No Museu da Ciência de Coimbra é possível ir ao passado procurar o futuro

Localizado na alta universitária de Coimbra, o Museu da Ciência é uma autêntica cápsula do tempo que guarda a forma de pensar das elites da ciência.

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Alexandre Rodrigues Ferreira partiu de Coimbra em 1783 em direção à floresta Amazónica com a nobre missão de identificar toda a vida animal, vegetal, e mineral de um espaço riquíssimo daquela que era a mais importante colónia portuguesa. Esteve lá nove anos e os resultados profícuos foram fundamentais para a máxima aplicada na academia da época, “saber é poder”.

A sabedoria como caminho óbvio para o poder era uma lógica da Europa iluminista das ciências, das artes e da cultura que foi trazida para Coimbra por Marquês de Pombal quando refundou a mais antiga academia portuguesa. Ele tinha a convicção de que à semelhança dos outros impérios europeus, Portugal também precisava de conhecer as suas riquezas naturais e numa verdadeira importação de cérebros convenceu ilustres físicos, químicos e naturalistas a mudarem-se para Coimbra e a transferirem os seus conhecimentos para os estudantes portugueses.

Nessa importação chegou Domenico Vandelli, um naturalista com uma coleção de espécies minerais, vegetais e animais verdadeiramente exuberante que permitiu aos estudantes de Coimbra um contacto mais aprofundado com a natureza sem saírem das salas da universidade.

Anfiteatro antigo para aulas de física e química no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra. Foto de Diogo Pereira
Um dos anfiteatros do Museu da Ciência, onde os alunos da Universidade de Coimbra assistiam a aulas teóricas

Vandelli ensinou, mas também quis aprender, quis aumentar a sua coleção e quis ser responsável por uma ampliação substancial dos conhecimentos da natureza. Haviam já várias regiões do mundo conhecidas no que às suas composições animais, minerais e vegetais diz respeito, mas havia uma, porém a mais rica, aonde nunca ninguém tinha entrado, a Amazónia. E só a partir do reino português, que impedia a entrada de outros europeus no Brasil, isso podia ser feito.

Começou então a ser preparada uma expedição que acabaria por ser mais vasta e para além de enviar Alexandre Rodrigues Ferreira para o Brasil, outros quatro naturalistas seguiram viagem em direção a outras colónias portuguesas como Angola, Moçambique e Goa. Mas foi no Brasil que se produziram mais resultados e esta conclusão ainda hoje é evidente no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra. Aqui somos conduzidos para uma verdadeira cápsula do tempo e embora sem o calor e humidade extremas, podemos mesmo dizer que estamos na Amazónia brasileira.

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Rodrigues Ferreira foi responsável por capturar uma série de animais da selva e de os enviar para Portugal. Mesmo passados todos estes séculos, as técnicas que consistiam em tirar todas as entranhas dos animais, enrolar as peles e colocá-las num navio que podia demorar várias semanas a chegar à sede do império, ajudaram a preservar um património singular da cultura científica portuguesa.

Animais embalsamados no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra. Foto de Diogo Pereira
Animais no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra
Urso embalsamado em exposição no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra. Foto de Diogo Pereira
Um urso no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

No Museu da Ciência da Universidade de Coimbra é precisamente a sala onde estão os animais capturados pelos naturalistas de Vandelli que mais chama a atenção. E mais impressionante do que a chegada até aos dias de hoje de corpos biológicos que nunca se degradaram, é a própria construção dos animais que chegavam completamente esvaziados e eram montados para ganharem a forma que tinham antes de morrerem. Esta proeza só se conseguiu graças aos riscadores, a quem hoje chamaríamos de técnicos de desenho técnico, que acompanhavam os naturalistas durante as expedições com o objetivo de mostrar como eram os animais no seu habitat natural. Não havia recurso à fotografia e os desenhos técnicos acabaram por se revelar autênticas obras de arte.

Três avestruzes embalsamadas em exposição no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra. Foto de Diogo Pereira
Avestruzes no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra

Mas nem só de animais e plantas da selva vivem as galerias deste museu. Como uma das principais universidades europeias da época, a Universidade de Coimbra dispunha ainda de Gabinetes de Física e de Química, tendo preservado até aos dias de hoje uma série de instrumentos usados por estudantes de outros tempos para compreender o mundo.

Sala de exposições com instrumentos de ensino de física e química no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra. Foto de Diogo Pereira
Gabinete de Física Experimental com instrumentos da época
Balão de ar quente a subir em direção ao teto no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra com o sistema periódico dos elementos químicos em fundo. Foto de Diogo Pereira
Balão de ar quente ao lado d’O Sistema Periódico dos Elementos Químicos

Para as crianças os animais são um verdadeiro deleite, mas também há experiências físicas que podem experimentar, num ambiente paradoxalmente clássico. É como olhar para o futuro, o nosso futuro, a partir dos olhos do passado.

Museu da Ciência da Universidade de Coimbra
[wp-svg-icons icon=”location-2″ wrap=”i”] Coimbra, Portugal (Alta Universitária)
[wp-svg-icons icon=”ticket” wrap=”i”] crianças até 13 anos: grátis | estudantes e idosos: €3,5 | adultos: €5 | entrada gratuita para estudantes, professores e funcionários da Universidade de Coimbra
[wp-svg-icons icon=”calendar-2″ wrap=”i”] todos os dias: 10:00 às 19:30

[wp-svg-icons icon=”compass” wrap=”i”] O autocarro 1A, 34 e 103 são os mais aconselháveis para conseguir chegar ao Museu da Ciência.

[wp-svg-icons icon=”clock” wrap=”i”] Para visitar o Museu da Ciência guarde pelo menos um hora e meia.
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