Os anos finais da década de 80 e toda a década de 90 não foram famosos para a cidade espanhola de Bilbau. Até ali era um dos portos mais importantes de Espanha, mas as indústrias mais comuns da região estavam a perder terreno para as economias mais competitivas. Até aí a cidade tinha a beleza que qualquer cidade industrial pode ter. Quem estava lá, estava porque tinha trabalho. Acabado o trabalho, só fica quem não tem para onde ir.
Só chegámos a Bilbau em 2019, fomos porque já toda a gente falava dela e por isso não podemos dizer que fomos percursores de coisa nenhuma. É difícil pensarmos como é que uma cidade com tanto carisma pode já ter sido qualquer coisa que não isto que é agora. E o Guggenheim é o grande responsável pela nova vida da cidade basca e é a prova de como a cultura e a arte podem mudar o rumo de um sítio.
Foi inaugurado há mais de 20 anos e o preço que custou quase que não o deixou sair do papel. Frank Gehry foi exuberante e deu-lhe um ar extraterrestre com recurso a três materiais fundamentais, a pedra, o vidro e o titânio, sendo estes dois últimos os grandes responsáveis pela imagem de abertura à cidade que o arquiteto americano queria que existisse desde logo. A forma como o titânio que cobre o exterior rompe os vidros e chega ao átrio interior demonstra a abertura permanente.
Jeff Koons é um dos artistas mais destacados do Guggenheim. Ele que recentemente fez manchetes mundiais por ser o primeiro artista vivo a vender uma escultura por valores astronómicos. “Rabbit”, um coelhinho metalizado com semelhanças àquelas construções feitas com balões compridos foi criado em 1986 em aço inoxidável e custou a quem a arrematou por 81 milhões de euros. Embora tenha ficado em mãos privadas, há mais quatro exemplares distribuídos por museus americanos e do Qatar.
Em Bilbau estão duas peças dele. Uma delas é o “Puppy”, um gigantesco cão coberto de flores, criado em 1992, e que dá as boas vindas aos visitantes, com o seu ar simpático e dócil. “As Tulipas” também podem ser vistas do lado de fora do museu, mas é através do interior que chegamos bem perto delas. Estão numa espécie de terraço e funcionam como pontos de cor para lá dos vidros cheios de movimentos criados por Frank Gehry. Pertencem à ambiciosa série intitulada “Celebration”, iniciada em 1994 e com inspiração em objetos associados a festas de aniversário, férias e outros acontecimentos festivos e que transportam o artista para a sua infância.
Ainda mal começámos a visita e já se torna difícil de questionar a forma evidente como o Museu está completamente aberto para a cidade. As janelas são grandes, mas não é por isso que falamos na relação próxima entre a cidade e o museu. É porque o museu dá muito a todos os que passam por ali perto. Antes mesmo de comprarmos os bilhetes já tínhamos visto o “Puppy”, a aranha gigante “Mama” de Louise Bourgeois, a escultura de esferas que parecem atiradas sem ordem, mas que são resultado de uma matemática apurada e até às “Tulipas” deitámos olho, mesmo sabendo que íamos poder vê-las mais de perto.
Quase tudo parece ampliado e as primeiras obras verdadeiramente exclusivas para os visitantes não fogem à regra. Richard Serra pôs-nos a interagir diretamente com as obras que criou. Tratam-se de esculturas pelas quais nos podemos perder. Caminhamos em torno delas, mas também no interior e precisamos de confiar totalmente neste artista americano, porque no audio guia ouvimos dizer que as paredes gigantes que se dobram por cima de nós se mantém em pé sem necessidade de serem agarradas ao chão. Quem diria que esta “The Matter of Time” – assim se chama esta obra – era obra de um percursor do minimalismo mundial.
[wp-svg-icons icon=”ticket” wrap=”i”] adultos: €13 | estudantes e idosos: €7,5
[wp-svg-icons icon=”clock” wrap=”i”] terça a domingo: 10h às 20h
[wp-svg-icons icon=”link” wrap=”i”] aceda ao site [wp-svg-icons icon=”compass” wrap=”i”] Localizado no centro de Bilbau, o Guggenheim está a uma caminhada de qualquer ponto da cidade. [wp-svg-icons icon=”clock” wrap=”i”] Reserve pelo menos duas horas para conseguir visitar o museu.