A história ensina-nos que a relação que temos com os factos ocorridos no passado nem sempre é tranquila. As ideias que hoje vemos circular nos órgãos de comunicação social e nas redes sociais e que muitas vezes querem trazer episódios antigos para o centro do debate com os nossos olhos pode ser mais mediatizado, mas sempre as sociedades se viram a braços com a necessidade de interpretar a história. A velha Europa tem que lidar constantemente com o que fez de certo e de errado no passado e tentar conviver com isso de forma pacífica.
A verdade é que na maior parte das cidades europeias o convívio com os prós e contras dos nossos antepassados não tem sido mortífero para com os principais monumentos. Mas em alguns casos foi por um triz que não vimos reduzidas a pó algumas construções que hoje pagamos para contemplar. É o caso do Coliseu de Roma. É uma das sete maravilhas do mundo, mas teve um período na sua história em que foi deixado ao abandono, foi saqueado, quase desapareceu, mas alguma coisa consegui resistir. Até hoje há quem defenda que as práticas ali realizadas no passado foram incompreensíveis e peça o fim da veneração ao monumento.
O Castelo Sforzesco é mais um exemplo disso. A determinada altura na sua história, em 1800, passou para as mãos de Napoleão. O Rei que se quis coroar na Catedral Duomo de Milão não tinha particular apreço pela fortificação e mandou-o destruir. Não foi totalmente ao chão, mas as torres laterais e os bastiões desapareceram até que o arquiteto Luca Beltrani levou a cabo uma importante obra de restauro que lhe devolveu o aspeto que tinha quando nasceu.
Esta intervenção acaba por ser realizada pouco depois de um novo susto para a fortificação localizada no centro de Milão que na segunda metade do século XIX voltou a estar na mira de quem queria ver o espaço que ocupa livre. Houve uma grande discussão entre os habitantes da cidade numa altura em que muitos queriam destruir a fortificação para dar lugar a um luxuoso bairro habitacional. A prova de que nem sempre tudo corre mal é que a defesa do património prevaleceu e o castelo chegou aos dias de hoje.
E chegou até nós mais robusto e mais capacitado. É de uma fase posterior a esta ideia peregrina de destruição que surge uma das torres mais emblemáticas e o Parque Sempione. Estamos a falar de uma das mais importantes zonas verdes da cidade, com uma extensão generosa e que se abre com frequência à cidade quer seja para acolher eventos musicais ou feiras com carrosséis. É também um lugar muito agradável para estender uma toalha e fazer uma refeição.
O Castelo Sforzesco foi construído para ser uma fortificação militar e depois de sobreviver a todos estes percalços esteve muito perto ser destruída durante a Segunda Guerra Mundial. É uma espécie de sina que se repete porque poucos anos depois de ter passado a ser um gigantesco palácio ducal foi praticamente destruído durante a República Ambrosiana.
A família Sforza foi quem idealizou a estrutura e quem se empenhou em criar aqui uma das mais magníficas cortes europeias, mas as vicissitudes da história fizeram o castelo passar por mãos de austríacos e espanhóis que o devolveram à sua função militar original.
Atualmente o Castelo Sforzesco é um dos grandes epicentros culturais de Milão. Para além de ser um monumento que merece uma visita apenas pela sua arquitetura e características militares, alberga no seu interior vários museus. O mais relevante é muito provavelmente o Museu de Arte Antiga que inclui muito do tesouro da família Sforza, mas que também é a casa da Piedade Rondanini, o último e inacabado trabalho de Michelangelo.
Da lista de museus fazem ainda parte uma Pinacoteca com mais de 1.500 pinturas feitas entre os séculos XIII e XVIII; O Museu Egípcio com várias estátuas, sarcófagos, múmias e máscaras funerárias; O Museu da Pré-história e Proto-história que conta a história das principais culturas que estiveram na Lombardia do Neolítico até o período de romanização; E o Museu de Instrumentos Musicais com peças provenientes de diferentes partes do mundo.
[wp-svg-icons icon=”ticket” wrap=”i”] adultos: €7 | jovens e idosos: €5
[wp-svg-icons icon=”clock” wrap=”i”] terça a domingo: 10h às 16h30 [wp-svg-icons icon=”compass” wrap=”i”] A paragem de metro Cairoli (linha 1) é a mais próxima da entrada do museu. Também é possível chegar através da rede de elétricos: linhas 2, 4, 12 e 14. [wp-svg-icons icon=”clock” wrap=”i”] Guarde pelo menos duas horas para visitar o Castelo e os vários museus do seu interior.