2019, o ano de trocar o certo pelo incerto.
Ao fazer 25 anos apercebi-me que não estava a viver os meus sonhos, que já estava conformada com as rotinas e que a minha motivação era inexistente. Apercebi-me que tudo o que tinha imaginado para mim não tinha passado disso, de imaginação. Estava tão habituada ao meu dia-a-dia, que já funcionava em piloto automático. Não me podia conformar com tão pouco.
Decidi largar essas rotinas, despedir-me do meu emprego onde estava efectiva e onde tinha um salário garantido ao final de cada mês. Disse até já à minha família e amigos, comprei um bilhete de ida e vim para Timor-Leste realizar um sonho que tinha ficado perdido como tantos outros, fazer voluntariado internacional.
Troquei o frio do inverno pelo calor e humidade extrema, troquei a netflix por vários livros, troquei o meu carro pela microlet (mini bus público sem ar condicionado mas, em contra partida, com música) e pelas boleias, troquei a complexidade pela simplicidade, e troquei uma conta bancária por um coração cheio.
Estou aqui há dois meses e já estou rendida a este povo. Durante anos, Timor, a Ilha das Trevas, foi o palco do terror e do massacre e, mesmo assim, eles têm um constante sorriso no rosto. Com eles aprendi a ver a felicidade nas pequenas coisas e a dar valor ao que tenho. Aprendi a enfrentar os problemas sempre com um sorriso e a ver esses problemas como desafios e lições. Tenho uma sorte enorme por conviver com este povo que todos os dias me torna numa pessoa mais realizada.
Aqui, na Ilha do Crocodilo, o pouco que se tem é motivo de orgulho e felicidade. De onde eu venho, queremos sempre mais e não sabemos estar satisfeitos.
Aqui, neste paraíso perdido, sabe-se saborear cada momento e dar valor à família e aos amigos. Sabe-se ajudar e, mais importante ainda, sabe-se agradecer. De onde eu venho, vivemos tão focados no trabalho e a fazer o que a sociedade considera aceitável, que nos esquecemos de viver. Estamos lá apenas a respirar, a ver a vida passar diante de nós. A ser figurantes do nosso próprio filme.
Nesta pequena ilha, apesar de ser Malae (estrangeira) sinto-me em casa. Tenho a certeza que quando esta experiência acabar (que ainda não sei quando vai ser ao certo) vou voltar à minha cidade a transbordar de alegria, feliz por ter decidido arriscar, por ter quebrado com a rotina, grata com este povo e, acima de tudo, com a garantia que um dia vou voltar a este paraíso.