O traje que uns mandam pôr e outros mandam tirar

Nº015

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Diogo Pereirapor Diogo Pereira
diogopereira@w360.pt
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nº 015


FRASES

“Podemos confirmar que a Turquia pediu a extradição de Gülen”,

Mark Toner, porta-voz da Casa Branca, confirmando que a Turquia pediu a extradição do Clérigo turco Fethullah Gülen, no entanto (e sem adiantar os verdadeiros motivos) garantiu que este pedido não está relacionado com o golpe de estado falhado do qual Gülen é acusado de ser o autor por Erdogan.

“Temos de alcançar acordos semelhantes com outros países, como no norte de África, para determos maior controlo sobre as rotas marítimas de refugiados no Mediterrâneo”

Angela Merkel, chanceler alemã a defender o estabelecimento de acordos semelhantes ao firmado com a Turquia para troca de refugiados por dinheiro, com outros países do norte de África.

“Hoje chegámos à meta”

Juan Manuel Santos, Presidente da Colômbia, ao anunciar o acordo de paz firmado com as FARC

“A decisão de excluir os nossos atletas paralímpicos é desprovida de qualquer justiça, moralidade e humanidade”

Vladimir Putin, Presidente da Rússia em reação ao afastamento da delegação russa dos Jogos Paralímpicos.

“Os decretos impugnados constituem um atentado grave e claramente ilegal contra liberdades fundamentais como a liberdade de circulação, liberdade de consciência e liberdade individual”

Conselho de Estado Francês no despacho em que anula as proibições municipais ao uso do ‘burkini’.

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Bom dia, seja bem vindo a mais uma Newsletter semanal do W360.PT.

Começamos com notícias que nos chegam da África do Sul.

Quase um mês depois eis que surgem os resultados oficiais das eleições municipais. Não foram famosos para o histórico Partido do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla original) que, embora não tenha perdido em toda a linha, viu fugir-lhe o controlo das cidades mais importantes do país. Deixou de governar em Joanesburgo, Pretória e Cidade do Cabo que foram ganhas pelo DA, um partido anteriormente conotado com a minoria branca (a população branca representa apenas 7% da população do país), mas que soube capitalizar o descontentamento sobretudo da população mais jovem.

O desemprego elevado (26,7%; 48% na classe jovem) e os sucessivos escândalos de corrupção a envolverem o governo e mais concretamente o presidente Jacob Zuma podem ser os fatores que explicam este resultado que afasta do poder o histórico partido de Nélson Mandela que lutou contra o apartheid e que controlava aquele país africano há 22 anos.

Deixando o sul do continente africano e passando para o sul do continente americano não podemos deixar de ressalvar o acordo entre o governo colombiano e as FARC que embora ainda precise de ser mais detalhado e careça de aprovação em referendo que se realizará em outubro, este é sem dúvida um momento histórico que põe fim a uma guerra civil de 52 anos e mais de 220 mil mortos.

Ainda na América do Sul, olhemos agora para a Bolívia: o vice-ministro do Interior da Bolívia foi morto às mãos de mineiros que protestavam por melhores condições de trabalho. Rodolfo Illanes deslocou-se ao local dos protestos para negociar com os trabalhadores, mas acabou por ser sequestrado e consequentemente torturado e espancado até à morte. Já foram detidos mais de 100 suspeitos de envolvimento no caso.

No Brasil prossegue o julgamento de Dilma e Lula já foi indiciado formalmente por corrupção. O antigo presidente ainda não tinha sido acusado e na base deste novo desenvolvimento está o famoso triplex em Guarujá.

A relação da Europa com o islão nunca foi bem resolvida e os acontecimentos dos últimos dias demostram isso mesmo: em primeiro lugar várias regiões costeiras de França proibiram o uso do ‘burkini’ (fato de banho que tapa o corpo da mulher por completo, à semelhança da burca); seguiram-se notícias de aplicação de multas às mulheres que insistiram em usa-lo; vimos ainda um grupo de polícias fortemente armados a exigirem a uma mulher que retirasse o traje que tinha vestido; e a semana acabou com a mais alta instituição de justiça francesa – o Conselho de Estado – a anular todas as proibições que haviam sido feitas por considerar que iam contra a liberdade de circulação, liberdade de consciência e liberdade individual.

