Ljubjana, uma cidade de pontes

O Dragão é o símbolo da cidade, mas não é por isso que Ljubjana deixa de ser acolhedora para quem a visita. A Marta Costa esteve lá e conta-nos tudo agora.

Ponte do Dragão em Ljubjana. Foto de Marta Costa
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Lê-se Liubliana, é a capital da Eslovénia, e tem como símbolo um dragão. Dragão esse que, diz-se, foi derrotado pelo herói mitológico Jasão e os Argonautas no seu regresso à Grécia, e agora descansa no brasão de armas da cidade. Apesar da língua oficial ser o esloveno, na sua população de cerca de 280 mil habitantes (de acordo com dados do turismo local) o inglês não é um problema. Para visitar, convém alterar o relógio para a hora da Europa Central (mais uma hora que em Portugal continental) mas não é necessário trocar de moeda porque a Eslovénia aderiu ao Euro em 2004.

A aventura começou, como todas as aventuras, com uma longa viagem de avião. Há várias opções para voar de Portugal, todas incluem escalas. O aeroporto em Ljubjana é bastante pequeno e acolhedor, está situado a pouco mais de 20 quilómetros a norte da capital, o que significa cerca de 30 minutos de distância, por isso rapidamente chegamos ao centro da cidade. Porque as férias incluíam outras situações, decidimos alugar um carro, o que facilitou as deslocações, mas significa não ajudar grande coisa sobre transportes públicos enquanto escrevo estas linhas. Sei, por pesquisa, que há um cartão (o Ljubljiana Card) que inclui visitas a vários locais, o transporte urbano e acesso à internet por 24 horas e uma visita guiada à cidade. Os preços, como costuma acontecer com estes cartões, varia com a duração desejada e todas as informações podem ser encontradas no site oficial. Mas avancemos para a cidade.

Os principais pontos de Ljubljiana são visitáveis a pé, por estarem a pequenas distâncias entre si. Com os mapas disponíveis tanto no aeroporto como nos postos de turismo, para o apoio ao início, a verdade é que rapidamente damos por nós a conhecer os caminhos e a orientarmo-nos melhor. O rio que rasga a cidade é uma presença constante e um marco fundamental para essa orientação. É, até, uma razão para uma volta pela cidade com outros olhos. Sim, estou a falar das visitas de barco, mas já lá vamos.

Barco ancorado no rio de Ljubjiana. Foto de Marta Costa
Vista do rio, a Ponte Tripla e a Igreja da Anunciação na Praça Prešeren. Foto de Marta Costa

Em Ljubljiana, vou olhar sempre para as Três Pontes como ponto de partida para todos os caminhos. A Tromostovje é uma obra de Jože Plečnik, construida entre 1929 e 1932, e junta a velha ponte com duas novas, destinadas a peões, e cria uma forma diferente de arquitetura na cidade. Sempre cheia de movimento, seja de noite ou de dia, a Tromostovje é, sem dúvida, uma das pontes mais bonitas que atravessam.

Tromostovje em Ljubjiana. Foto de Marta Costa
Tromostovje . Foto de Marta Costa

De um dos lados das Três Pontes, está a Praça Prešeren. Dedicada ao poeta esloveno France Prešeren, que tem uma estátua em sua homenagem mesmo no centro da praça. Em obras aquando da minha visita, é possível ver de qualquer forma o enquadramento do local e dos edifícios incríveis que o compõem. Desde a Igreja da Anunciação de Maria com o seu barroco, ou os exemplos modernistas da Casa de Urbanc e a Casa Hauptmann, renovada em 1904, com decorações verdes e turquesa, uma prova da inspiração vienense da época.

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Casa Hauptmann em Ljubjiana. Foto de Marta Costa
Casa Hauptmann. Foto de Marta Costa

Uma pequena curiosidade é, na fachada de um outro prédio, já numa rua adjacente, está um busto esculpido de uma mulher. É Julija Primic, a grande paixão de Prešeren, diz-se que não correspondida, e razão de muita da melancolia nos seus trabalhos.

Ainda na Praça de Prešeren, não deixar de notar o incrível edíficio do Centromerkur, hoje a Galerija Emporium, um exemplo de Art Nouveau construída em 1903 por Friedrich Sigismundt. Os detalhes vão desde a estátua do Deus romano do comércio, Mercúrio, no topo do edíficio, às grandiosas escadarias em forma de Y com cabeças femininas no fundo.

Galeria Emporium. Foto de Marta Costa

A partir daqui, podemos escolher vários caminhos – ir ao encontro da cidade velha, atravessando a ponte; ir para o lado mais recente da cidade, continuando por uma rua transversal cheia de lojas não apenas tradicionais; ou acompanhar o rio numa rua paralela, indo até à zona central da cidade. É possível fazê-los todos em poucos dias, na minha opinião. E visto que o meu alojamento era mesmo ali ao lado da Praça de Prešeren, facilmente me deslocava para qualquer um dos lados. Nada estava mais longe do que quinze minutos a pé.

