Trump, o aprendiz de ditador

Newsletter Nº29

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Já terminou a primeira semana de reinado do king Trump e o mundo ainda não acabou, mas está quase. A caminhar desta forma, o egocentrismo do novo presidente dos Estados Unidos vai levar-nos até um destino que não se conhece, mas acredito que não seja próximo do paraíso.

Trump é mais do que um populista. Trump é um aprendiz de ditador. Mas é mais perigoso do que os ditadores tradicionais porque domina formas de comunicação e contra-informação (a famosa pós-verdade) como poucos dominam. O exemplo máximo disso talvez tenha acontecido esta semana, quando através do Twitter obrigou Enrique Peña Nieto a cancelar a visita que tinha agendada aos EUA. Ou quando mandou um porta-voz dizer à comunicação social que a sua tomada de posse tinha sido a mais concorrida de sempre, quando as imagens mostravam que não estavam em Washington metade das pessoas que tinham estado na primeira tomada de posse de Obama. Ler as notícias desta semana sobre o novo presidente norte-americano faz-me lembrar o clássico Mil Novecentos e Oitenta e Quatro. Trazido para os dias de hoje, este porta-voz que veio dizer que a Casa Branca tinha “factos alternativos” sobre os números de assistência da tomada de posse está a fazer um papel semelhante ao de Winston que no romance de Orwell tinha o papel de mudar as notícias para que elas fossem favoráveis ao regime totalitário em vigor.

Trump é um aprendiz de ditador porque governa um país como milhões de trolls governam páginas nas redes sociais onde destilam ódio, ofendem pessoas e dão opiniões básicas acerca de tudo. A página que Trump tem no Twitter é uma espécie de púlpito com o selo presidencial a partir do qual faz comunicações aos cidadãos sem qualquer intermediário, faz diplomacia e manda bitaites sobre a política interna de organizações como a União Europeia. Para ele tudo se resolve facilmente. Os mexicanos não querem pagar o muro? Aplicamos um imposto às importações de lá. Continuamos a ter terrorismo islâmico? Para ele é fácil acabar com o Daesh. Os criminosos não querem confessar crimes? O sr. Trump diz que a tortura pode ser um bom caminho. No entanto, aquilo que Trump não equaciona (ou parece não equacionar) é o ricochete das suas medidas. Será que ele acredita que se aplicar um imposto às importações mexicanas não haverá uma resposta semelhante do lado de lá?

A opinião de que os contrapesos mundiais estão a mudar parece consensual ou pelo menos muito defendida. Afinal o novo presidente está a espalhar com as patas aquilo que Obama andou a juntar com o bico. Não falo apenas do Obamacare, falo essencialmente da política arriscada que pode pôr em causa as boas relações com o seu vizinho do sul ou a ideia tresloucada de mudar a embaixada em Israel para Jerusalém, promovendo a instabilidade em todo o médio oriente.

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A única notícia normal que nos chegou esta semana dos Estados Unidos talvez tenha sido o encontro que o novo presidente teve com a primeira-ministra britânica. Ficou por saber se as suas capacidades de conquistador ainda são o que eram em 2005 e se Theresa May não lhe resistiu.

No resto do mundo aconteceu isto:

Brexit vai ter que passar pelo parlamento britânico
O Supremo Tribunal britânico decidiu por maioria de oito contra três juízes que o brexit vai ter que passar pelo parlamento. Desta forma, não pode ser o governo a acionar o artigo 50º do Tratado de Lisboa que prevê dois anos de negociação para a saída de um estado membro do bloco.

Reino Unido terá falhado teste nuclear
A primeira-ministra do Reino Unido viu-se esta semana envolvida com um problema sensível: as armas nucleares. De acordo com uma investigação do The Sunday Times o país terá efetuado um teste nuclear ao largo da Flórida que correu mal, tendo o míssil saído de rota e falhado o alvo. Theresa May não confirmou nem desmentiu quando confrontada pela BBC, mas o trabalhista Jeremy Corbin aproveitou o caso para lançar farpas: “É um erro verdadeiramente catastrófico quando um míssil se dirige para a direção errada”.

Primeiro-ministro holandês pede a cidadãos não integrados para abandonarem o país
O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, publicou na terça-feira uma carta aberta onde aperta o cerco aos imigrantes do país pedindo para que “As pessoas que se recusam a adaptar-se e criticam os nossos valores, devem comportar-se normalmente ou então devem sair do país”. Estas declarações visam tomar posição num tema que está a ganhar cada vez mais terreno na Europa, não sendo a Holanda exceção e tendo eleições já a 15 de março.

Benoît Hamon ganha primárias socialistas
A primeira volta das primárias francesas deu a vitória a Benoît Hamon que ultrapassou o atual primeiro-ministro Manuel Valls. A segunda volta vai ser na próxima semana entre estes dois homens e o vencedor já lançou ideias para o futuro do mercado de trabalho que está a começar a ser invadido por robots. Hamon defende que os “Se amanhã uma máquina substitui um homem e cria riqueza, é normal que ela contribua”.

