Entre Igrejas e Ruínas: o que visitar em Roma durante cinco dias

Roma é um verdadeiro museu a céu aberto. Saiba o que visitar na capital italiana para ficar a conhecer todos os pontos turísticos.

Mulher a fazer massa fresca na Osteria Fortunata em Roma. Foto de Inês Marques
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Não sei explicar porquê, mas quando me perguntavam que viagens gostaria de fazer, Roma era a resposta que tinha na ponta da língua. Não sei precisar quando nem como surgiu Roma no meu imaginário, mas as imagens daquelas ruas estreitas e bonitas, a juntar às descrições de quem já por lá passou e talvez às imagens do cinema, sem esquecer a gastronomia de fazer crescer água na boca só de pensar, fizeram de Roma a minha viagem de sonho. 

E eis que a oportunidade surge: cinco dias em Roma.

Dia 1

Chegámos na manhã solarenga de uma quinta-feira de fevereiro e, felizmente, o sol foi nosso companheiro de viagem até ao fim. Aterrámos em Fiumicino com o intuito de rumar à Cidade do Vaticano, onde ficava o nosso hotel. No aeroporto, dirigi-me ao posto de turismo, para pedir um mapa e saber qual a melhor forma de chegar ao Vaticano. Saí de lá sem mapa da cidade, já que eram vendidos e eu tinha quase a certeza que no hotel haveriam de me oferecer um, mas com a informação de que, logo na saída do aeroporto, existe um terminal de autocarros onde, por seis euros, um shuttle faz a ligação a vários pontos do centro da cidade, incluindo o Vaticano. Procurámos a linha de onde sairia o SIT bus (o bilhete compra-se à funcionária que está junto à pista e não numa bilheteira própria). Pelo caminho, fomos intercetados insistentemente por taxistas e condutores de transfers privados a oferecer os seus serviços. Depois de dizer que não a todos – ao ponto de me chegarem a dizer “but look, I’m a super taxi driver!” – lá esperámos pelo autocarro, que nos deixou a cerca de 800 metros do Starhotels Michelangelo, onde ficámos alojados. Esta viagem mostrou-nos logo uma importante característica de Roma: a forma louca como se conduz. Embora não fôssemos conduzir, é uma informação importante para a forma como teríamos de nos comportar enquanto peões: por exemplo, o conceito de passadeira é ignorado por eles; não adianta ficar parado ao pé de uma à espera que algum condutor pare, temos de começar a atravessar, pois só quando já estamos em cima da passadeira é que param, se for mesmo necessário (se puderem, até contornam os peões).

Levava um roteiro preparado, muito com base em dicas de amigas que lá viveram ou passaram férias e também, no que a restaurantes diz respeito, no Zomato e no Tripadvisor. Contudo, quando chegámos ao hotel era perto da hora de almoço e resolvi ignorar o roteiro e aproveitar a extrema simpatia dos funcionários do hotel (os romanos, em geral, são bastante simpáticos) para pedir uma dica de sítio para almoçar. A primeira pasta da minha viagem foi comida na Trattoria La Vittoria, um restaurante tradicional que serve os típicos pratos italianos. Excelente recomendação!

Como foi o dia da viagem, o nosso roteiro não estava muito carregado. Escolhi alguns pontos de referência que me permitissem fazer o que mais gosto em viagem: como dizem os franceses, flâner, ou seja, andar pelas ruas, desfrutar da paisagens, conhecer os recantos. E esta, de facto, revelou-se a melhor forma de conhecer Roma, pois o centro da cidade é plano, as distâncias entre os lugares são relativamente curtas e, de facto, cada trilho percorrido revela um pedaço de história, principalmente pela quantidade de igrejas e ruínas.