Panorâmica de Ljubljiana vista do Nobotičnik Café. Foto de Marta Costa
Panorâmica de Ljubljiana vista do Nobotičnik Café. Foto de Marta Costa

Avancemos então para a zona nova da cidade, até à Slovenska Cesta. Uma das grandes avenidas da cidade, atualmente reservada a peões e transportes públicos – e, claro, as bicicletas.

Antes de chegar, no caminho, o truque é ir olhando para cima. O edíficio do Union Hotel já foi considerado o mais largo de toda a cidade, aquando da sua construção em 1905. E não esquecer de olhar para a decoração exuberante do edifício do Zadružna Gospodarska Banka (Banco Cooperativo), desenhado por Ivan Vurnik. A fachada colorida de azuis e amarelos num fundo vibrante vermelho é difícil não ver.

Fachada do Banco Cooperativo de Ljubjana. Foto de Marta Costa
Fachada do Banco Cooperativo. Foto de Marta Costa

Já na Slovenska Cesta, aconselho vivamente uma passagem pelo café Nobotičnik, no topo do edifício de 13 andares que já foi considerado o mais alto de toda a Jugoslávia, quando foi inaugurado. Apesar de residencial, é possível aos visitantes utilizarem o elevador até aos últimos três pisos do edifício para utilizar o café, bar e restaurante. Mas o principal é mesmo a vista, com terraço aberto para a cidade.

Toda a rua é muito agradável para passear, os pequenos pormenores estão em todo o lado (como o edíficio dos correios, que é maravilhoso!). Tive sorte, porque estava sol, então deu para passear tranquilamente.

Daqui rapidamente nos colocamos junto à zona da Praça do Congresso, já na zona central da cidade – como disse, surpreendeu-me que tudo o que me interessava ver e conhecer está a uma curta distância a pé, não mais do que quinze minutos.

Fachada do Edifício Central dos Correios de Ljubjana. Foto de Marta Costa
Fachada do Edifício Central dos Correios. Foto de Marta Costa

A Kongtresni Trg ou Praça do Congresso ganhou o nome após o Congresso da Sagrada Aliança (tradução livre) entre a Rússia, a Aústria e a Prússia, que teve lugar em Ljubljiana em 1821 e que envolveu cerca de quatro meses de negociações e reuniões mas também festas, desfiles, fogo de artifício e bailes. Atualmente, a praça é rodeada de edifícios imponentes como a Filharmonija (Academia Filarmónica, sede de uma das sociedades filarmónicas mais antigas do mundo, a Academia Philharmonicorum, fundada em 1701) ou a Universidade de Ljubljiana.

No parque da praça é possível encontrar uma cópia de uma estátua de um cidadão da antiga Emona, cidade romana que deu lugar a Ljubljiana. Encontrada inicialmente em 1836, a origianl está, juntamente com outros restos de Emona, no Museu Nacional e no Museu Municial.

Estamos agora junto ao rio. Podemos atravessar já, para o lado antigo da cidade, ou podemos aproveitar uma das oportunidades de fazer um percurso de barco turístico. Há hipótese de o fazer com ou sem guia, o passeio dura cerca de uma hora e percorre toda a zona antiga da cidade.

Acredito que haja outras empresas a fazer o mesmo percurso, com mais ou menos tempo, mas os preços deverão ser semelhantes. O barco (que também era bar) estava “estacionado” em Dvorni trg, com saídas a cada meia hora, a partir das nove e meia da manhã e até às onze da noite, o preço por uma hora de viagem é de dez euros por pessoa na empresa Barjanka.

Acho que valeu a pena porque houve oportunidade de conhecer a cidade de uma maneira diferente e ter uma perspetiva não apenas do tamanho, mas também da arquitetura de Ljubljiana.

Terminada a visita de barco, é hora de avançar para a parte antiga da cidade. Ruas mais estreitas, edifícios mais elaborados, muito mais comércio não só tradicional como muito mais dedicado ao turismo. Como estava bom tempo, as esplanadas estavam todas montadas. Junto à Praça do Mercado, acontecia um festival de comida de rua, e havia gente em todo o lado. Ponto principal em qualquer roteiro à capital eslovena – subir o funicular e visitar o castelo.

Vista da cidade de Ljubjana a partir do funicular do castelo. Foto de Marta Costa
Vista da cidade de Ljubjana a partir do funicular. Foto de Marta Costa

A viagem em si no funicular não dura mais que uns meros minutos, mas é possível apreciar uma panorâmica maravilhosa da cidade. Há sempre fila, mas ele sobre de poucos em poucos minutos. O preço da viagem está incluído no bilhete do castelo, qualquer que seja a modalidade escolhida.

E sejam então bem-vindos ao Castelo de Ljubljiana, uma das maiores atrações turísticas da capital e das que mais me surpreendeu. Já explico. À primeira vista, o Castelo é apenas mais um castelo (e acreditem, a Eslovénia tem muitos!). Mas quando olhamos para o preçário surge a primeira faísca. É que há uma modalidade, dentro das visitas ao Castelo que envolve um jogo. Para quem está familiarizado com o conceito de escape rooms, é uma oportunidade única porque a sala é todo o recinto do castelo. As regras são as mesmas – temos de ir descobrindo pistas para salvar o dragão que está adormecido algures debaixo do castelo (sim, o dragão dos Argonautas e que é o emblema da cidade, esse mesmo), e temos uma hora para o fazer. Nunca me tinha deparado com uma aventura deste género, dentro de uma atração, tida como normal. E foi das coisas mais divertidas de fazer porque à medida que íamos avançando no jogo, íamos também descobrindo mais sobre a história do próprio espaço. O resto são spoilers. Mas vale MUITO a pena.

