Castelo dos Mouros. Nem Portugal conseguiu invadir a serpente de Sintra

Já não é dos Mouros, mas este castelo continua a ter a marca do povo que o ergueu. A serpente de Sintra é mais um imperdível de Portugal.

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Se é verdade que do topo da torre mais alta de um castelo deve ser possível ver toda a envolvente – e o Castelo dos Mouros cumpre este requisito – também é verdade que para quem quiser invadir um território, é importante mostrar-lhe que a fortaleza é difícil de transpor.

Do centro da vila de Sintra, não partimos na direção do castelo com o objetivo de o invadir, queremos entrar a bem. A mal, não conseguiríamos, mesmo estando a falar de uma estrutura mais antiga do que Portugal.

As muralhas que serpenteiam as colinas desta região irregular dão-lhe um ar quase natural. É como se não tivesse ali sido construído, antes fosse aquele o lugar onde nasceu sem interferência do homem. Mas foi, foi o homem que o construiu, com o objetivo de proteger um território. É esse o propósito de qualquer edificação deste género e Portugal tem-nas de sobra porque nunca lhe faltaram os inimigos.

Mas a idade do Castelo dos Mouros permite-lhe contar várias histórias de várias encarnações, incluindo a de ser ele próprio um inimigo de Portugal. Construído pelos Mouros, ainda antes de D. Afonso Henriques sonhar com a liderança de um reino, foi entregue ao primeiro Rei de Portugal de forma voluntária. É certo que as tropas portuguesas já tinham conseguido o domínio de Lisboa e Santarém, pelo que o inimigo pouco mais tinha a fazer do que render-se, mas também é certo que esta forma de passar a dominar o que se passava dentro daquelas muralhas lhe deu o raro selo de intransponibilidade.

Nem sempre respaldadas de verdade histórica, as lendas são pouco confiáveis, mas muitas vezes são bem mais interessantes do que a realidade. E numa história onde mais do que entre povos, a luta era entre religiões, ganha particular relevo uma história que conta como a divindade terá sido muito importante para que o Castelo dos Mouros passasse a ser dos cristãos.

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Reza a lenda que depois de ter conquistado Lisboa e Santarém, D. Afonso Henriques não estava seguro de que a transição do inquilinos no castelo fosse feita de forma pacífica, por isso enviou um cavaleiro templário e mais 19 cruzados espiarem a fortificação.

A viagem foi feita de noite para que não fossem descobertos e o rumo escolhido tinha como preocupação evitar Albernoz, um temido chefe mouro de Colares que tinha fama de ser implacável com os cristãos. Precisamente junto à povoação próxima do castelo, os homens encontraram Nossa Senhora que os tranquilizou: “Não tenhais medo porque ides vinte, mas mil ides”. A frase que lhes deu coragem para o resto do percurso e que previu uma entrega pacífica do castelo acabaria por ficar imortalizada na Capela de Nossa Senhora de Milides (“mil ides”), em Colares.

Fruto dos vários séculos que já viveu, o Castelo dos Mouros já foi fustigado por vários momentos trágicos da história, como é o caso do terramoto de Lisboa de 1755 que o deixou parcialmente destruído e ao abandono. Hoje é um dos monumentos mais visitados de Sintra, onde está incluído um núcleo museológico que tem como objetivo interpretar alguns dos artefactos ali encontrados ao longo dos tempos. Muitos deles, peças fundamentais da vivência de pessoas que ali viveram, quer no tempo do domínio mouro, quer já no tempo cristão.

Apesar de ser um elemento associado às guerras que Portugal travou para definir as suas fronteiras, o castelo que hoje é Património da Humanidade classificado pela UNESCO, também é um importante símbolo dos nossos valores. Apesar de já não ser Mouro, mantém esse nome e ao lado das bandeiras portuguesas de várias épocas, mantém-se uma bandeira moura, que nas letras brancas escritas em fundo verde se pode ler a palavra Sintra.

Símbolo desta reconciliação com o passado e alinhamento com os valores da tolerância é também um túmulo criado com vários restos mortais encontrados nas sepulturas do castelo. Sem saber se eram mouros ou cristãos, o Rei D. Fernando II mandou inscrever na lápide: “O que o homem juntou, só Deus poderá separar”.

Castelo dos Mouros
[wp-svg-icons icon=”location-2″ wrap=”i”] Sintra, Lisboa, Portugal
[wp-svg-icons icon=”ticket” wrap=”i”] adultos: €8 | jovens e idosos: €6,5
[wp-svg-icons icon=”clock” wrap=”i”] todos os dias: 9h às 18h30

[wp-svg-icons icon=”compass” wrap=”i”] O comboio (Estação do Oriente ou Estação do Rossio) é a melhor forma de chegar a Sintra a partir de Lisboa. Já em Sintra, o autocarro nº434 da Scotturb faz a ligação entre a estação de comboios e o Castelo dos Mouros.

[wp-svg-icons icon=”clock” wrap=”i”] Reserve pelo menos duas horas para visitar o Castelo dos Mouros.
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