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Praça de SaoPedro em Roma. Foto de Inês Marques
Praça de São Pedro
Piazza Navona em Roma. Foto de Inês Marques
Piazza Navona em Roma

Começámos a tarde a observar a majestosa Praça de São Pedro e seguimos, pela Via della Conciliazione, até ao Castel Sant’Angelo, um edifício construído no ano 123 que teve vários usos ao longo dos séculos, sendo hoje em dia um museu. Dali, atravessámos a Ponte Sant’Angelo com destino à Piazza Navona. Contudo, antes de chegar ao nosso destino, a gula obrigou-nos a experimentar o primeiro gelado italiano, na gelataria Frigidarium: a fila distinguia-a das restantes galatarias pelas quais fomos passando. Satisfeita a gula, seguimos então para a Piazza Navona, uma das praças romanas com mais vida: ali se encontram artistas de rua e tem imenso comércio e restauração nas imediações. Não quisemos deixar de entrar na igreja de Sant’Agnes in Agone, que nos deslumbrou logo com a sua beleza. 

Entretanto, era hora de jantar e a escolha recaiu na pizzeria Navona Notte. 

Pizza na Navona Notte em Roma. Foto de Inês Marques
Pizza na Navona Notte em Roma

Como estávamos cansados, optámos por voltar ao hotel de autocarro: os bilhetes podem ser adquiridos no metro ou nos quiosques de rua. Em termos de transportes, a app Moovit foi uma excelente ajuda: deteta a localização em que estamos e fornece informação sobre os transportes para chegar ao destino, incluindo o percurso a pé, por exemplo, até à paragem.

Dia 2

Começámos o nosso segundo dia no mercado do Campo de’Fiori, onde se encontram frescos, bem como produtos tipicamente italianos. Aproveitei para comprar massas, a um preço mais acessível do que noutras lojas por onde passei – até porque, se negociarmos com os vendedores, acabamos por fazer melhor negócio. O mercado funciona de segunda a sábado, entre as 7h e as 13h30.

Mercado campo de Fiori. foto de Inês Marques
Mercado Campo de Fiori

Dali, seguimos para a Piazza Venezia, onde está o Monumento a Vittorio Emanuele II, um imponente edifício que homenageia o primeiro rei de Itália e, na sua pessoa, a Pátria. Subindo às traseiras, encontramos (se tivermos os olhos bem abertos) a famosa estátua da Loba Capitolina, associada à lenda da fundação de Roma. Aproveitámos para, de cima, olhar as ruínas do Fórum Romano, já que não planeámos fazer a visita.

Monumento de Vittorio Emanuelle. Foto de Inês Marquês
Monumento de Vittorio Emanuelle
Fórum Romano em Roma. Foto de Inês Marques
Fórum Romano
Estátua da Loba em Roma. Foto de Inês Marques
Estátua da Loba

A nossa caminhada continuou rumo à igreja de Santa Maria Maggiore, uma das seis basílicas papais do mundo (quatro estão em Roma e as outras duas são em Avis). Já com as energias retemperadas por um frango à romana da Hosteria La Vacca m’Briaca, cujo menu gira muito em torno da carne (confesso que foi uma das refeições que menos gostei em toda a viagem), voltámos a descer para observar o ex-libris de Roma – o Coliseu – seguindo depois para o Panteão e a Fontana di Trevi. Não visitámos o Coliseu, mas fomos aconselhados a fazê-lo em dias úteis e a comprar o bilhete com antecedência, caso o desejássemos fazer. Quanto aos dois últimos pontos, impressionam pela quantidade de pessoas que concentram em si, o que não permite desfrutar da visita. 

Cúpula Santa Maria Maggiore em Roma. Foto de Inês Marques
Cúpula Santa Maria Maggiore
Coliseu de Roma. Foto de Inês Marques
Coliseu de Roma
Panteão em Roma. Foto de Inês Marques
Panteão

Entre o Panteão e a Fontana, o nosso roteiro mandava-nos fazer uma paragem na Giolitti, uma das mais antigas gelatarias de Roma. O dia terminaria com a subida da extensa escadaria da Piazza di Spagna, famosa pelas lojas de conhecidas marcas de luxo. Ao cimo, damos com os olhos numa vista panorâmica de Roma, marcada pelas inúmeras cúpulas, da qual de destaca a da Basílica de São Pedro. Entrámos também na igreja de Trinità dei Monti, simples, em comparação com outras que fomos vendo. A hora já pedia uma refeição e optámos por ir buscar uma dose (bem avantajada) de massa artesanal ao Pastificio Guerra, pelo módico preço de quatro euros e meio. Para digerir, fomos a pé até ao hotel, e aproveitámos, assim, para ver a cidade à noite (com destaque para as várias pontes sobre o rio e a Praça de S. Pedro).

