Os primeiros anos do século XXI hão-de ficar conhecidos como a altura em que os jovens começaram a viajar. Torna-se cada vez mais fácil comprar um bilhete ou uma passagem de avião, fazer a mala e partir. A net facilita tudo, claro. Encontrar direções, restaurantes, percursos, hotéis, lojas, praias, etc… E as férias ficam feitas.
Mas aquilo que muitos da geração Milénio começam a descobrir agora é o seu próprio país: Portugal não foi mesmo feito para uma pessoa ficar em casa. Foi com o intuito de explorar ainda mais o meu país que decidi começar a primeira semana deste Verão a fazer um IntraRail pelo norte de Portugal, com um amiga. Obrigada Bia!
Com este artigo, não vou relatar como foi a viagem, acho que é mais importante dar a conhecer o que é um IntraRail, já que as pessoas só conhecem, geralmente, o famoso InterRail. Claro que não é a mesma coisa. Antes de mais, o IntraRail cinge-se a Portugal. Numa parceria entre a CP – Comboios de Portugal e a cadeia de Pousadas de Juventude de Portugal, é possível aos jovens dos 12 até aos 30 anos viajarem por Portugal de comboio, passando as noites nas Pousadas de Juventude de cada ponto de passagem. Existem dois tipos de de passes: o Intra_Rail Xcape (3 dias de viagem com 2 noites nas Pousadas), e o Intra_Rail Xplore (7 dias de viagem com 6 noites nas Pousadas).
No nosso caso, decidimos comprar o passe de 7 dias, pois tínhamos uma semana livre para fazer esta viagem e o preço compensava imenso, tendo em conta aquilo que o passe incluía: todas as viagens possíveis e imaginárias por dia nos comboios CP (com excepção dos comboios de companhias privadas) e 6 noites em Pousadas da Juventude, em camarata mista, com pequeno-almoço incluído! E o preço de tudo isto… só 145,50€!!! WHAT?! INSANE!
Como proceder, então, para preparar toda a parte prática de um IntraRail? Bem, depois de comprado o passe numa estação de comboios onde tal fosse possível (A estação de Entrecampos, em Lisboa, vende-os, mas há mais pelo país fora!), é necessário contactar as Pousadas de Juventude. Numa tarde tratamos de todos estes telefonemas e preparámos o nosso itinerário (só podemos planear o nosso percurso para os 7 dias se as Pousadas tiverem disponibilidade para aquela noite, naquela data específica). Este processo fez com que tivéssemos de mudar e recalcular o nosso itinerário uma vez que iríamos viajar na última semana de Julho e, em altura de férias e sendo o nosso país tão famosos entre os turistas, as pousadas estavam à pinha! Por fim, com as reservas feitas, é só esperar pela proximidade da viagem para se começar a arranjar os bilhetes de comboio. Disclaimer: com o passe vem um mapa de Portugal com os principais caminhos de ferro e as Pousadas de Juventude assinaladas, o que torna toda a planificação da viagem muito mais fácil.
É importante referir que comprámos o passe com 1 mês certinho de antecedência, e que o mesmo tem a duração de 1 ano. O percurso que escolhemos fazer, inicialmente, foi o seguinte:
Guimarães – Braga – Viana do Castelo – Foz Côa – Porto (2 dias) – Aveiro
No entanto, já na viagem, decidimos fazer uma alteração no nosso percurso. Afinal, quando estamos no calor do momento, já com o cansaço nas nossas pernas e a enfrentar de frente os desafios que o caminho de ferro nos põe, percebemos que este percurso era ambicioso. Assim, mudámo-lo, acabando por fazer…
Guimarães – Braga – Viana do Castelo – Vila Nova de Cerveira – Porto (2 dias) – Aveiro
E correu tudo muito bem.
Para se fazer a compra dos bilhetes de comboio, também é tudo muito fácil: é só chegar à bilheteira dos locais, mostrar o passe (QUE ESTÁVAMOS CONSTANTEMENTE A VER SE NÃO TÍNHAMOS PERIDO, NO MEIO DA CONFUSÃO DAS MALAS), dizer qual é a viagem que se quer fazer, e receber o papel do bilhete de comboio pretendido, com todos os dados necessários. Esta “compra” pode ser feita na estação, alguns minutos antes da partida do comboio, mas aconselho a que se comprem os bilhetes dos Intercidades com alguma antecedência. Se a viagem for no Domingo, o melhor é que os bilhetes sejam adquiridos na Quarta-feira, para que ninguém se arrisque a ficar em terra. Ainda sobre os aspetos práticos de se fazer um intrarrail, é preciso ter muita atenção aos horários dos comboios e aos tranbordos : pelo menos no Norte, que foi por onde andámos, muitos dos destinos que escolhemos não tinham comboios diretos, portanto tínhamos de saber onde sair para mudarmos para o comboio que nos iria levar para o nosso destino final!
