O gosto pelas viagens é partilhado por milhares de pessoas em todo o mundo e a verdade é que se há quem goste de conhecer novos destinos com luxo e muito conforto, a grande maioria dos viajantes só quer chegar e partir à aventura. Este artigo é para todos aqueles que seguindo a velha máxima de “viajar é a uma das coisas em que se gasta dinheiro e se fica mais rico”, não deixam de sorrir quando vêm uma boa pechincha.
Perceber os preços das passagens aéreas é quase como saber na ponta da língua todas as teorias de física quântica. Não é impossível, mas muito poucos sabem. Há vários artigos que dissertam sobre a quantidade de dias de antecedência com que é preciso comprar um bilhete para ele ser mais barato ou quais os dias da semana em que, de certeza, vamos gastar menos, mas aquilo que proponho agora são três truques que o podem ajudar a conseguir uma viagem extraordinariamente cara a um preço mais risonho e aos quais as companhias aéreas não acham grande graça.
Saia do avião a meio da viagem
Não, ainda não enlouqueci. Não estou a sugerir que abra a porta do avião em plena altitude de cruzeiro e salte cá para baixo. Em primeiro lugar porque a passagem já estava paga e não ia poupar nada, em segundo lugar porque tenho quase a certeza de que não ia conseguir conhecer o seu destino de sonho quando chegasse cá a baixo e, em terceiro lugar – deixemo-nos de brincadeiras -, nem sequer ia conseguir abrir a porta do avião em pleno voo.
Aquilo que quero dizer com “saia do avião a meio da viagem” é que procure rotas com escalas ao invés de apenas voos diretos para o destino que pretende. Imagine o seguinte cenário. Quer voar de Lisboa para Paris e um voo direto entre as duas cidades custa 100 euros. Depois de uma pesquisa detalhada percebe que existe um voo entre Lisboa e Londres com escala em Paris que custa apenas 70 euros. Pode parecer estranho, mas com frequência voos com escala ficam mais baratos do que voos diretos, numa estratégia que as companhias aéreas dizem ser de benefício para com os passageiros que têm voos menos cómodos por conta dos tempos de espera associados às escalas.
Mas voltemos ao cenário do voo até Paris. Se optar por reservar o voo de Lisboa para Londres, pode abandonar a viagem na cidade de escala, Paris, poupando neste caso 30 euros. A esta prática deu-se o nome de ‘hidden city’ (‘cidade escondida’, em português) porque o passageiro compra uma viagem para um determinado destino, com a intenção de nunca lá chegar, terminando a viagem na cidade de escala.
Há várias formas de conseguir encontrar estas “cidades escondidas”. Pode fazer pesquisas nos habituais motores de busca, ou pode recorrer ao site skiplagged.com que foi criado com propósito específico de dar aos passageiros uma ferramenta que lhes permita fazer comparações entre voos diretos ou voos onde possa abandonar a viagem na cidade de escala. Quando inserir a sua cidade de origem e de destino, vão lhe ser apresentadas várias opções, sendo que algumas delas poderão ter como base esta técnica.
Já fez a sua primeira pesquisa no skiplagged.com e já está a esfregar as mãos com a possibilidade de uma verdadeira pechincha? Se sim, não me abandone já e leia este artigo até ao fim porque usar esta técnica tem riscos. Em primeiro lugar prepare-se porque as companhias aéreas não gostam mesmo nada de passageiros que abandonam as viagens na cidade de escala e pode ter que enfrentar um processo judicial. Mas não desista já da ideia, porque a Lufthansa avançou com um processo contra um passageiro que usou esta técnica, mas não conseguiu ganhar a ação, mesmo tendo provas suficientemente fortes de que o passageiro nunca teve intenção de continuar a viagem.
Também vai ter que se preocupar com a bagagem. Neste caso só pode usar bagagem de cabine, que está junto a si durante toda a viagem, porque em caso de bagagem despachada, ela só será devolvida ao passageiro no aeroporto final. Tendo em conta o nosso exemplo, se voar entre Lisboa e Paris com uma reserva de voo para a rota Lisboa – Londres, a sua bagagem só vai ser posta no tapete na capital britânica. Se a quiser recuperar em Paris, conte com uma fatura avultada apresentada pela companhia aérea.