Foto nocturna em Roma. Foto de Inês Marques
Foto de noite de Roma

Dia 3

A manhã de sábado estava destinada a visitar os Museus do Vaticano, cujos bilhetes comprámos antecipadamente, no site. A compra antecipada tem uma taxa de quatro euros, mas compensa, pois marca-se a hora de entrada e evita-se a fila que se prolonga por muitos metros. Desde a Praça de S. Pedro até perto da entrada dos museus, vão encontrar dezenas de agentes turísticos a tentar vender visitas guiadas. Se, como nós, levam o bilhete na mão e estão decididos a fazer a visita ao vosso ritmo, aconselho-vos a ignorarem-nos, pois tentam todos os argumentos para vos convencer (incluindo a ideia de que o bilhete não inclui a visita à Basílica de S. Pedro, que se faz gratuitamente). Nos museus, passámos cerca de três horas e o que me impressionou não foi, de facto, a coleção, mas sim a riqueza arquitetónica e artística das próprias salas, com destaque para os frescos. Esta visita inclui a entrada na Capela Sistina, talvez o lugar que cria mais expectativas, tendo em conta a quantidade de pessoas que estavam naqueles parcos metros quadrados. 

Frescos do Vaticano em Roma. Foto de Inês Marquês
Frescos do Vaticano

Lembram-se dos taxistas no aeroporto e dos agentes turísticos a tentar vender os seus serviços? Pois, à saída dos museus, são agora os funcionários dos restaurantes que vos esperam, em busca de angariar clientes. Devido ao adiantado da hora, procurámos no Zomato um restaurante com avaliação razoável nas imediações (errámos, desde logo, na plataforma, pois lá valorizam bastante mais o Tripadvisor). Por entre a vista para pratos com aspeto duvidoso (algumas pizzas tinham aspeto de congeladas) e a busca por entre as avaliações medíocres dos restaurantes da zona, a escolha recaiu no La Locanda di Pietro, mas, de facto, no final da refeição arrependemo-nos de não termos andado mais uns metros para comer fora do perímetro dos museus, pois a qualidade não se compara a outras experiências gastronómicas que fomos tendo, sempre com preços acessíveis, para quem está habituado ao padrão de Lisboa (as refeições completas nos restaurantes custavam, em média, 15€ por pessoa). 

De seguida, colocámo-nos na fila para visitar a Basílica de S. Pedro. Ela parece longa, mas, de facto, toda a logística do Vaticano está bem organizada, sempre com a segurança como prioridade, e a espera vale a pena para conhecer a principal igreja católica do mundo, onde temos oportunidade de ver a famosa Pietà e os túmulos de alguns papas, como João Paulo II. 

Estátua de Pieta em Roma. Foto de Inês Marques
Estátua de Pieta

Dali, seguimos de metro para conhecer a terceira Basílica papal do nosso roteiro (em Roma, é, de facto, inevitável não visitar uma grande quantidade de igrejas): San Giovanni in Lateranni, a primeira igreja católica do mundo ocidental. 

Igreja San Giovanni em Roma. Foto de Inês Marques
Igreja San Giovanni em Roma

A nossa caminhada prosseguiu para o Circo Máximo, considerada a maior área de entretenimento da Roma Antiga. Atravessando a arena, uns metros à frente, encontramos a famosa Bocca della Verità, um rosto esculpido em mármore que, diz a lenda, morde a mão a quem mentir (tirem já a ideia de experimentar, pois não é permitido tocar). Dali, subimos ao Giardino dei Aranci, para contemplar mais uma imagem panorâmica de Roma. Contudo, era já noite e a vista deve ser mais bonita durante o dia. Já que ali estávamos, não resistimos a andar mais uns metros, até à Piazza del Cavalieri di Malta para espreitar pelo Buco della Serratura e conhecer o segredo de Roma, por sinal, um segredo muito mal guardado, dada a fila que se formou para o desvendar com a própria vista. 

