Tecnologia, Água, Jardins, Escultura
A única cidade nesta viagem que ainda não conhecia e tinha enormes expectativas, se calhar por isso foi a menos entusiasmante. Confesso que ficou aquém do que esperava e talvez seja a consequência de muitos factores que fizeram esta minha passagem pela Dinamarca menos excitante: já estava no fim da viagem, é bastante cara, a chuva e o vento não ajudaram, não me cruzei com as pessoas mais simpáticas e a cidade estava em obras profundas. Tudo isto aliado à minha expectativa elevada fez com que a minha visita não correspondesse ao que esperava.

No entanto conheci zonas incríveis, descobri locais extraordinários e quero lá voltar (sem obras e no verão) para poder tirar mais partido das ofertas da cidade.
Ao sair do aeroporto fomos recebidos com um nível de tecnologia muito próprio, ao qual não estamos habituados! Apanhámos o metro inteligente que para além de marcar ao ½ minuto o tempo de espera, não tem condutor! Claro que ocupámos logo os lugares da frente e delirámos como crianças numa viagem ao espaço (e no tempo)! A importância dos transportes é evidente, sendo essa também a principal razão das grandes obras no centro da cidade – há um grande investimento e um grande respeito pelo transporte público.
Fiquei em Nytorv, onde era o antigo porto. Encontram-se ainda barcos antigos estacionados no canal perto dos bares e restaurantes. Perdemos de vista os canais que rodeiam Copenhaga, uma cidade marcada pela água que vai invadindo e definindo o seu desenho nas suas ilhas, criando diversas paisagens e novos pontos de vista. As várias pontes, as muitas margens dão uma dinâmica muito intensa e entusiasmante à medida que a exploramos.




A partir de Nytorv era fácil aceder a pé às zonas mais interessantes. Passando a ponte estava na ilha de Christiania, em Papirøen: armazéns recuperados com um mercado de street food e o CC (Copenhagen Contemporary) que merece uma visita pela qualidade das exposições!



Claro que não podíamos deixar de ir a Fristaden Christiania, a comunidade independente com autogestão e leis próprias. Além do seu lado caricato e alternativo com um cenário muito fora do real; o mercado de drogas leves é também uma atração local. Não é possível tirar fotos, por isso há que viver o espírito de Christiania e relembrá-lo mais tarde num relato dos episódios inéditos!
Uma grande presença na cidade é o verde com os seus muitos Jardins. As zonas de habitação menos centrais elevam os seus jardins como o “exlibris” da casa e na zona mais urbana há um anel verde de vários jardins que rodeiam a cidade. O mais turístico é o Kasteelet – além da sua forma em estrela como uma fortaleza e dos seus moinhos plantados pelas zonas mais altas, é nele que se encontra a estátua da pequena sereia, um dos símbolos de Copenhaga. O ideal é percorrer esse roteiro de jardins passando pelo Botanisk Have e também pelo Østre Anlæg.



Em Amalienborg temos uma visão muito interessante do diálogo entre o tradicional e o contemporâneo. No meio da praça do palácio (onde pude assistir, com sorte, ao render da guarda) de um lado podemos ver a Frederiks Kirke: um edifício de mármore imponente e do outro a marcante Operaen, na ilha Holmen: edifício oferecido à cidade pela A.P. Møller and Chastine Mc-Kinney Møller Foundation, uma das óperas mais caras da atualidade e desenhada pelo arquitecto Henning Larsen. Mesmo ao passear pela cidade temos esse diálogo evidente entre as novas construções com um traço muito nórdico, muito “clean” e os detalhes dourados e pormenores exuberantes dos edifícios mais antigos ou as casinhas com fachadas coloridas que marcam algumas praças e marginais.






Para uma boa pausa, uma café e uma deliciosa fatia de tarde vale a pena parar na Studenterhuset, um espaço dedicado aos estudantes mas que qualquer um pode usufruir, com vários jogos de tabuleiro disponíveis, quiz e eventos.
Com pena, o parque diversões Tivoli (dos mais antigos da europa e que inspirou a Disney) estava fechado nesta altura do ano, mas tudo funciona e é uma das atrações situado mesmo perto da Rådhuspladsen, os equipamentos são lindíssimos e inspiram um sonho nostálgico de fantasia e animação de um outro tempo.
Das várias ofertas culturais da cidade escolhi visitar o Danish Museum of Art & Design. Para quem se identifica com a área do design, é um espaço muito rico de elementos, informação e o seu espólio deixa a curiosidade desperta para procurar mais e registar alguns dos elementos que marcaram o mundo do mobiliário, em especial destaque a sala das várias cadeiras desenhadas, desenvolvidas e produzidas nas últimas décadas.
O espaço que mais marcou a minha visita a Copenhaga foi a Glyptoteket – uma ode à Escultura. É poderosa a sensação de entrega e incredulidade face ao edifício e ao seu conteúdo! Na verdade não há muitas palavras para descrever as horas que passei nesse espaço, merece mesmo uma visita com tempo e disponibilidade para nos perdermos pelas salas e corredores com as mais peculiares expressões das personagens presas num registo de pedra, metal, madeira ou outro material meticulosamente definido e trabalhado pelo seu escultor. O seu jardim interior remete-nos para outra dimensão, uma tranquilidade e bem estar é constante e está várias vezes visível no percurso do edifício presenteando-nos com várias perspectivas da sua flora em sintonia com as obras de arte.

Copenhaga, quero voltar. Ficou muito por descobrir e um novo contexto (com mais sol e menos obras) pode ser o que falta para ser a cidade que ansiava.