Há pouco mais de 50 anos a cidade do Dubai não era mais do que uma vila de pescadores. A transformação que sofreu num tão curto espaço de tempo leva-nos a duvidar desta história, ainda mais se pensarmos na hostilidade da região do mundo onde nasceu e se tem vindo a desenvolver.
Por estas latitudes quase todas as possibilidades são remotas. Há muito calor durante todo o ano, a água potável é muito rara e o grande deserto que emoldura a cidade está sempre cheio de vontade de ocupar os espaços que lhe foram roubados. É sobre a força das areias que vamos ficar sempre a pensar enquanto estivermos na aldeia de Al Madan.
Os Emirados Árabes Unidos têm algumas semelhanças com Portugal, especialmente se falarmos na área que ocupam no globo ou no número de habitantes, mas a concentração nas grandes cidades é muito maior na terra dos records do mundo. 80% do território deste país é desértico e as áreas onde foram e continuam a ser construídos edifícios estão cada vez mais pressionadas pela areia.
O caminho até à aldeia de Al Madan faz-se de carro, a partir do Dubai. Ao longo da hora de caminho até aqui chegarmos vamos percebendo os movimentos da areia que vai também entrando na autoestrada. Quando chegamos percebemos que está completamente abandonada. As portas das várias casas aqui construidas estão escancaradas e as janelas já não existem.
A areia tapou todas as ruas da aldeia e entrou pelas casas adentro. O que antes eram salas, cozinhas, quartos ou casas de banho, hoje não são mais do que grandes depósitos de areia do deserto. Quem entra nestas divisões tem até dificuldade em manter-se de pé porque a quantidade de areia dentro da maioria das habitações já quase chega ao teto.
A aldeia de Al Madan vive hoje sob um manto de areia, mas também sob um manto de dúvidas e secretismo. As portas escancaradas dão a entender uma fuga da população. A tese mais óbvia é uma fuga às tempestades de areia constantes que se viviam nesta região, mas não é uma tese consensual.
Vários órgãos de comunicação social internacionais que quiserem conhecer a história desta aldeia contam que as testemunhas que restam da utilização deste espaço falam com frequência na existência de um espírito do mal, um animal com olhos de gato e grandes facas nas mãos terá espantado os residentes.
Seja a acreditar na tese mais óbvia ou na mais rebuscada, a verdade é que Al Madan já se tornou um ponto turístico. No país onde se criam atrações imponentes para atrair pessoas de todo o mundo, parece não haver interesse em explorar este espaço que deve manter-se quase inóspito até que a areia tape definitivamente as duas fileiras de casas e a pequena mesquita que ainda aqui podemos ver.
O caminho também não é óbvio. Há uma autoestrada que nos vai levar até um aparente ponto sem retorno. Tal como entrou nas casas desta aldeia, a areia também tapou os acessos e o caminho dado pelo Google Maps não está disponível. A solução é viajar até à Zona Industrial de Al Madan, parar o carro e caminhar dois minutos a pé.