A guerra dos Coxinhas e Petralhas

nº 005 | 23/04 | 2016

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Diogo Pereirapor Diogo Pereira
diogopereira@w360.pt
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nº 005 | 23/04 | 2016

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A vida está muito complicada para os lados de Dilma Rousseff que no passado domingo viu ser aprovado o avanço do processo de impeachment para o senado brasileiro. O ambiente acalorado, com muitas emoções inflamadas, cartazes, bandeiras, confetes, gritaria, aplausos e apupos foi o palco da abertura de um processo histórico que está a dividir o Brasil.

Em nome de “Deus”, dos “filhos”, das “esposas” e dos “brasileiros”, foram os argumentos mais utilizados pelos “golpistas”, como lhe chamam os “Petralhas”. Mas o argumento mais amplamente difundifo foi o da deputada Raquel Muniz que dedicou o seu voto favorável ao impeachment ao Prefeito de Montes Claros. Segundo esta deputada do PSD o seu voto justificava-se porque “o Brasil tem jeito (…) e o Prefeito de Montes Claros mostra isso com a sua gestão.” Ora, a luz inspiradora de Raquel Muniz é seu marido e foi detido no dia seguinte a tão honrosa referência, por suspeitas de corrupção.

Depois dos 365 votos a favor do processo de destituição da presidente (mais 23 do que o mínimo necessário) o processo segue agora para o senado brasileiro que Dilma também não controla, ou seja, a probabilidade de perder o lugar no Palácio do Planalto é muito elevada. A BBC Brasil explica como vai andar o processo daqui em diante.

A semana não acabou, no entanto, sem Dilma lamentar a crise que se vive no Brasil ao mais alto nível internacional: num discurso nas Nações Unidas.

O senhor que se segue, caso Dilma seja destituída, chama-se Michel Temer. O vice de Dilma já se estará a preparar para agarrar o leme do Brasil uma vez que poucos minutos depois da confirmação dos votos necessários para o processo avançar começou a reunir apoiantes no Palácio de Jabururu, a sua residência oficial. Mas, ao que a Folha de São Paulo apurou através de uma sondagem junto de manifestantes “pró” e “anti” Dilma, Temer não tem uma aceitação plena entre os brasileiros e os jornalistas cariocas também não acreditam que Temer possa ficar muito tempo no poder.

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O outro ator desta história é Lula, mas não consegue entrar em cena uma vez que a justiça não o deixa: o antigo presidente ainda não tomou posse como ministro porque o Supremo Tribunal Federal resolveu adiar a decisão sobre a legalidade da sua nomeação. O magistrado Teori Zavarcki sugeriu que todas as ações em que Lula está envolvido devem ser analisadas em conjunto.

E se no Brasil muitos querem correr com a presidente da cadeira do poder, aqui em Espanha não há quem queira subir ao trono e dizer ao Rei: – Eu governo! Ou melhor, até há quem queira, mas não tem condições para tal.

O PP venceu as eleições e parece irredutível em chegar ao governo, mas a aliança desejada por Rajoy com o PSOE não encontrou resposta. O Cidadãos conseguiu um acordo improvável com o PSOE, mas ainda não chegou ao ponto de afinar pelo mesmo diapasão os líderes dos principais partidos espanhóis. Já o Podemos parece querer ser a o problema de todas as negociações.

O problema adensa-se quando percebemos que já passaram quatro meses desde as eleições e faltam poucos dias para que novas devam ser convocadas. O dia dois de maio é o limite imposto pela constituição, mas de acordo com as sondagens, pouco ou nada mudará em Espanha.

Ainda em Espanha, mesmo antes de se resolver o problema da administração central, Carles Puigdemont, presidente da Generalitat da Catalunha mostrou-se disponível para negociar um referendo à independência daquela região de Espanha. Rajoy recusou mais uma vez, sustentado na lei.

A crise dos refugiados é mais um dos temas que continua a dominar a agenda europeia. O início desta semana ficou marcado por mais um naufrágio, desta vez “uma das piores tragédias dos últimos 12 meses”, segundo lamenta a ONU. Terão sido pelo menos 500 somalis, etíopes e eritreus a morrer ao largo do Egito. Viajavam para Itália em pelo menos 4 embarcações.

Antes mesmo de ser conhecida mais uma tragédia no “grande cemitério” que é o Mediterrâneo, o Papa visitou a ilha de Lesbos mantendo esta como uma das suas principais preocupações. Francisco fez mais e levou consigo para o Vaticano 12 refugiados sírios que, quase garantidamente, seriam deportados para a Turquia ao abrigo do acordo celebrado entre aquele país e a União Europeia.

No Equador um sismo de magnitude 7.8 na escala de Richter provocou a morte a mais de 400 pessoas. As réplicas foram-se sucedendo ao longo da semana e ainda haverá muitos desaparecidos nos escombros. O El País explica as “chaves” desta catástrofe natural.

Passando o Canal da Mancha o ambiente é de festa. A Rainha completou 90 anos, é a mais antiga monarca no trono e só o príncipe Carlos parece estar descontente com a dificuldade em chegar à coroa uma vez que Isabel II já disse que não abdica.

