Chegamos à Quinta do Bomfim em rota de colisão com o vinho. Estamos no sentido inverso àquele que é feito pelas pipas que o levam até Vila Nova de Gaia para terminarem o amadurecimento antes da comercialização. Atracamos na doca depois de um passeio pelo Douro, envolvidos pela maior área de vinha de montanha do mundo e que é Património da Humanidade.
Os Barcos Rabelo como o que usámos nesta viagem já não são responsáveis pelo transporte do vinho, agora são os turistas que os usam para apreciar uma das paisagens mais emblemáticas do planeta. É impossível que alguém não saiba onde está quando olha para as vinhas que se erguem em socalcos nas montanhas que dão caminho ao rio.
Da doca do Pinhão à porta principal da Quinta do Bomfim contam-se meia dúzia de minutos e chegados à entrada somos logo convidados a conhecer a história de uma família que não sendo portuguesa, conhece bem um dos maiores tesouros do nosso país.
Os Symington estão em Portugal desde o séc. XIX e a sua ligação ao vinho do Porto é tão antiga como esta presença. Hoje é a quarta e quinta gerações que tomam conta do negócio da família, com 26 propriedades espalhadas pelo Douro que totalizam 1.024 hectares plantados com vinha. A provar estes factos estão as várias fotografias e documentos expostos logo na entrada deste complexo.
A visita segue na direção de um dos mais importantes espaços de toda a produção do vinho: a adega. Habituados que estamos às adegas rurais, esta surpreende pela modernidade. É um espaço completamente renovado e tecnológico que ajuda a perceber que a evolução técnica ajuda a aprimorar uma arte antiga que, claramente não está presa ao passado.
A Quinta do Bomfim é um autêntico museu em vida real. Está preparada para que os visitantes possam perceber como tudo funciona, nos lugares certos e sem artifícios. Estivéssemos no período áureo da vindima e aquilo que víamos aqui eram centenas de pessoas a chegar com os cachos, a uvas a ser pisadas no lagar e o transporte a ser feito para os depósitos.
Dos patamares elevados sobre a adegar também é possível ver os modernos depósitos onde o vinho é guardado, mas é na cave antiga que os Symington conseguem juntar ainda mais magia à relíquia que o clima do Douro lhes dá.
Construída em 1986, esta cave ainda hoje é usada para armazenar todo o vinho que é produzido pela Quinta do Bomfim, antes de seguir de barco para Vila Nova de Gaia, onde vai ganhar um amadurecimento extra. Da cidade voltada para o Porto, o vinho segue o seu caminho até à mesa de milhares de pessoas em Portugal, mas sobretudo espalhadas pelo mundo, que o apreciam.
Os Symington são os responsáveis pela produção de alguns dos melhores vinhos do Porto do mundo. São deles as tão conhecidas casas Graham’s, Cockburn’s, Dow’s e Warre’s.
Durante a visita explicam-nos que uma das chaves para o sucesso é manter quase todo o processo manual e não há muitos segredos. Para além da visita a vários espaços de produção, durante as vindimas também é possível acompanhar o trabalho das centenas de pessoas que apanham as uvas nos socalcos do Douro. A tudo isto junta-se a paixão e o conhecimento adquirido ao longo de séculos e depois basta esperar que o Douro faça a sua parte.
E o Douro faz muitas vezes de forma irrepreensível a sua parte. Provamos isso no final desta visita, experimentando alguns dos vinhos que daqui saem todos os anos. Fazemo-lo a olhar para as vinhas a partir do terraço da quinta.
A visita não termina sem uma passagem na loja da Quinta, onde os preços dos vinhos acompanham a qualidade e alguns são, de facto, muito elevados. Mas também não é para menos porque o reconhecimento da qualidade é unânime.
Em 2007, o Porto Vintage da Dow’s transformou-se no único Porto Vintage deste século a receber 100 pontos da Wine Spectator. Já o de 2011 foi premiado com o N° 1 Wine in the World em 2014 pela mesma publicação.
O vinho do Porto não é apenas uma bebida, para os mais românticos pode ser uma declaração de amor a uma das regiões mais fascinantes do país e para os mais pragmáticos pode ser um investimento. Uma garrafa de vinho do Porto pode facilmente atingir os milhares de euros à medida que os anos passam.
[wp-svg-icons icon=”ticket” wrap=”i”] €17 (inclui visita guiada e prova de vinhos do Porto)
[wp-svg-icons icon=”clock” wrap=”i”] todos os dias: 10h30 às 19h (necessária pré-reserva) [wp-svg-icons icon=”compass” wrap=”i”] Chegando de carro ao Pinhão é muito fácil encontrar a Quinta do Bomfim. [wp-svg-icons icon=”clock” wrap=”i”] Reserve pelo menos duas horas para visitar a quinta e provar os vários Portos com tempo.