Hospitalidade. Significa “modo generoso e afável de receber ou tratar alguém” na definição do dicionário Priberam. “Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos” é a frase que encabeça a entrada da Capela dos Ossos em Évora. Lá dentro, são os ossos humanos que saltam à vista.
Esta palavra e esta frase parecem não combinar em conjunto. Porque raio haveria de alguém querer entrar num lugar mórbido como este e sentir-se confortável por lá?
Mas, espantem-se, a Capela dos Ossos, com toda a sua hostilidade é mesmo um dos lugares mais visitados da cidade de Évora. Se calhar não é assim tanto o espanto, afinal é conhecido o gosto do ser humano por estes assuntos quase sobre naturais. Os mesmo gostos que no Séc. XVII dominavam as mentes de três frades franciscanos que a quiseram erguer, no coração do mosteiro onde viviam.
Estes três frades decidiram ocupar um dos seus dormitórios com este lugar de culto que, segundo os próprios, tinha como objetivo chamar a atenção das pessoas para a transitoriedade e fragilidade da vida humana. A ideia também passava por manter os fiéis em linha. Como uma visão tão real do que a todos ia acontecer, o melhor mesmo era levar uma vida de bom católico sem grandes pecados e com devoção.
A capela foi construída num espaço que antes funcionava como dormitório e os números são impressionantemente assustadores. Há pelo menos cinco mil crânios espalhados pelas paredes e tetos, outros ossos humanos e como elementos chave estão dois esqueletos pendurados por correntes. Um deles é de uma criança.
Todos estes elementos decorativos foram retirados de vários cemitérios que existiam em Évora. De acordo com os registos eram mais de 40 e estavam a ocupar terrenos importantes que impediam o crescimento da cidade. Solução? Abrir covas e retirar o maior número de ossadas possível para os agarrar às paredes desta capela.
Para além de as paredes estarem completamente forradas, os crânios surgem também alinhados nas arcadas, fazendo uma espécie de moldura para as os frescos pintados à mão. Como não podia deixar de ser, a morte foi o tema escolhido para estas obras de arte.
Os três frades que mandaram construir a capela também têm cá os seus ossos, mas não é preciso tentar descobri-los entre os restantes milhares, uma vez que lhes foi dada a privacidade de repousarem dentro de um túmulo fechado, junto ao altar.
Não vale a pena dizer que só os mais corajosos conseguem visitar a Capela dos Ossos porque isso não é verdade. Na maior parte das vezes ela está cheia de turistas, o que a transforma numa espécie de parque de diversões, sendo o seu objetivo relativizado.
Embora possamos duvidar que aquilo sejam mesmo crânios humanos, a verdade é que este espaço foi mesmo pensado para ser um lugar de fazer tremer as pernas. A luz só entra por três frestas, tornando-a sombria, está repleta de imagens ligadas à morte e lembra-nos a cada minuto que um dia também nós seremos apenas aquilo.
[wp-svg-icons icon=”ticket” wrap=”i”] adultos: €4 | jovens e idosos: €3
[wp-svg-icons icon=”clock” wrap=”i”] todos os dias: 9h às 17h [wp-svg-icons icon=”compass” wrap=”i”] Em Évora, a Capela dos Ossos encontra-se numa zona central da vila pelo que vai ser muito fácil chegar até ela a caminhar. [wp-svg-icons icon=”clock” wrap=”i”] Reserve pelo menos uma hora para visitar a Capela dos Ossos e prestar atenção a todos os seus pormenores.