Os rostos do ano

Nº25

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Bom dia, sejam bem vindos a mais uma Newsletter do W360.PT.

O número desta semana é especial porque chegando o ano ao fim decidi fazer uma retrospetiva para perceber quais foram os acontecimentos que se destacaram em 2016. Mas falar em política e questões internacionais é sempre falar de rostos, pessoas que assumem as responsabilidades dos seus atos ou simplesmente pessoas que são os acontecimentos.

Desde o Brexit, passando pela eleição de Donald Trump e pela guerra na Síria e pela ascensão dos populismos um pouco por toda a Europa, 2016 não nos deixa tranquilos face ao que aí vem. De todos se diz que são de transição, mas em 2016 começou, de facto, uma nova época imensurável. Mas antes de chegarmos a 2017 vamos ver o que se passou em 2016 porque – aqui fica mais um lugar comum tão típico destas épocas – é com os erros que aprendemos.

 

Donald Trump
Presidente eleito dos EUA
É sem dúvida a personalidade do ano. O magnata do imobiliário deu a volta a todas as probabilidades, sondagens e opiniões e venceu mesmo as eleições americanas tornando-se o 45º presidente de uma das mais relevantes potências a nível mundial. | foto: Gage Skidmore


Alton Sterling
Este é um dos rostos dos que morreram nos Estados Unidos durante o último ano de mandato do primeiro presidente negro. É inegável que o racismo nunca desapareceu da América, mas em 2016 foi particularmente evidente com sucessivas mortes. O racismo foi uma das bandeiras mais visíveis da campanha de Trump. Haverá relação?

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Nigel Farage
Antigo líder do UKIP
O que faz um líder quando perde um referendo? Demite-se, como fez Cameron. E quando ganha? Demite-se também. Nigel Farage é o incendiário do ano. Foi um dos principais apoiantes do Brexit através do seu Partido da Independência do Reino Unido. Quando conheceu os resultados celebrou com champanhe e confetis e demitiu-se. Agora que a casa está em chamas, chamem os bombeiros. | foto: Euro Realist Newsletter

Theresa May
Primeira-ministra do Reino Unido
É a nova primeira-ministra do Reino Unido, tendo vencido as eleições do partido conservador depois de Cameron deixar o lugar vago. Vai ser a responsável pela retirada do Reino Unido da União Europeia mesmo depois de, discretamente, ter feito campanha pela permanência. | foto: Policy Exchange

David Cameron
Antigo primeiro-ministro do Reino Unido
Olhou para o referendo à permanência na União Europeia como um referendo à sua própria atuação. O resultado não foi o que ele queria e acabou por abandonar o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido. | foto: Moritz Hager

Matteo Renzi
Primeiro-ministro demissionário de Itália
O agora demissionário primeiro-ministro italiano era uma das grandes referências da esquerda europeia, mas tentou dar um passo maior que a perna quando referendou uma alteração constitucional. Perdeu o referendo e perdeu o lugar. | foto: Francesco Pierantoni

 

Barack Obama
Presidente dos EUA
Este foi um ano excecional sob o ponto de vista da política externa americana. Obama, em fim de mandato, reatou as relações com Cuba pondo fim a um conflito que durava há mais de 50 anos. Em 2016 foi possível ver um avião americano aterrar em Havana e terá começado o fim do embargo (a ver vamos que caminho dá Trump a esta relação). Obama esteve ainda envolvido no sucesso que foi a assinatura de Acordo de Paris que compromete os países mais poluidores do mundo (incluindo a China) a reduzirem as emissões de CO2. Esta notícia é particularmente importante quando verificamos que 2016 foi o ano mais quente de sempre. | foto: Pete Souza


Angela Merkel
Chanceler alemã
A chanceler alemã não desistiu da política de acolhimento de refugiados mesmo depois de ver as linhas da popularidade dos xenófobos anti-imigração da Alternativa para a Alemanha subir e a dos partidos que suportam o seu governo (SPD e CDU) descerem. | foto: Ralf Roletschek

