Parque do Barrocal. A história natural de Castelo Branco foi destapada

Há mais de 300 milhões de anos que este património natural mora em Castelo Branco. O Parque do Barrocal vem para o mostrar a toda a gente

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Os últimos anos ajudaram Portugal a reconciliar-se com o seu património. A pandemia pode ter dado um empurrão ao consumo interno, mas o destaque que o país foi ganhando no estrangeiro e a capacidade que conseguiu para atrair turistas foram fundamentais. Os monumentos passaram a ser muito requisitados, mas também passou a ser possível olhar para um património menos óbvio, mas igualmente fascinante. De norte a sul do país foram muitos os passadiços que nasceram com a vontade de pôr no mapa a natureza e encará-la como um ativo importante.

Em Castelo Branco o património estava lá há mais de 300 milhões de anos, era valorizado pelos que lá viviam, mas não era óbvio para quem visitava a cidade. A menos de um quilómetro do centro, a autarquia inaugurou o Parque do Barrocal, uma espécie de passadeira vermelha estendida sobre um património natural de valor incalculável.

Este passeio no parque faz-se em cima de passadiços que respeitam a envolvência e não fazem mais do que nos encaminhar para os lugares onde podemos ver aquilo a que chamaríamos obras de arte se estivéssemos num museu. Estas traves de madeira e corrimões metálicos são tão bem desenhados que parecem um lençol a pousar em cima de uma cama e a ganhar a sua forma.

O mérito é dos arquitetos Teresa Barão, Luís Ribeiro e Catarina Viana e a distinção chega de várias partes do mundo. Mesmo antes de abrir portas aos visitantes, este projeto já ganhava o Architecture Master Prize na categora de espaços públicos, uma das mais reputadas distinções do setor. Pouco tempo depois, ainda o país mal se tinha apercebido desta nova atração e já estava mais um prémio a caminho, o World Architecture News Awards, ganho a outros projetos igualmente respeitadores da natureza e levados a cabo em países como os Estados Unidos, México, Dinamarca ou Austrália.

Ao longo do caminho do Parque do Barrocal há vários exemplos desta arquitetura respeitadora. Quer sejam os vários miradouros que permitem observar a cidade de Castelo Branco, quer sejam os que permitem ver de vários ângulos as rochas, a fauna e a flora. Mas também há o Túnel do Lagarto, o Círculo do Domo ou até uma ponte suspensa que dá acesso a um dos lugares elevados.

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As rochas que ladeiam os caminhos que vamos percorrendo estão aqui há mais de 300 milhões de anos. Nem sempre tiveram esta forma porque a vida de uma pedra também pode ser dinâmica e atribulada. É certo que é preciso esperar muitos anos para se perceber essa atividade (mais do que a escala humana pode comportar), mas a dança das placas tectónicas e a erosão das águas subterrâneas deram-lhes várias vidas e é a mais recente que podemos observar aqui. Se pudéssemos cá voltar daqui a meia dúzia de milhões de anos, talvez o cenário fosse diferente.

Mas o Barrocal também é a paisagem que resulta de aventuras de várias gerações. O granito que aqui existe foi muitas vezes usados para fazer alguns dos monumentos mais emblemáticos da cidade e no final do Séc. XIX foram muitas as pedreiras que aqui se instalaram e que deixaram marcas na paisagem.

Em família, com amigos ou sozinho, este espaço é oferecido à cidade para que seja possível passear nele, fazer exercício físico, brincar ou simplesmente relaxar. À medida que os passos se vão sucedendo nas traves de madeira é possível ir encontrando informação sobre o que nos rodeia. E o que nos rodeia é uma paisagem que vai mudando de forma e de cor à medida que as estações do ano passam, mas há elementos que apesar de mudarem de forma, estão cá sempre: o carvalho-negral, que representa o domínio florístico continental e o sobreiro e a azinheira que representam o mediterrânico.

Na primavera temos outra alegria: o cantar das aves. Podemos ouví-las, mas também podemos tentar observá-las no Observatório dos Abelharucos, uma estrutura circular e elevada onde somos convidados a abrir um dos bancos metálicos localizados nas extremidades, sentamo-nos e esperamos que eles apareçam. Não são os únicos e até há quem apareça durante a migração outonal: o Papa-moscas-preto. E no inverno o Petinha-dos-prados, o Tordo-pinto e o Pisco-de-peito-ruivo escolhem o Barrocal para viver.

A visita com crianças pode ser particularmente especial porque os mais novos vão poder correr à vontade, sem grandes perigos. No final da visita ainda têm um parque com escorregas e baloiços.

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