Em relação à viagem em si…
[wp-svg-icons icon=”location-2″ wrap=”i”] Guimarães
A primeira paragem teria de ser, como é óbvio, o sítio onde nasceu Portugal. Infelizmente, não existe nenhum Intercidades que ligue directamente Lisboa a Guimarães, portanto foi necessário fazer o primeiro transbordo desta viagem no Porto. A pousada de Guimarães fica mesmo à entrada da zona histórica da cidade, e foi construída numa antiga casa senhorial. Desta forma, para além de bem situada, é um mimo.
Em Guimarães, o nosso percurso cingiu-se ao centro histórico: castelo, Paço dos Duques de Bragança e as ruas histórias. Entre monumentos e doçaria tradicional, Guimarães revelou-se como uma grande surpresa, pela sua beleza e por estar tão bem preparada para receber turistas. Na pousada, descobrimos que havia cozinha, portanto decidimos que, durante a viagem, seria fácil poupar dinheiro, comprando comida no supermercado e cozinhado-a na pousada.
[wp-svg-icons icon=”location-2″ wrap=”i”] Braga
Ir de Guimarães para Braga não é propriamente fácil, o que é ridículo, tendo em conta que as cidades ficam a cerca de 1h uma da outra… Mas enfim, lá tivemos de fazer mais um transbordo, desta vez em Lousado. Chegadas ao nosso destino, pudemos contar com a companhia de um amiga minha, natural de Braga, que fez de guia turística na sua cidade. Obrigada, Carolina!
Uma coisa que começámos a reparar nesta viagem foi que o Norte é, sem sombra de dúvida, muito mais jovem do que o Sul: a grande maioria dos jovens está a trabalhar em empregos de Verão e, ao contrário do que se vê no Sul, não existem tantos idosos na rua! Conclusão: o Norte é visivelmente mais jovem e mais trabalhador do que o Sul.
Em Braga não deixámos passar a oportunidade de ir ao Bom Jesus e apreciar a vista de cortar a respiração. Também passeámos pelo centro histórico, aproveitando que a pousada ficava tão bem situada e verificámos que eram imensos os turistas que por lá passeavam! Tal como em Lisboa, são várias as línguas diferentes que se ouvem pelas ruas.
[wp-svg-icons icon=”location-2″ wrap=”i”] Viana do Castelo
Esta é a minha casa. É de Viana que vêm as raízes da minha família. Em Viana, tenho primos em segundo e em terceiro graus e há já muitos anos que não vinha a Viana visitá-los como costumava fazer com a minha família. Afinal, de Setúbal ao Minho, é mais do que um tirinho. Infelizmente, uma vez mais, não existe ligação direta entre Braga e Viana do Castelo, de maneira que nos esperava um transbordo em Nine. Mas este foi mais pequenino: tivemos quatro minutos para correr de um comboio ao outro.
Em Viana a pousada fica à beira do rio Lima, junto a uma praia fluvial e a um parque muito sossegado. Da zona histórica até à pousada, o percurso também se faz bem a pé, sendo que nos foi aconselhado almoçarmos no restaurante “O Bandeira”. E foi a nossa melhor escolha de sítio para comer: barato e com comida excelente e típica da região, fomos bem atendidas e saímos de lá muito satisfeitas. Depois de vista a zona histórica, a minha prima Carina juntou-se a nós, levando-nos ao marco mais importante de Viana: o Santuário de Santa Luzia, com uma vista incrível. À noite ainda jantámos e passámos o serão com a minha família do Norte. A hospitalidade de todos foi incrível e entre charadas, risos e boa comida, já tínhamos entrado pela noite adentro e tínhamos de regressar à pousada.
Obrigada, família! Foram um dos pontos altos da minha viagem.
[wp-svg-icons icon=”location-2″ wrap=”i”] Vila Nova de Cerveira
Todas as viagens devem ter um dia mais descontraído, menos pesado, mais livre. No dia anterior, tínhamos mudado a nossa rota: em vez de irmos para Foz Côa, decidimos ficar mais uma noite na pousada de Viana e ir passar o dia a esta vila na fronteira. Eram menos horas de viagem que gastávamos e era um dia a que podíamos chamar de “day off”. E foi o melhor que fizémos!
Vila Nova de Cerveira é uma pequena comunidade à beira do rio Minho e fica praticamente na margem oposta a Espanha. É conhecida como a vila das artes, sendo que várias exposições e montagens artísticas estavam expostas ao longo da vila. Aproveitámos para relaxar à beira rio e pelos parques da vila, passeámos pelas ruas rústicas, entrámos num castelo repleto de aranhas (fruto de mais uma exposição artística) e relaxámos na fronteira, debaixo de 40 graus.