A crise dos refugiados parece não ver luz ao fundo do túnel, mas a semana que passou viu uma sugestão de Merkel que parece tentar antecipar o possível roer de corda da Turquia. Erdogan já veio ameaçar com o romper do acordo celebrado em março com a UE que troca refugiados por dinheiro. Se isto acontecer a União fica com um problema para o qual Merkel já parece ter solução: assinar acordos com outros países do norte de África. A chanceler alemã diz que estes acordos são bons para todas as partes. Por um lado os países europeus ficam mais aliviados por não receberem tantos refugiados, por outro lado os refugiados conseguem um melhor integração nestes países porque partilham costumes e, mais importante, a língua.

A semana na Alemanha ficou ainda marcada pelo controverso pedido do governo para que as populações armazenassem água e alimentos para se conseguirem manter durante pelo menos dez dias. Este pedido foi amplamente criticado pela oposição alemã que acusa o governo de alarme social, mas o ministro do interior Thomas de Maiziere disse que o país deve estar preparado para a eventualidade de as reservas alimentares e de água do país poderem vir a ser envenenadas. Este é um novo conceito de proteção civil apresentado pelo governo de Angela Merkel, que prevê ainda a possibilidade de o serviço militar voltar a ser obrigatório, seis anos depois de se ter tornado facultativo.

Dos Estados Unidos não nos chegam grandes novidades. Nigel Farage apresentou-se para apoiar Trump, e soube-se que Hillary Clinton tem mais hipoteses de ganhar do que o magnata de cabelo laranja.

Mas se dos Estados Unidos não nos chegam novidades, talvez seja porque o vice-presidente Joe Biden veio até à Turquia para se encontrar com o presidente Erdogan dois dias depois de ser formalizado o pedido de extradição de Fethullah Gülen. Mas já lá vamos.

Joe Biden veio para dizer que os EUA não tinham qualquer tipo de suspeitas sobre o golpe de estado falhado de julho e fez ainda o que ninguém dos EUA tinha feito: repudiou o golpe. O vice de Obama apoiou ainda a ofensiva turca no norte da Síria. Sim, a Turquia invadiu a Síria pela fronteira norte do seu país, essencialmente para combater os curdos que estavam a ganhar terreno, mas também para enfraquecer o Estado Islâmico.

Ora o que Biden apoia é o enfraquecimento do Daesh, já a parte que diz respeito aos curdos fica menos clara, assim como não é claro que a extradição de Gülen seja aceite porque a administração americana ainda não recebeu provas do envolvimento do clérigo turco no golpe contra o regime de Erdogan. Não estão fáceis de manter estes laços entre turcos e americanos.

“Cocks Not Glocks”. Não, não é um daqueles títulos só para chamar a atenção. É inclusivamente o título de uma notícia do vetusto The Guardian, e é também (por isso é que é notícia) o nome de uma campanha recentemente criada por jovens texanos que querem chamar a atenção para o perigo da medida que autoriza o porte de armas em universidades públicas. O conceito? É simples, levar dildos pendurados nas mochilas ou nas mãos para a universidade. Veja aqui.

Agora que já o deixei de sorriso nos lábios, posso despedir-me sem dizer que só dei más notícias. Até para a semana.

ROSTO

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Manuel Valls. O primeiro-ministro francês apoiou no início da semana as proibições do uso do ‘burkini’ levadas a cabo por autarquias francesas, mas viu o Conselho de Estado do país anular essas proibições com argumentos relacionados com direitos humanos básicos.

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NÚMEROS

2901

É o número de pessoas que morreram enquanto tentavam passar o mediterrâneo para se refugiarem na Europa durante os primeiros seis meses de 2016. Os dados são da Organização Internacional para a Análise de Dados da Migração Global e configuram um aumento de 37% face ao mesmo período de 2015.

52

Número de anos que durou a guerra civil na Bolívia que agora termina e fez mais de 220 mil mortos

IMPERDÍVEIS

Nos imperdíveis desta semana vamos olhar para os Jogos Olímpicos e perceber o que diz uma medalha de um país, num artigo do El Espanhol. Olhamos ainda para a página de The New Yorker para começar-mos a puxar a ponta do novelo no que às mortes de crianças diz respeito em Alepo. Omran Daqneesh não é caso único. Antes de terminar vamos ainda perceber porque é que um gesto pode colocar em risco a vida de um herói olímpico.

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