Outra das preocupações que tem que ter é com a cronologia dos voos que vai usar. Imagine que em vez de querer voar entre Lisboa e Paris, quer voar entre Paris e Londres. Neste caso já não vai conseguir usar a “cidade escondida” nesta rota em específico porque se não comparecer no primeiro voo entre Lisboa e Paris, toda a reserva será cancelada.
Compre Bilhetes de Ida e Volta separadamente
A ideia passada aos clientes das companhias aéreas é a de que comprar bilhetes de ida e volta sai mais barato do que fazer duas reservas em separado, uma com o voo de ida e outra com o voo de regresso. Esta máxima pode aplicar-se na maioria dos casos, mas não é uma verdade absoluta.
O site de reservas online Kayak lançou recentemente os resultados de um estudo que tinham desenvolvido e que chegava precisamente à conclusão de que em alguns casos os passageiros podiam ver a sua fatura reduzida no caso de se darem ao trabalho de fazer duas reservas separadas.
Esta conclusão da Kyak serviu para apresentar uma nova ferramenta que permite eliminar o constrangimento e tempo perdido pelos viajantes que optem por reservar voos em separado, agora o próprio site de reservas diz ao utilizador se deve ou não comprar a ida e volta em conjunto.
Aqui no W360.PT resolvemos fazer a nossa própria análise e não foi preciso perder muito tempo para encontrar no site da TAP um exemplo de uma viagem em que a compra de ida e volta em conjunto ficava mais cara do que se fizéssemos as reservas em separado. Na nossa pesquisa percebemos que a rota Lisboa – Paris – Lisboa ficava a 224,01 euros, enquanto que a rota Lisboa – Paris tinha o preço de 125,12 euros e a ligação Paris – Lisboa custava 88,89 euros. Já fez as contas? Se comprarmos os voos em separado poupamos 10 euros.
É verdade que 10 euros em Paris não devem servir para muito mais do que tomar um café, mas um café, mesmo que sem grande qualidade, já é melhor do que nada.
Fique de olho nas Tarifas de Erro
A terceira e última dica deste artigo é uma espécie de mito urbano. Já toda a gente ouviu falar nas tarifas de erro, mas muito poucos conseguiram aproveitá-las.
As companhias aéreas baseiam os preços das passagens que vendem em complexos algoritomos informáticos que variam consoante tantos fatores quantos possa imaginar e mais alguns. Não vou dizer quais são porque embora não seja dado às ciências exatas, acho mais fácil compreender a gravidade quântica do que perceber o rumo dos preços das viagens de avião. Mas voltando aos algoritomos, eles são mesmo muito complexos e embora sejam operados por máquinas, também falham.
Os erros provocados por estes super-computadores não são inéditos, o que leva muitos felizardos a conseguirem viagens verdadeiramente baratas ou, melhor ainda, a conseguirem comprar lugares de executiva a preços de económica. Mas como é possível descobri-los? Se acreditar na sorte vá fazendo pesquisas desenfreadas nos sites de todas as companhias aéreas que conhece, se não tiver esta dose de tempo e paciência, há uma solução mais prática.
Chama-se Jack’s Flight Club e é uma Newsletter criada em cima de um sistema informático que está constantemente a fazer pesquisas nos sites das companhias aéreas e quando encontra um valor verdadeiramente baixo envia uma mensagem aos inscritos com os detalhes.
De acordo com o fundador da plataforma que só funciona para voos com origem no Reino Unido, já foram conseguidas passagens aéreas para Tóquio por €250, Manila por €272, Costa Rica por €319 ou Havai por €239.
O sistema tem desvantagens porque as reservas têm que ser feitas rapidamente e, em muitos casos, as companhias cancelam a reserva do passageiro, devolvendo-lhe o dinheiro gasto, porque detetam o erro, mas na maioria dos casos as viagens acabam mesmo por se realizar, representando poupanças substanciais para quem viaja.