Embora ainda não existam aviões de passageiros sem janelas, já os há com lugares sem janelas. Confuso? Passo a explicar.
No ano passado a Emirates apresentou a sua nova configuração na qual todos os assentos da primeira classe tinham uma janela, mesmo aqueles que ficavam no meio da fuselagem. Como é possível? Com janelas virtuais.
Nesta configuração inédita da companhia dos Emirados cada assento da primeira classe estava dentro de uma cabine com paredes do chão ao teto do avião, portas de correr e, embutidos nas paredes das cabines interiores, ecrãs planos podiam ser ativados pelos passageiros para que tivessem imagens do exterior do avião. Estas imagens eram conseguidas com câmaras de fibra ótica.
O objetivo associado à instalação destes ecrãs simuladores de janelas é proporcionar a todos os passageiros a mesma experiência, quer se encontrem em lugares onde há janelas reais, quer se encontrem noutros onde é impossível existirem.
Mas e se os lugares com janelas virtuais deixarem de ser a exceção e passarem a ser a norma? Pode parecer descabido entrar num avião sem janelas, mas o presidente da Emirates acredita que esse pode ser o futuro da aviação comercial a médio prazo.
“O que podemos ter [nos próximos 20 anos] são aeronaves que não têm janelas”, disse Tim Clark à BBC, explicando que no interior os passageiros mal perceberão que se trata de um avião sem janelas uma vez que ecrãs vão recriar o ambiente exterior com qualidade “tão boa ou melhor do que as janelas tradicionais”.
Em termos objetivos esta tecnologia vai permitir ter uma “fuselagem que não tem fragilidades estruturais por causa das janelas. As aeronaves vão ficar mais leves, voando mais rápido, gastando muito menos combustível e chegando a altitudes mais elevadas”, continua a mesma fonte.
No entanto há questões de segurança que podem atrapalhar estes planos. Todos sabemos que durante a aterragem e descolagem do avião é obrigatório ter as persianas das janelas abertas, mas talvez nem todos saibam porquê. A razão para este procedimento baseia-se na necessidade de os assistentes de bordo olharem para o exterior do avião no caso de uma evacuação de emergência. Faz parte dos procedimentos perceber qual a saída mais segura em caso de incêndio, por exemplo.
Uma vez que as janelas virtuais precisam de energia elétrica para funcionar e essa energia pode faltar em caso de emergência, “pode não ser fácil serem certificadas pelos reguladores da aviação”, teme Graham Braithwaite, da Cranfield University, especialista em segurança da aviação à BBC.
“Não vemos nenhum desafio específico que não possa ser superado para garantir um nível de segurança equivalente ao de uma aeronave equipada com janelas de cabine”, responde a Agência Europeia para a Segurança na Aviação deixando a porta aberta à existência de aviões comerciais sem janelas.
Esta é uma realidade atual, mas parece ainda não estar próxima a sua generalização. Há várias questões. Quão realistas serão estes ecrãs, a imagem terá algum atraso ou interferência? Como vão reagir os passageiros mais claustrofóbicos? E em voos de longo curso, qual o efeito no conforto – ou falta dele – dos passageiros? Ainda há muitas questões por responder, mas nos próximos anos certamente haverá novidades.
Foto de Adrian Pingstone