Durão Barroso
Administrador não-executivo da Goldman Sachs Internacional
Foi um dos portugueses que voou mais alto nos últimos anos, tão alto que acabou nos gabinetes de topo de uma das financeiras mais controversas do mundo, a Goldman Sachs. Ficou com um salário chorudo e com o estatuto de antigo presidente da Comissão Europeia congelado. Agora, quando fôr a Bruxelas, Barroso será visto como um lobista. | foto: European University Institute

Mario Draghi
Presidente do Banco Central Europeu
O presidente do Banco Central Europeu deu uma grande ajuda aos países endividados da União Europeia quando decidiu que a instituição que dirige lhes ia comprar dívida. A medida trouxe melhorias, mas muito tímidas, sendo mais claras as perdas: o euro desvalorizou face ao dólar e não há garantias de que o BCE tenha capacidade para continuar com estes estímulos durante muito mais tempo. | foto: World Economic Forum

Manuel Valls
Primeiro-ministro de França
No verão de 2016 um dos temas quentes foi a proibição da utilização do Burkini em alguns municípios balneares de França. O primeiro-ministro francês não é o autor da ideia e até se recusou a replicá-la para a lei nacional, no entanto cedo veio a público defendê-la. Mais tarde viu o Conselho de Estado do país anular essas proibições com argumentos de violação de direitos humanos básicos. | foto: Valeriano Di Domenico

Pedro Sanchéz
Antigo líder do Partido Socialista Operário Espanhol
O antigo líder do PSOE espanhol queria a toda a força ser primeiro ministro, mas não conseguiu. Espanha esteve dez meses sem governo porque o líder socialista não foi capaz de chegar a um acordo com os parceiros da esquerda, mas também se recusou a viabilizar um governo do conservador Mariano Rajoy. Como consequência Sanchez foi obrigado a demitir-se do cargo. | foto: Emiliano García

Rodrigo Duterte
Presidente das Filipinas
Foi eleito em meados de 2016 16º presidente das Filipinas. Cedo se destacou ao pedir ao povo do seu país que mate todo e qualquer suspeito de tráfico de droga. Na campanha que lançou contra o tráfico assumiu que, ele próprio, havia matado traficantes quando era autarca. Já no fim do ano assumiu que atirou um funcionário público de um helicóptero em andamento porque era suspeito de corrupção. Porque assumiu Duterte este ato? Para garantir que não tem qualquer problema em voltar a fazê-lo se for necessário. | foto: Presidential Communications Operations Office


Omran Daqneesh
Sírio
A guerra da Síria tem vários rostos, mas nem todos chegam até nós. Omran Daqneesh surge ferido no banco de uma ambulância depois da casa onde vivia ter sido bombardeada. O irmão mais velho acabaria por morrer uns dias depois no hospital. A guerra na Síria dura há cinco anos e Alepo é uma das cidades mais disputadas. Sobram os escombros e os corpos daqueles que não conseguiram fugir.

Recep Tayyip Erdogan
Presidente da Turquia
A Turquia viveu um ano conturbado. No verão um golpe de estado quase tirou ao presidente a liderança do país e serviu de pretexto para que nos meses seguintes Erdogan levasse a cabo dezenas de milhares de detenções de alegados envolvidos no golpe falhado. Erdogan decidiu virar-se para a Rússia e é um dos principais parceiros da potência de Putin na guerra síria. Esta viragem levou ainda a um arrefecimento das relações com a União Europeia, estando em causa a integração da Turquia no bloco (depois de Erdogan ter posto em cima da mesa a reintrodução da pena de morte no país) e a manutenção do acordo que troca refugiados por dinheiro. | foto: kremlin.ru

