Coliseu de Roma. O magnífico das atrocidades

Se pensarmos na função do Coliseu de Roma não vamos querer entrar. Mas pensemos que é uma das sete maravilhas do mundo e é uma sorte ainda estar cá hoje

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O Coliseu de Roma é mais uma das heranças da humanidade que nos deixam em conflito com a história. Mas não vale a pena tentarmos julgar o Império Romano com os olhos da civilização em que vivemos, o melhor mesmo é partirmos para esta descoberta com espírito crítico, sem deixarmos que a raiva do que aqui se passava nos impeça de olharmos para uma das Sete Maravilhas do Mundo, a única europeia, que conseguiu muito justamente esta distinção.

Acabámos de chegar aonde todos os caminhos vão dar. Não é possível que alguém não conheça este monumento verdadeiramente exemplar daquilo que o Homem era capaz de fazer há muitos séculos, mas também um exemplo de que tudo o que nos parece moderno e atual, está farto de ser usado. Falamos da estrutura. Estamos perante um anfiteatro que servia para uma comunidade se divertir em conjunto.

Não é muito diferente dos estádios de futebol que hoje existem e na verdade são poucos os que se lhe comparam ao nível da lotação. O Coliseu tinha capacidade para mais de 80 mil pessoas, em condições muito confortáveis. Os acessos eram feitos de forma ágil, por túneis que permitiam que se enchesse e se esvaziasse em poucos minutos. Parecem funções básicas, mas não podemos perder de vista o ano em que começou a ser construído: 72d.C.

A ordem para o lançamento da primeira pedra foi dada pelo imperador Flávio Vespasiano, mas só o seu filho, Tito é que o viu em plenas funções. Em homenagem ao pai, líder do império acabou por lhe dar o nome de Anfiteatro Flaviano.

Oito anos depois do início das obras, o Coliseu abriu finalmente ao público. Tito tinha um lugar cativo junto à arena, num camarote onde se juntava para ver os espetáculos com vários convidados. Nas bancadas, com acesso gratuito, estavam os romanos. Havia espaço para todos, se bem que com as devidas distinções sociais que deixavam os mais pobres nos lugares mais altos de onde a visão era mais limitada.

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Mais pobres até do que os que olhavam lá do alto, eram os protagonistas das festas. É certo que no início desta história eram militares em treino que subiam à arena, mas rapidamente foi preciso aguçar o delírio do público com escravos, criminosos e prisioneiros. Com lanças, espadas, tridentes, redes e escudos lutavam entre si. O jogo só terminava quando um dos combatentes morresse e muitas vezes o adversário tinha quatro patas e chegava a Roma vindo das colónias africanas. Eram essencialmente leões famintos que tinham que ser enfrentados por homens que ou matavam ou morriam.

Conscientes do que os esperava estes homens tinham um ritual que antecedia a luta, fazer uma vénia ao imperador e gritar a frase “Salve, Cesar. Os que vão morrer te saúdam”.

A inauguração durou 100 dias e mais impressionante do que o tamanho da festa, são os números que representam o rasto de sangue que esta forma de entretenimento deixou. Durante mais de três séculos de combates estima-se que mais de 10 mil gladiadores tenham morrido.

O ponto final foi escrito pelo imperador Flávio Honório que em 404 proibiu as lutas. O gesto de humanidade deixou o Coliseu quase sem funções e condenou-o ao esquecimento. É certo que ainda serviu para treinos de ambiente naval nos quais se alagava a arena. Mais tarde foi fortaleza da família de barões que dominava Roma e precisava de um lugar para se proteger dos insurgentes.

Sem identidade e quase sem funções é de ficar de queixo caído pensar que chegou até nós como uma forma ainda bem preservada. Faltam-lhe as mármores claras, da melhor qualidade, que revistam várias zonas da fachada. Foram saqueadas para ornamentar várias igrejas e monumentos católicos e diz-se até que algumas acabaram na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Há outros pedaços que não reagiram bem a um dos maiores inimigos de Itália, os terramotos. A história conta que muitas das partes que lhe faltam sofreram com os abalos. Apesar de tudo, sem a consciência sísmica que hoje existe é impressionante perceber que esta construção secular se conseguiu manter hirta. Para esta preservação talvez tenha contribuído a sensibilidade italiana para o património. O Coliseu é só o mais relevante monumento do Império Romano que chegou aos nossos dias, mas a capital italiana é toda ela um documento histórico vivo.

O Coliseu de Roma tem quase 50 metros de altura, é qualquer coisa como um prédio de 12 andares e ninguém sabe quem foi o arquiteto que o idealizou. A história falha aqui porque os grandes homens também são os que fazem, não apenas os que mandam. Mas se todos os detalhes fossem conhecidos, havia uma perda de misticismo, por isso é bom que continuem a faltar peças neste puzzle que deve continuar a ser construídos nos próximos séculos. Oxalá ele se aguente…

Coliseu
[wp-svg-icons icon=”location-2″ wrap=”i”] Roma, Itália (Piazza del Colosseo, 1)
[wp-svg-icons icon=”ticket” wrap=”i”] adultos: €16 | jovens até 18: gratuito
[wp-svg-icons icon=”clock” wrap=”i”] todos os dias: 8h30 às 19h (necessária pré-reserva)

[wp-svg-icons icon=”compass” wrap=”i”] De metro, saia na estação Colosseo da linha B.

[wp-svg-icons icon=”clock” wrap=”i”] Reserve pelo menos duas horas e meia para visitar o Coliseu, bem como as exposições patentes no interior.
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