As indústrias que hoje vemos desaparecer à medida que a tecnologia vai avançando foram as grandes responsáveis pelo desenvolvimento das maiores cidades e países do mundo e pela evolução da humanidade. Deram-nos grandes avanços tecnológicos que nos permitiram ter melhores condições de vida e, em alguns casos, permitiram mesmo vivermos mais anos e com mais qualidade de vida. Agora temos visto muitas delas desaparecerem e há um lado positivo nisso: a poluição tende a ser menor e há menos gente a fazer trabalhos repetidos ou perigosos.
Foi exatamente isso que aconteceu no distrito de Bicocca, em Milão. As grandes fábricas que aqui se foram instalando ao longo das décadas foram sendo desativadas e em vez de se perder a oportunidade de criar uma nova área da cidade, partiu-se para a construção de novos complexos estudantis, centros administrativos e novas casas. As antigas fábricas foram sendo desmanteladas, mas houve uma que resistiu com o propósito de mostrar que a Itália não é apenas o lugar da arte clássica, dos monumentos imponente e da história. É também o lugar dos novos criadores.
É preciso afastarmo-nos do centro de Milão para chegarmos ao Pirelli Hangar e o edifício gigante não deixa que nos percamos à procura da entrada: são mais de 15.000 metros quadrados e mais de 30 metros de altura que o transformam num dos maiores espaços de exposições da Europa. Chegámos a um complexo industrial onde já foram fabricados comboios, máquinas agrícolas e armamento do guerra. A empresa que aqui funcionava chamava-se Breda, foi fundada em 1886, mas só chegou a Bicocca em 1903.
A entrada é gratuita e todos os eventos aqui promovidos também têm acesso livre, o que transforma este espaço numa espécie de oferta à cidade feita pela Pirelli. A conhecida marca de pneus foi fundada aqui em Milão e é a principal mecenas deste espaço.
À medida que vamos caminhando por este espaço imenso vamos descobrindo as obras de vários artistas contemporâneos. Uns mais conhecidos que outros, mas todos com obras exclusivamente pensadas para este espaço. Esse é quase sempre o ponto de partida das várias exposições temporárias: desafiar o artista ou os artistas a interagirem com o espaço e isso tem resultados que muitas vezes são imprevisíveis.
Este mesmo desafio foi lançado ao vetusto pintor e escultor alemão Anselm Kiefer. Com 76 anos é possível que este não tenha sido o maior desafio da sua vida, mas certamente foi um dos que o fez sentir-se em casa – literalmente. Entre 1993 e 2007 mudou-se para uma cidade no sul de França e adaptou um gigantesco armazém de mais de 350 mil metros quadrados na sua casa e estúdio. Fazer uma obra para o Pirelli Hangar talvez não tenha sido surpreendente.
Mas surpreendeu. De tal forma que a obra que construiu para a inauguração do Pirelli Hangar, em 2004, ainda hoje se mantém e é a única instalação permanente deste espaço, todas as outras vão mudando. A obra em causa chama-se ‘Os Sete Palácios Celestiais” e é impactante pelo tamanho, a altura, o peso e o ar frágil.
Anselm Kiefer inspirou-se nos palácios descritos no “Livro dos Palácios e Santuários”, que remonta aos séculos 4 a 5 d.C. e que retrata o caminho que qualquer pessoa deve fazer para se aproximar de Deus. São mais de 90 toneladas em torres que variam entre os 14 e os 18 metros de altura feitas em betão armado e que são quase interativas. Apesar da fragilidade aparente, os visitantes podem aproximar-se e perceber os detalhes destas obras que apesar da brutalidade dos materiais e das dimensões também conseguem ser delicadas.
[wp-svg-icons icon=”ticket” wrap=”i”] grátis
[wp-svg-icons icon=”clock” wrap=”i”] quinta a domingo: 10h30 às 20h30 [wp-svg-icons icon=”compass” wrap=”i”] Os autocarros 51 e 87 têm paragens junto à entrada do Pirelli Hangar. [wp-svg-icons icon=”clock” wrap=”i”] O Pirelli Hangar tem dimensões muito grandes. Reserve pelo menos duas horas para visitar o espaço.