Também os republicanos do Reino Unido já vieram fazer soar a sua vontade de mudar o regime: “antes de a rainha morrer é preciso um referendo”. Mas antes de se confirmar um referendo à monarquia (que não parece estar na agenda dos britânicos) continua a caminhada que culminará na saída, ou permanência, de terras de sua majestade da União Europeia. Obama esteve em Londres fez campanha pelo “sim” e avisou que se o Reino Unido abandonar a UE “vai para o fim da fila”.

Para Londres Obama voou partindo de Riade onde foi recebido “friamente”Talvez os árabes não gostem das recém-criadas aproximações ao Irão.

De Cuba chegam notícias do congresso anual do Partido Comunista que dão conta de mais uma rara aparição de Fidel Castro. O líder histórico está em período de balanço, fala da sua morte que em breve chegará “como a todos os outros”, e pede aos cubanos que não abdiquem de lutar pelas “ideias dos comunistas”. Se o discurso de despedida pode ter sido, em si mesmo, uma surpresa, nada surpreendente foi a reeleição do seu irmão, Raúl Castro, como líder do Partido Comunista Cubano.

Na China um técnico de computadores foi condenado à morte por revelar mais de 150 mil documentos a uma potência estrangeira não identificada. No dia seguinte a esta informação ser conhecida, o estado chinês decidiu extinguir o Business 20, um dos braços institucionais do G20 que trabalhava na luta anti-corrupção.

Uma explosão num autocarro vazio de Jerusalém fez 21 feridos. O sucedido, que as autoridades já identificaram como atentado terrorista perpetrado pelo Hamas, aconteceu no mesmo local onde já tinha sido feito explodir um autocarro causando a morte a 19 pessoas. O autor do ataque terá sido a única vítima mortal e foi identificado pela autoridade israelitas.

Também em Cabul soaram os alarmes do terrorismo. Depois de os Talibã anunciarem o começo da “ofensiva de primavera”, prometendo ataques de larga escala a posições inimigas no país, na terça-feira um ataque suicida fez pelo menos 28 mortos. O alvo foi o edifício de uma agência de segurança do país.

Olhando agora para África, a luta pela libertação de Cabinda parece ter renascido. A Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) anunciou, no início desta semana, ter provocado a morte a 47 soldados das forças armadas de Angola.

A alta tensão que se vive entre a Rússia e a Nato – a fazer lembrar os tempos idos da Guerra Fria – parecem ter acalmado. As duas potências militares voltaram a sentar-se à mesa das negociações depois de quase dois anos sem diálogo. É preciso voltar a pôr em cima da mesa o tema do Afganistão, mas acima de tudo o conflito (não assumido pelos Russos) entre a Rússia e a Ucrânia que, na realidade, foi a pedra na engrenagem destas reuniões bilaterais que decorrem desde 2002.

Continua a corrida à Casa Branca nos Estados Unidos. Em mais uma terça feira de votações para as nomeações dos partidos Republicano e Democrata, Clinton e Trump levaram a melhor sobre os seus adversários num dos principais estados do país, Nova Iorque. Desta forma dilatam a vantagem na corrida presidencial e mostram que já não há muitas probabilidades para que a antiga primeira dama e o empresário do imobiliário se defrontarem pelo cargo de presidente dos Estados Unidos da América.

 

Antes de me despedir sugiro-lhe dois links sobre a Coreia do Norte. No primeiro, do El País, é contada a história dos meninos e meninas de bem que têm autorização para sair e trabalhar fora do mais fechado país do mundo. No segundo, Elliot, um australiano, mostra a realidade de milhares de norte coreanos que todos os dias usam o metro da capital, Pyongyang. Conseguem adivinhar de que cor é a linha principal? Vermelha, pois claro!

 

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FRASES

“Considero-me injustiçada. Este processo não tem base de sustentação.”

Dilma Rousseff, presidente do Brasil, menos de um dia depois de ver o processo de impeachment subir ao senado.

“O meu voto é para dizer que o Brasil tem jeito e o Perfeito de Montes Claros mostra isso com a sua gestão.”

Raquel Muniz, deputada brasileira do PSD na declaração de voto positivo ao impeachment. O Perfeito de Montes Claros é seu marido e foi detido no dia seguinte à votação por suspeitas de corrupção.

“Disse a Puigdemont que a minha obrigação é fazer cumprir a lei e que sem lei não há democracia.”

Mariano Rajoy, primeiro-ministro espanhol, em resposta ao pedido de Carles Puigdemont, presidente da Generalitat da Catalunha, para negociar a criação de um referendo sobre a independência da Catalunha.

“Em breve farei 90 anos, nunca me tinha ocorrido tal ideia e nunca foi fruto de esforço, foi um capricho da sorte. Em breve serei como todos os outros”

Fidel Castro, num discurso proferido no congresso do Partido Comunista Cubano, onde fala abertamente da sua morte a poucos meses de completar 90 anos.

“Se abrimos a possibilidade de os indivíduos e os Estados Unidos poderem começar a processar rotineiramente outros governos, então também tornamos mais fácil a possibilidade de os Estados Unidos serem continuamente processados por pessoas de outros países”

Barack Obama, numa entrevista à CBS, depois de prometer vetar uma lei que permitira a familiares de vítimas de terrorismo processar estados como a Arábia Saudita que alegadamente financiam grupos extremistas.

NÚMERO

96.000

De acordo com dados do Eurostat este foi o número de menores que chegaram sozinhos à Europa e pediram asilo. Estes dados dizem respeito ao ano de 2015 e representam um aumento quatro vezes superior face a 2014.

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