O dia estava no fim e era sábado, pelo que rumámos a um dos bairros com mais vida da cidade, Trastevere. Visitámos ainda a igreja de Santa Maria in Trastevere e jantámos no Grazia & Graziella. Sem dúvida, a refeição que subiu diretamente ao pódio da nossa viagem.

Lasanha e Gnochi no restaurante em Roma Grazia Graziella. Foto de Inês Marques
Restaurante Grazia Graziella
Tiramisu no restaurante em Roma Grazia Graziella em Roma. Foto de Inês Marques
Tiramisu no restaurante Grazie Graziella

Dia 4

Não queria, de todo, que me acusassem de ir a Roma e não ver o Papa. Portanto, cerca das 11h, dirigi-me à Praça de São Pedro, para escolher um bom lugar para ver Francisco aparecer à janela para proferir a Oração Angelus. De facto, disseram-me que aquela seria a melhor hora para chegar, pois poderia concentrar-se muita gente à entrada da praça se fosse com muito mais antecedência ou muito em cima da hora (ao domingo, todas as pessoas são revistadas pela polícia antes de entrar na praça). A espera pode ser aproveitada para visitar a Basílica de S. Pedro, pois como a segurança é feita na entrada da praça, a fila para entrar na Basílica flui mais facilmente (nos outros dias, o controle de segurança é feito aqui). Às 12h em ponto, o Papa Francisco surge na janela da Biblioteca do Vaticano e, sete minutos depois, já se despedia dos fiéis e tocavam os sinos. 

Tendo em conta que tencionávamos novamente almoçar pela zona e que a experiência do dia anterior não tinha corrido bem, voltámos a pedir uma sugestão no hotel. Almoçámos, então, na Osteria dei Pontefici.

No restaurante, dispensámos a sobremesa, pois a cabeça já estava naquele que viria a ser o nosso último gelado italiano. Desta vez, rumámos à La Romana, onde os gelados fogem completamente dos sabores tradicionais e cujo segredo está no chocolate derretido que é colocado no fundo do cone. De barriga feliz, fomos até à Piazza del Popolo, subimos ao Pincio e passeámo-nos pelos jardins da Villa Borghese (acabámos por não visitar a galeria, que tanto nos aconselharam pela beleza das suas esculturas).

Gelado italiano. Foto de Inês Marques
Gelado Italiano

Era fim de tarde e o roteiro para aquele dia estava esgotado, por isso, decidimos perder-nos pelas ruelas romanas e passar novamente pela zona da Piazza Navona para comprar algumas recordações. Não resistimos à tentação de entrar na Bartolucci, a loja do Pinóquio, cujos brinquedos são artesanalmente feitos em madeira.

Artesanato na loja Bartolucci em Roma. Foto de Inês Marques
Loja Bartolucci

O dia estava a acabar, pelo que decidimos fazer a última caminhada até ao hotel, com paragem na La Bocaccia, para comer algumas fatias de pizza.

Dia 5

A nossa viagem está a chegar ao fim. Cumprimos o nosso roteiro (com os devidos improvisos pelo meio) e conseguimos assinalar no nosso mapa os principais pontos da cidade.

Contudo, ainda nos sobrava a manhã, que aproveitámos para conhecer a Isola – uma pequena ilha no meio do Tibre – e o Ghetto, o bairro judeu de Roma, onde se situa uma imponente sinagoga. 

Sinagoga em Roma. Foto de Inês Marques
Sinagoga

Rumámos depois à Piazza Campo de’Fiore, onde, na Osteria da Fortunata, comemos a melhor pasta de toda a viagem, com vista direta para a senhora que, junto à montra, estendia e moldava, com arte, a massa que chegaria ao nosso prato. Bela despedida da cidade!

Pasta iitaliana na Osteria Fortunata em Roma. Foto de Inês Marques
Pasta na Osteria Fortunata
Mulher a fazer massa fresca na Osteria Fortunata em Roma. Foto de Inês Marques
Osteria Fortunata

Era hora de rumar ao aeroporto. Como a estação de Roma – S.  Pedro ficava a poucos metros do nosso hotel, optámos pelo comboio para nos levar até Fiumicino, com a vantagem de a gare ter ligação direta aos terminais do aeroporto.

Ciao, Roma! Olá de novo, Lisboa!

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