter feito uma escolha melhor. Estou no meu caminho.

Foi tanto aquilo que aprendi durante estes curtos seis dias – curtos, mas tão plenos e intensos! – que creio ser impossível descrever tudo num único texto. Contudo, se tivesse de resumir as principais lições que trouxe de volta na minha bagagem, acho que a primeira seria definitivamente esta: “Abre o teu coração aos outros e às oportunidades que o mundo te oferece. Não tenhas medo, porque no fundo valerá sempre a pena”. E não valeu? Esta semana mostrou-me que existem muito mais pessoas por essa Terra fora que desejam o bem uns aos outros, que querem trabalhar juntos por um mundo melhor e que sonham com um futuro mais solidário e mais unido. Depois, diria sem dúvida que: “Somos todos cidadãos do Mundo; por mais diferenças que nos separem, será sempre mais aquilo que nos une. Seis dias não são suficientes para aprender tudo o que há a saber sobre onze países e culturas distintos; mas é suficiente para compreender que, por mais diferentes que sejamos, também somos todos parecidos. Ali, em particular, naquela maravilhosa cidade de Saint-Malo, no norte da Bretanha, todos partilhávamos os mesmos interesses e preocupações, mesmo vindo de áreas muito diferentes. Todos estávamos empenhados em trabalhar, mesmo que as nossas vidas fossem diferentes e as nossas capacidades também.

Em terceiro lugar, diria que: “O mundo oferece-nos experiências que nos fazem repensar toda a nossa vida, tudo o que julgamos saber e querer sobre nós e os outros. Aproveita essas experiências: aprende com elas e, sobretudo, faz algo delas”. Não é suficiente ter uma semana absolutamente transformadora se não puser essas transformações em prática. É fácil passar os primeiros dias que se seguem a pensar que se está totalmente determinado e decidido a mudar a vida e a forma de ser. Quando o tempo começa a passar, o desafio pode tornar-se mais difícil porque a rotina e os hábitos regressam e instalam-se confortavelmente no nosso dia-a-dia. Mas não podemos deixar que eles nos impeçam de fazer as mudanças necessárias, as mudanças que podem aproximar-nos cada vez mais da realização dos nossos sonhos. E, falando por mim, espero ter ganho com esta semana – depois de vislumbrar tudo aquilo que posso alcançar – a ousadia e a sensatez para mudar aquilo que tem de ser mudado… e deixar ir aquilo que não muda.

Finalmente, não poderia deixar de interiorizar esta lição: “Não tenhas medo de ser quem és; assume a tua identidade sem receios, porque haverá sempre alguém que te aceitará tal como és… desde que procures no sítio certo!” Esta semana também me fez pensar muito no conceito de “identidade”. De todas aquelas trinta e sete pessoas, muitas eram uma amálgama colorida e caótica de origens diferentes; e não havia medo entre nós de assumir essa intersecção de culturas, passados ou ascendências, porque éramos todos mais ou menos parecidos – mesmo com as nossas diferenças. Foi a primeira vez que senti verdadeiramente a belga que há em mim, sobretudo quando me perguntaram se alguma vez tinha sofrido na escola por ter uma aparência física bastante mais clara do que os outros portugueses. Curiosamente, a resposta é afirmativa e já várias vezes me senti desconfortável por ter o físico que tenho. Mas, hoje, reconheço que ele é metade de quem sou, metade da minha identidade, e não tenho medo de o assumir.

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O que fica no fim? Esta semana foi um misto de emoções e experiências: de alegria e entusiasmo, de paixão, diversão e risos, de lágrimas e tristeza, de partilha e aprendizagem, de independência e auto-compreensão. Agora que acabou, só posso sonhar com mais. Agora que acabou, só posso sentir-me grata para com as pessoas que conheci, tanto outros participantes quanto os organizadores. Só posso sentir-me grata para com a cidade que me acolheu durante estes seis dias, em toda a sua beleza e imponência. Só posso sentir-me grata para com a organização “Akto – Direitos Humanos e Democracia”, por me ter oferecido esta oportunidade… muito grata, pois caso não me tivesse posto naquele avião para França, não regressaria com a bagagem tão mais cheia do que quando parti! Dizem que o Mundo nos oferece experiências que nos obrigam a repensar toda a nossa vida… E eu sei que, aqui bem dentro de mim, nunca me vou esquecer daquilo que esta semana foi: uma pequena semente plantada no meu espírito, à espera de desabrochar.

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