Ditador da Gâmbia parte para o exílio
O homem que esteve desde 1994 à frente dos destinos da Gâmbia deixou o país em direção ao exílio, mas sem antes enviar os seus bens por via aérea para a Guiné Equatorial por onde deve ficar nos próximos tempos. Entre estes bens destaca-se uma valiosa coleção de carros de luxo e, de acordo com a imprensa, cerca de dez milhões e meio de euros roubados aos cofres do estado. A partida do homem que ameaçava decapitar homossexuais, dizia que curava a sida e a infertilidade feminina e acreditava que ia governar durante mil anos põe fim a um impasse que começou quando foi derrotado nas urnas e não quis abandonar o cargo. O local que escolheu para se exilar é estratégico: a Guiné Equatorial não faz parte do Tribunal Penal Internacional e por isso é difícil que venha a ser condenado pelas centenas de assassinatos que terá cometido.

O Papa, Hitler e Trump
Numa entrevista ao diário espanhol El País o Papa Francisco começou por falar nas eleições alemãs que deram o cargo de líder a Hitler, concluindo que os alemães votaram nele naquela altura porque o país estava destroçado e havia alguém que prometia devolver-lhes a identidade. O líder católico deixou claro que não tentou fazer uma analogia entre Hitler e Trump, mas acrescentou que “em momentos de crise buscamos um salvador que nos devolva a identidade e nos defenda com muros“, numa alusão clara à política de fronteiras do novo presidente americano.

Células do Daesh em Espanha querem ataque na Península Ibérica
Os serviços secretos espanhóis intercetaram mensagens de cidadãos espanhóis a viver na Síria e no Iraque que tinham como destino células escondidas do Estado Islâmico em Espanha. A mensagem era clara: atacar solo ibérico em resposta às detenções de membros do Daesh feitas recentemente em Espanha.

ROSTOtrump

Donald Trump, sempre Donald Trump. O novo presidente dos Estados Unidos continua a ser criticado e agora é porque está a cumprir o que prometeu na campanha eleitoral. Talvez tenhamos que nos habituar que as decisões de Trump agora são as decisões dos Estados Unidos da América.

NÚMEROS

36

Número de vítimas resultantes do descarrilamento de um comboio na que fazia a ligação entre as cidades indianas de Jagdalpur e Bhubaneswar no passado sábado (21 de janeiro).

500.000

Número de pessoas que se concentraram em Washington para a Marcha das Mulheres contra Trump no dia da tomada de posse do novo presidente. Os números são do vice-presidente da câmara de Washington, Kevin Donahue.

“Decidi hoje, em consciência, deixar a liderança desta grande nação”

Yahya Jammeh, líder da Gâmbia que ao fim de 22 anos no poder decidiu partir para o exílio

“Vi os protestos ontem (sábado, 21 janeiro) mas tinha a impressão de que ainda agora tivemos uma eleição! Por que é que essas pessoas não votaram?”

Donald Trump, reagindo no Twitter às manifestações que juntaram milhares de pessoas no dia da sua tomada de posse

“Em momentos de crise, não há discernimento, o que para mim é uma referência contínua. [Há o risco de] procurarmos um salvador que nos devolva a identidade e nos defenda com muros, vedações ou que for, de outros povos que nos possam tirar a identidade. E isso é muito grave. Por isso, procuro sempre dizer: dialoguem entre vós”

Papa Francisco, numa crítica clara ao novo presidente dos Estados Unidos

“Já não temos as mãos atadas como no tempo de Barack Obama. Agora, podemos finalmente construir”

Meir Turjeman, Adjunto do presidente da câmara de Jerusalém, anunciando a construção de mais 566 casas para colonos na Jerusalém Leste ocupada

“Advertimos para os perigos de mudar a embaixada norte-americana de Telavive para a Jerusalém ocupada”,

Hamas, movimento islamita num comunicado difundido na segunda-feira em Gaza e citado pela agência espanhola Efe.

“Se amanhã uma máquina substitui um homem e cria riqueza, é normal que ela contribua”

Benoît Hamon, vencedor das primárias socialistas francesas, defendendo o pagamento de impostos pela riqueza criada por uma empresa e não pelo número de trabalhadores.

“As pessoas que se recusam a adaptar-se e criticam os nossos valores, devem comportar-se normalmente ou então devem sair do país”

Mark Rutte, primeiro-ministro holandês numa carta aberta publicada pela imprensa na terça-feira


“Estou muito preocupado porque os meios de comunicação desempenham um papel decisivo na democracia. Sem liberdade de expressão e sem liberdade de imprensa não existe democracia”

Martin Baron, diretor do The Washington Post alertando para a possibilidade do fim da liberdade de expressão com a administração Trump

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