África do Sul, de f(/r)ugida!

A aventura africana da Inês Lopes começou em Moçambique e terminou no país de Nelson Mandela em contacto com a vida animal no seu estado mais puro, o selvagem.

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Não posso dizer que conheci África do Sul, mas posso dizer que andei lado a lado com umas das suas partes mais cativantes – a vida animal no seu estado mais puro, o selvagem.

Estando de visita a Moçambique, o Safari a 500 km e em família torna-se uma ideia, primeiro apetecível e, daí em diante, euforicamente desassossegante! A remota possibilidade de ver leões a acasalar ou elefantes a tomar banho faz crescer borboletas na barriga. Subitamente, todos os episódios da BBC Vida Selvagem das manhãs de domingo começam a passar-me pela cabeça como um filme e as imagens da Savana, outrora tão longínquas e quase imaginárias, parecem ser cada vez menos uma miragem.

Mas já lá vamos, porque primeiro a paisagem muda, e há mudanças difíceis de ignorar. Ao contrário de Moçambique, este é um país extremamente organizado e aproveitado. As vedações das reservas naturais começam a aparecer de um lado, assim como as vastas plantações de banana do outro. Na fronteira não é preciso visto e as estradas em obras estão surpreendentemente bem sinalizadas. O equilíbrio entre a Natureza e a presença humana sente-se no ar e a preservação animal, que tanto derramou sangue no passado, é vivida como uma religião. Presentes quer nos desenhos da canecas do café da manhã quer nos nomes dos rios ou nos logótipos dos parques, os animais são o rosto orgulhoso de uma terra que vive com, para e deles.

A cor de pele das pessoas não muda muito, mas a língua rapidamente se torna menos familiar. White River faz lembrar uma vila rural europeia e a Hazyview uma autoestrada que só difere na orientação. Estamos deveras num país desenvolvido e embora a discrepância social e profissional entre o bouer e o africancer ainda se note claramente no dia-a-dia, o ritmo exigente de trabalho e a segurança nas condições denota que este já é um povo que se leva bastante a sério. As casas, de cimento e cor neutra característica, têm uma origem muito humilde, mas em nada transparecem desespero e embora se continuem a ver chapas (carrinha de marca Nissan de transporte público, mas de cariz privado) pela rua e crianças a percorrer quilómetros de mochilas às costas, pairam objetivos e intenções por cima das suas cabeças, de quem sabe para onde caminha e está certo que um dia vai lá chegar.

Os negócios já não são maioritariamente estrangeiros e o produto nacional faz-se bem visível e acessível por poucos Rands (moeda nacional). Nelson Mandela é naturalmente o rosto da famosa invenção de papel e, de política, o escasso tempo só me deixou reparar nos nomes holandeses e ingleses das cidades que começam a dar lugar a outros intencionalmente cada vezes mais africanos. A dissolução da tensão social, ainda incompleta, esbarra no comum e certeiro comprimento a todo o estranho que cruza o caminho, seja-se de tez clara ou escura, esteja-se na bomba de gasolina ou na piscina do hotel.

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Mas vamos ao que interessa, que a melhor parte está para vir. Seja a visitar o de-perder-de-vista Kruger National Park ou o verdejante e único-no-mundo Blyde Kanyon River, o que se tem de ter sempre à mão são os binóculos e a câmara fotográfica: nunca se sabe quando vamos ver um hipopótamo ou uma girafa! Aqui, é senso comum que o conjunto dos cinco animais de grande porte mais difíceis de encontrar se apelide de the big five e, compreendendo o chifrudo búfalo, o possante rinoceronte, o perigoso hipopótamo, o solitário leopardo e o altivo leão, bem podia ser ampliado para the great ten contando que a esguia girafa, o majestoso elefante, o discreto crocodilo, o ágil babuíno e o fotogénico cudo, em nada são menos interessantes ou vistosos!

Bradados aos céus por toda a chuva que reduz o calor, enche os rios e faz crescer alimento, os meus braços saem doridos. Que todos os animais, por isso mesmo, tivemos a honrar de conhecer de perto, uns até a parcos centímetros apenas e observar todos os seus dotes mais naturais, exibidos livremente e sem timidez aparente. De barriga cheia de novos conhecimentos sobre estas sapientes e lindíssimas criaturas, ainda houve tempo para relembrar o querido Rei Leão, inesquecível filme de infância, aquando da presença de tantos Pumbas (javalis africanos), fielmente stressados e fugidios, mas sem Timóteos (suricatas) por perto, infelizmente.

Perante um Kanyon tão drenado e um Kruger em ferida pela seca, abandonámos esta terra, ainda à espera do verão, rezando para que as chuvas não se esquecessem daqueles animais que em tão poucas horas nos conquistaram. Sentindo-os como meus, nem que seja por momentos e esquecendo a natureza selvagem da sua essência, deixaram-me assim com vontade de voltar para matar a saudade, aparentemente prematura, bem sei, mas nem por isso menos verdadeira.

África do Sul
[wp-svg-icons icon=”earth” wrap=”i”] Pretória (capital)
[wp-svg-icons icon=”bubbles-4″ wrap=”i”] Afrikaans, Inglês e mais 9 línguas oficiais
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[wp-svg-icons icon=”rainy-4″ wrap=”i”] O clima é ameno, sendo as temperaturas mais altas atingidas nos meses de setembro a abril e as mais baixas de maio a agosto

[wp-svg-icons icon=”signup” wrap=”i”] Não é necessário visto para entrar na África do Sul, no entanto é necessário um passaporte com validade de 30 dias a contar da data prevista de saída do país

[wp-svg-icons icon=”bug” wrap=”i”] Não há vacinas obrigatórias, no entanto aconselha-se a utilização de repelente para evitar as picadas de mosquitos que transmitem doenças como a malária
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