Cinzento, Arte, Hospitalidade e Cheesecake
Onde o cinzento é uma cor feliz. Berlim tem tanto de ruidoso, bruto e degradado como de artístico, luminoso e imponente. O melhor é que está tudo misturado e envolvido numa cidade que nos deixa embebidos nesses opostos.
Há um peso muito grande e denso da história conturbada da cidade, restos de muro, cicatrizes de balas nos edifícios e pedaços de lembranças menos felizes. Talvez como uma tentativa de superar essa âncora presa ao passado, Berlim é uma explosão de arte por todas as suas formas mais ou menos delicadas. É surpreendente a dureza e ao mesmo tempo a sensibilidade que se consegue absorver na capital alemã. A hospitalidade berlinense é evidente e muito entusiasmante, apesar de eles serem fortemente bairristas têm um orgulho enternecedor de pertencerem a Berlim e têm uma vontade genuína de nos mostrar o porquê dessa paixão!
Na zona de Mitte, entre Oranienburger Tor e Rosenthaler Platz percorri galerias, vi o que se produz de melhor pela cidade, visitei o KW Institute for Contemporary Art e o ME Collectors Room. Até o almoço de uma deliciosa falafel foi acompanhado com um ambiente artístico no bar/galeria Dada Falafel.
Na Tucholskystraße encontra-se a Princess Cheesecake, para todos os amantes de cheesecake é uma tentação num mundo encantado das princesas!
Friedrichshain é o melhor sítio para ficar a dormir em Berlim, há muita oferta de restauração, bares e hostels com muita vida e agitação! Perto desta zona mais alternativa há um edifício todo ocupado por escritórios de arquitectura e design com exposições constantes: o DAZ – Deutsches Architektur Zentrum.
Museus a não perder são tantos que nos perdemos neles e por eles! Mas deixo umas dicas de museus que não são tão óbvios nos roteiros: o Tchoban Foundation – Museum für Architekturzeichnung onde tive a sorte de apanhar uma exposição deliciosa da obra de Peter Cook; o Bauhaus Museum pelo edifício e pelo seu conteúdo entusiasmante que cruza as várias vertentes artísticas, a Contemporary Fine Arts Galerie muito perto da ilha dos museus e que envolve de uma maneira muito inteligente a contemporaneidade com o envolvente histórico; a sala de exposições KunstHalle by Deutsche Bank; e a Berliniche Galerie com uma oferta enriquecedora da sua colecção de produção artística de 1880 a 1980 assim como salas enormes dedicadas à produção contemporânea. Vi neste museu uma das melhores exposições desta viagem: “The Art Show” de Edward e Nancy Kienholz – uma galeria dentro de um museu em que os visitantes se confundem com as próprias obras que são personagens numa inauguração… Com pena não apanhei o Sammlung Boros aberto, mas quero voltar e ir visitar!
No passeio pela cidade (aconteceu por um motivo que me é alheio) deparei-me com a avenida principal Unter den Linden, que vai da Alexandreplatz até as portas de Brandenburger, completamente fechada ao trânsito, com um céu cinza denso, deserta e intrigante como um cenário trágico de um filme! Que sensação de desconforto e de realidade aleatória! Berlim dá-nos sempre uma experiência de mundo que nos é difícil. Depois de Berlim, somos obrigatoriamente pessoas diferentes!