O avião que nos transporta até aos Emirados Árabes Unidos pisa a pista do Aeroporto Internacional do Dubai já depois da meia noite, mas apesar do adiantar da hora ainda há muitos passageiros na fila para a verificação de passaportes. O processo não é muito demorado, apenas o suficiente para que já não conseguíssemos apanhar o último metro em direção ao hotel.
O táxi surge como a opção mais viável naquele momento, mas também precisamos de esperar numa fila porque quase toda a gente teve a mesma ideia que nós. Quando, finalmente, chega a nossa vez, há dois carros que aparecem na fila em posição de nos dar boleia e somos chamados pelo taxista de um deles. Quando começamos a avançar há uma mulher, com a cabeça tapada por um véu e o rosto tapado por uma máscara de proteção facial que se intromete e dá um raspanete ao homem que nos tinha chamado.
Não percebemos as palavras que usa em árabe, mas sabemos que estava zangada porque de acordo com a fila de táxis era ela que tinha prioridade para nos transportar. O homem desiste de imediato, sem contrapor e nós seguimos viagem com esta taxista.
Este episódio que vivemos nos primeiros minutos no Dubai dá-nos uma ideia de que as mulheres não são relegadas para segundo plano nesta sociedade. Para além de vermos mulheres a conduzir táxis – uma tarefa associada aos homens mesmo em países ocidentais -, também as vemos nas máquinas de raio-x do aeroporto ou até mesmo nos balcões de verificação de passaportes. Também estão nos guichés do metro a vender bilhetes ou nos balcões dos rent-a-car.
Ficar com esta ideia na primeira impressão não é o mesmo que confirmar esta como uma realidade absoluta. As mulheres têm muito menos direitos do que os homens nas sociedades islâmicas, mas aqui estão integradas no dia-a-dia.
Carruagens exclusivas para mulheres e crianças
Um dos sinais mais evidentes do fosso entre homens e mulheres vê-se no metro. Este que é um dos transportes públicos mais usados na cidade tem carruagens destinadas exclusivamente para mulheres e crianças. Na verdade as mulheres não são obrigadas a viajar nelas, têm apenas essa opção e os homens não podem entrar, se o fizerem são multados.
Tendo em conta esta regra, podemos perceber que estas carruagens servem mais para proteger as mulheres que viajam sozinhas do que para as separar do resto da sociedade. Mas também é certo que se este argumento é tido como válido é porque é dada aos homens alguma margem para se poderem sobrepor às mulheres.
Durante a nossa passagem pelo Dubai vimos inclusivamente muitas turistas a usarem estes espaços, uma vez que são menos frequentados e acabam por oferecer mais lugares sentados nas longas viagens do metro do Dubai.
Cada uma veste o que quer, menos nos lugares sagrados
Quando passeamos pelo Dubai é raro percebermos que estamos num país onde as mulheres são diminuídas, a maior parte das pessoas que aqui vive é imigrante e não precisa de alterar os hábitos de vestuário. Por isso sim, há mulheres com saias curtas, decotes e roupas justas.
Os únicos lugares onde as regras mudam são os lugares sagrados.
Chegados à Mesquita do Sheikh Zayed, em Abu Dhabi, ninguém olha para os homens, mas as mulheres são passadas a pente fino. Braços, cabelo ou pernas não podem estar à vista. Roupa ligeiramente transparente também não passa.
Antes das restrições associadas à Covid-19 a mesquita tinha à disposição dos turistas túnicas que ajudavam a cobrir todo o corpo e cabeça, mas agora a única alternativa para quem aqui chega sem cumprir as regras é comprar uma destas túnicas nas lojas que existem no local.
Também não é raro vermos placas que nos pedem para sermos discretos na forma de andar pelos espaços públicos. Nos hotéis com piscina, por exemplo, é pedido aos hóspedes para se vestirem sempre que caminham entre o quarto e zona de água. Caminhar de fato de banho ou biquini não é bem visto.
Contactos íntimos como beijos ou abraços também devem ser evitados em público.