Andrei Karlov
Embaixador russo na Turquia
O embaixador russo na Turquia morreu em 2016 vítima de um atentado levado a cabo por um polícia turco fora de serviço. O acontecimento que poderia ter afetado as relações entre os dois países serviu apenas para reforçar laços. “É uma provocação destinada a pôr fim à normalização das relações russo-turcas e atacar o processo de paz na Síria”, disse Putin. | foto: kremlin.ru

Vladimir Putin
Presidente da Rússia 
O Presidente Russo parece ver o mundo girar na sua direção. Mantém o controlo na guerra da Síria apoiando o ditador Bashar Al Assad e vê a Europa desmantelar-se aos poucos e a ceder ao populismo: quer seja no Brexit, na balbúrdia que tem sido o acolhimento de refugiados ou nos atentados terroristas que já começam a ser vistos como normais. Para terminar o ano em grande viu os seus esforços darem resultados e Trump é o novo presidente dos Estados Unidos. | foto: kremlin.ru

Viktor Órban
Primeiro-ministro da Hungria
O primeiro-ministro da Hungria é o principal opositor à política de receção de refugiados por parte da União Europeia. Já construiu uma cerca altamente vigiada na fronteira com a Sérvia e está a tentar mudar a constituição do seu país com o objetivo de garantir que não poderá ser obrigado pela UE a receber refugiados. Órban é também o principal rosto das novas forças políticas conservadoras, altamente xenófobas e populistas que estão a ganhar terreno na Europa. Olhar para as suas políticas faz-nos pensar que em 2017 há eleições na Alemanha, França, Holanda e Itália, onde os amigos de Órban estão muito bem posicionados para vencer. | foto: Európa Pont

Dilma Rousseff
Antiga presidente do Brasil
Começou o ano como presidente do Brasil, mas agora já não está no cargo. A “afilhada” política do histórico presidente Lula viu-se envolvida num processo de destituição ao qual chamou golpe de estado durante todo o tempo. | foto: Antonio Cruz


António Guterres
Secretário-geral eleito das Nações Unidas
Este não é só o nome do novo secretário-geral das Nações Unidas, é o rosto de uma forma mais transparente de escolher os líderes de uma das instituições mais relevantes a nível mundial. Guterres conseguiu um feito ainda mais relevante quando conseguiu que o seu nome fosse consensual no meio de um conselho de segurança profundamente dividido. A candidatura à última hora da candidata Kristalina Giorgieva serviu para Portugal ver quem são os seus aliados e para se perceber qual a influência da Alemanha a nível global: nenhuma! | foto: Eric Bridiers

Raúl Castro
Presidente de Cuba
É o presidente de um dos países com melhores índices de saúde e educação, mas também dos mais pobres e fechados do mundo. É um ditador porque controla e oprime o seu povo e porque herdou o poder do seu irmão Fidel que libertou Cuba de um opressor para que ele próprio pudesse oprimir. Mas Raúl Castro é assim há muito tempo. Destacou-se em 2016 porque foi capaz de se abrir ao diálogo com os Estados Unidos e porque está, aos poucos, a perceber que a sua ideia política nunca levará a ilha a parte nenhuma. | foto: kremlin.ru

Juan Manuel Santos
Presidente da Colômbia
O presidente da Colômbia recebeu o Nobel da Paz por causa das negociações que levaram ao acordo com as FARC que põe fim a uma guerra com mais de 50 anos de duração e mais de 260 mil mortos. Mais uma vez o Nobel é atribuído antes da paz estar consolidada e em referendo os colombianos acabaram mesmo por rejeitar o acordo. Agora as negociações já estão fechadas e a paz vai finalmente imperar na Colômbia. | foto: Mauricio Muñoz E

Refugiados 
Aqui não há um só rosto que se destaque, há pelo menos 350 mil, número dos que conseguiram chegar às fronteiras europeias. Mas porquê falar apenas da Europa quando aqui estão apenas 20% dos refugiados de todo o mundo? | foto: Fernando Frazão

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