Chegámos às Caldas, onde também D. Leonor chegou há mais de 500 anos e também nos surpreendemos como ela. Não pelos mesmos motivos. Leonor ficou de queixo caído quando viu pessoas a banharem-se em águas de cheiro intenso. O banho não era tradição, muito menos o banho em águas tão mal cheirosas.
Hoje já não há banhos, as Caldas da Rainha perderam as Caldas. Como assim? Perguntámos com o mesmo espanto que presumimos a D. Leonor. Ao que parece o imponente Hospital Termal já só recebe uns serviços de fisioterapia e umas consultas que em nada dependem das águas temperadas. Haverá novidades para breve, diz-nos o segurança do edifício que ali permanece, mas quão breves estarão essas novidades já não nos consegue adiantar.
Esta é a grande desilusão das Caldas da Rainha e começamos por aqui porque defendemos que as más notícias devem ser dadas em primeiro lugar. A partir de agora só vamos tecer elogios a esta pequena mas vibrante cidade que respira criatividade.
Criatividade, belo ponto de partida para introduzir o nosso anfitrião, Raphael Bordallo Pinheiro. Lisboeta, mas grande responsável pela efervescência artística da cidade.
São várias as suas criações que vamos descobrindo, quase como um jogo, à medida que nos passeamos pelas ruas históricas da cidade. Ora ali está uma folha couve de cerâmica, do outro lado um bando de andorinhas, no topo de um elevador uma raposa a uivar e, claro, o Zé Povinho com ou sem manguito, mas sempre com um sorriso acolhedor.
Bordallo Pinheiro transformou as Caldas, com a ajuda da sua Fábrica de Faianças num icon de Portugal. Cobiçados azulejos, pratos, chávenas, centros de mesa, travessas, jarrões ou bustos são só alguns dos objetos ali produzidos que, ainda hoje, podem ser comprados.
As inspirações são as tradições de Portugal e por isso mesmo ter um prato em forma de peixe, um bacalhau de cerâmica ou uma travessa em forma de folha de couve não é apenas ter um símbolo das Caldas, é ter um símbolo de Portugal. Por isso aproveitar a passagem pelas caldas para renovar as louças de casa não é uma má ideia, ainda por cima estas peças podem ser adquiridas na própria fábrica onde são produzidas a preços muito acessíveis.
Hoje as Caldas da Rainha são um importante centro de estudos de artes uma vez que aqui funciona a Escola Superior de Artes e Design (ESAD), um pólo do Instituto Politécnico de Leiria. Embora só tenha sido fundada em 1990, já Bordallo Pinheiro tinha desaparecido há mais de cem anos, podemos dizer que a sua inspiração terá sido influenciada pelo criador do Zé Povinho. Também ele, quando começou a produzir as suas obras, deu grande importância ao ensino da arte de trabalhar a cerâmica. A ESAD é a sucessora da Escola de Cerâmica da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, onde Bordallo era o mais distinto professor.
Falemos agora do pulmão das Caldas da Rainha, o Parque D. Carlos I. Construído como parque do Hospital Termal, felizmente não perdeu o caracter como aconteceu com as termas. Hoje é ponto de encontro da cidade como no Portugal oitocentista era o ponto de encontro das classes mais altas que, a partir de determinada altura, começaram a ver potencialidades mais que medicinais nas termas. Não deixaram que fossem só os doentes a servirem-se delas e à saúde juntaram o lazer e o divertimento.
As crianças podem aqui desfrutar de parques com escorregas e baloiços enquanto os mais velhos podem ver quem passa sentados nos bancos de costas para o grande lago onde os cisnes e os patos se apoderam do espaço que, no inverno, não está a ser monopolizado pelos barcos de recreio.
O Museu José Malhoa também ocupa uma morada do Parque. José Malhoa porque o pintor era natural das Caldas da Rainha e porque merecia um museu. Mas este museu não é só dele. É de um ilustríssimo grupo de artistas que deram arte a Portugal.
Se estiver a fazer o caminho da Batalha até Óbidos, como fez D. Leonor, faça também como ela. Para nas Caldas da Rainha por um minuto e vai ver que vai ficar um dia inteiro, ou dois, ou três.
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[wp-svg-icons icon=”sun-3″ wrap=”i”] Caldas das Rainha tem um clima temperado. Os meses mais quentes são de maio a outubro nos quais a temperatura não se eleva além dos 30ºC. Nos meses de inverno as temperaturas não baixam além dos 5ºC. A chuva é rara, sendo mais provável encontra-la nos meses de inverno.