[wp-svg-icons icon=”location-2″ wrap=”i”] Porto
Vindas de 4 dias a passear por cidades relativamente mais pequenas, a chegada ao Porto foi um “choque”. É uma cidade visivelmente muito maior e a confusão nas ruas é incrível: enquanto que o centro histórico de Lisboa está um pouco mais vedado ao trânsito, o centro histórico do Porto é caótico, com imensos carros a passar e as sirenes das ambulâncias a cortar com a paz e sossego de quem caminha nas ruas. Além disso, os condutores do Porto conduzem como se tivessem de ir apanhar o comboio daí a 5 minutos, de maneira que os transeuntes não se sentem muito seguros nos passeios (pelo menos, foi isso o que eu senti!). E os turistas na rua… Tantos!!! Provavelmente eram mais os turistas do que os portugueses na rua, o que fazia com que o ambiente estivesse como que “sobrelotado” de vozes, gritos, máquinas a trabalhar, obras, buzinas de carros, pessoas paradas a tirar fotografias, etc.
Com isto, quero dizer que o Porto foi, de longe, o sítio mais atribulado de todos aqueles que visitámos durante este IntraRail. Mas não deixámos que isso nos afetasse, e disfrutámos destes dois dias na Invicta.
No nosso percurso turístico não deixámos de passar pela linda Livraria Lello, pelo grandioso Palácio da Bolsa, pela típica zona ribeirinha e zona histórica, pela antiga Sé do Porto, pela conhecida Estação de São Bento, sem esquecer a famosa Torre dos Clérigos.
Mas o ponto alto foi à noite.
O grande problema que se nos apresentou no Porto foi a pousada: uns dias antes, tínhamos reparado que a Pousada de Juventude do Porto estava situada totalmente fora de mão! Basicamente, ficava na zona da Foz do Porto, a cerca de 40 minutos de transportes públicos das principais atracções da cidade! Mas este inconveniente foi facilmente superado porque a minha amiga de Braga estuda no Porto, e disponibilizou-nos a casa dela para que pudéssemos dormir. Novamente, obrigada Carolina! Assim, jantámos com a Carolina e as amigas dela e tivemos direito a uma verdadeira night out portuense, que passou pelo Piolho e pelas Galerias de Paris. E foi incrível.
[wp-svg-icons icon=”location-2″ wrap=”i”] Aveiro
A nossa última paragem também começou com uma saída à noite. No penúltimo dia da nossa aventura, apanhámos o comboio para Aveiro e fomos muito bem recebidas pela amiga da Bia, a Margarida, que nos convidou a jantar em casa dela e a ir a uma discoteca com os amigos de Aveiro. Escusado será dizer que sair à noite numa cidade com “guias locais” é a maior aventura que se pode ter. Nessa noite, mais cedo, a família da Margarida ainda teve a oportunidade de nos levar a conhecer a zona das salinas de Aveiro, assim como a Costa Nova, onde comemos as típicas e deliciosas tripas de Aveiro.
Depois de mais uma noite em grande e de poucas horas de descanso, chegava o nosso último dia. Por Aveiro, não deixámos passar a oportunidade de fazermos um cruzeiro no moliceiro nem de comermos os deliciosos ovos moles, como boas turistas que éramos. Mais cedo do que esperávamos, estava na hora de partir para Lisboa; os sete dias do passe de IntraRail estavam a esgotar-se.
Para todos aqueles que desejam fazer um IntraRail: não deixem passar esta oportunidade! É barato, Portugal é (numa palavra) lindo e com a companhia certa esta pode tornar-se numa das melhores viagens do Verão, ou de qualquer outra altura do ano. Basta que seja feita a organização do percurso com antecedência, que se preparem as mochilas, e que cada um esteja mentalizado de que os pequenos-almoços de TODAS as pousadas vão consistir numa carcaça de pão, numa fatia de queijo, noutra de fiambre, num pacotinho de doce, num iogurte, em café ou chá, num sumo e nuns cereais com leite (quando vimos que em Viana havia a opção de torradas, até chorámos de alegria!). E pronto, depois é só partir, porque “Portugal não foi feito para ficares em casa”. De todo!
“Caminhem com admiração, e todo o Mundo se torna vossa casa.”- Tyler Knott Gregson
[wp-svg-icons icon=”calendar-2″ wrap=”i”] 3 dias
[wp-svg-icons icon=”coin” wrap=”i”] com Cartão Jovem: €58 | sem Cartão Jovem: €64
[wp-svg-icons icon=”pushpin” wrap=”i”] Intra_Rail XPlore
[wp-svg-icons icon=”calendar-2″ wrap=”i”] 7 dias
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