Vista a partir do Castelo de Ljubjana. Foto de Marta Costa
Vista a partir da Torre do Castelo. Foto de Marta Costa

Algumas curiosidades é que é possível subir à torre e ter uma vista incrível da cidade e do pátio do castelo. Construída em 1848, a torre do relógio tem, no entanto, uma escadaria em caracol não aconselhada a pessoas com vertigens. O Castelo tem uma mascote – Friderik, The Ljubljana Castle Rat. O nome vem emprestado do imperador Frederick III de Habsburg que fundou a diocese da cidade e ali estabeleceu a fortaleza, na colina do castelo. Encontramo-lo mais facilmente na loja (obviamente).

O preço, com visita ao castelo, jogo e funicular, é de 12 euros. Há descontos para crianças, estudantes, sénior e grupos para mais de 15 pessoas.

Visto o castelo, é hora de passear pela zona histórica de Ljubljiana. Desde a Fonte dos Três Rios, na Mestni trg, que simboliza os três principais rios da Eslovénia central, à praça do mercado, onde tive oportunidade de almoçar no Odprta Kuhna, que é como quem diz, o festival de comida que acontece na cidade todas as sextas-feiras desde o início da primavera e até ao outono.

Odprta Kuhna de Ljubjana. Mercado de Comida. Foto de Marta Costa
Odprta Kuhna. Foto de Marta Costa

A fonte dos Três Rios, ou Vodnjak treh kranjskih rek é um obelisco branco de formato triangular que simboliza o Ljubljanica, o Sava e o Krka. Criada por Francesco Robba, a fonte é um trabalho inspirado, diz-se, na Fonte dos Quatro Rios da Piazza Navona, em Roma. No entanto, o que vemos atualmente em frente ao edifício da Câmara Municipal é uma réplica. O original encontra-se protegido desde 2008 na Galeria Nacional.

Falando da Câmara Municipal, um edifício do século XVIII com influências renascentistas que também vale a pena apreciar.

Continuando o passeio, sugiro apreciar o comércio da Strari trg, uma pequena rua, cheia de casas de estilo Barroco e Neo-Renascentistas. Aqui, não basta ir vendo o que se passa ao nível dos olhos. Olhar para cima também é importante, desde as janelas, aos pormenores das esquinas dos prédios. Há muito para ver.

Stari trg em Ljubjana. Foto de Marta Costa
Stari trg. Foto de Marta Costa

As pontes de Ljubljiana

Já falei da Tromostovje ou das Três Pontes. Mas nenhuma visita à cidade do dragão ficaria completa sem falar de outras grandes (e conhecidas) pontes que atravessam o rio.

Ponte dos Sapateiros em Ljubjana. Foto de Marta Costa
Ponte dos Sapateiros. Foto de Marta Costa

A sul está a Ponte dos Sapateiros ou a Čevljarski most, onde antigamente estavam as oficinas destes artífices e em cima da qual Jože Plečnik decidiu criar uma espécie de mercado flutuante. Com torres que terminam em lâmpadas, esta ponte larga liga os dois lados da cidade, novo e velho.

Ponte Talhante em Ljubjana. Foto de Marta Costa
Ponte Talhante. Foto de Marta Costa

A Ponte dos Talhantes está mais acima, depois de passarmos a Tromostovje. Também desenhada  por Plečnik, esta é a mais recente das pontes que atravessam o rio, interrompendo a praça do mercado sensivelmente a meio. Inaugurada em 2010, esta ponte também padece da doença dos cadeados com juras de amor eterno. Curioso que estejam colocados lado a lado com esculturas que representam bocados imaginados de animais.

Cadeados na Ponte Talhante de Ljubjana. Foto de Marta Costa
Ponte Talhante. Foto de Marta Costa

Finalmente, mais a norte de todas, está a Ponte do Dragão, construída em 1901, um monumento estilo modernista. Reconhecida como um dos símbolos da cidade, a Zmajski most é ombreada por estátuas de bronze de dragões que guardam cada uma das suas pontas, e com grifos em toda a sua extensão . Foi desenhada e construída para celebrar o aniversário do Imperador austro-húngaro Franz Josef I.

Ponte do Dragão em Ljubjana. Foto de Marta Costa
Ponte do Dragão. Foto de Marta Costa
Ljubljana
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[wp-svg-icons icon=”sun-3″ wrap=”i”]Ljubljana é uma cidade de clima temperado, no entanto bastante chuvoso. Nos meses de novembro a março as temperaturas são mais baixas, podendo atingir valor negativos. Nos meses de abril a setembro o clima é mais ameno, não superando os 30ºC. Este é o melhor período para visitar a cidade.
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