Insistimos em chamar-lhe Templo de Diana e até o jardim mesmo em frente se chama Jardim de Diana, mas o Templo Romano de Évora não é dedicado a Diana. Não há problema, já nos afeiçoámos ao nome e podemos continuar a chamar-lhe assim, mas precisamos de perceber que a história só lhe deu este nome por um acaso, na verdade por uma lenda dessas que tantas voltas dão às cabeças dos cientistas. O difícil depois é encontrar fios condutores racionais para as informações que atravessam os séculos.
Reza a lenda que foi o jesuíta Manuel Fialho que associou o Templo Romano de Évora ao culto a Diana no século XVII. Estamos a falar da filha de Jupiter, Deusa da Caça que de acordo com dados passados a pente fino por dois investigadores alemães não tem qualquer ligação com a cidade e muito menos com este monumento. A investigação de que estamos a falar atribui a construção do templo ao culto imperial, tendo sido construído para endeusar ainda mais o imperador Augusto, um dos homens que mais desenvolveu o império Romano.
Estas conclusões foram apresentadas em 2018, mas já vários anos antes um estudo anterior tinha seguido a mesma direção. Posto isto, este monumento, classificado como Património da Humanidade e ex-libris de Évora parece mesmo estar completamente afastado da Deusa da caça.
Aquilo que chegou até aos dias de hoje é verdadeiramente impressionante se pensarmos que estamos a falar de uma estrutura do século I d.C. e se a isso acrescentarmos as lutas fratricidas que o império romano teve que enfrentar ao longo da sua história. Já conhecemos muitas estruturas deste género que resistem bem ao passar do tempo, mas não podemos deixar de ficar de queixo caído ao sabermos que os bárbaros fizeram tudo para o destruir com vários ataques e não conseguiram, pelo menos de forma definitiva.
O tempo também costuma ser um dos maiores inimigos destas estruturas, mas o Templo Romano de Évora tem sido alvo de várias intervenções que o têm ajudado a viver mais anos e a recuperar algumas das suas peças que vão caindo. A última vez que esteve completamente coberto de tapumes foi em 2017. É provável que muitos dos que o tentaram ver ficaram desiludidos com os andaimes, mas quem gosta de história sabe que a preservação é a única forma de ajudarmos a que chegue a mais gente durante mais tempo.
No centro de Évora são muitos os turistas que vêm de várias partes do mundo para visitar esta preciosidade e muitos devem fazer um exercício de concentração fora do normal e olhar em volta várias vezes para se certificarem de que estão mesmo em Portugal. Se fecharmos os olhos durante alguns segundos e os abrirmos na direção do Templo de Diana vai ser difícil não pensarmos que estamos na Grécia Antiga ou a visitar o que sobra do Império Romano em Itália.
As suas linhas perfeitamente alinhadas com as que vemos noutros pontos do império romano são impossíveis de confundir com outras correntes ou outras épocas. Este é o maior exemplo da arte romana em Portugal, com 302 metros de altura e que fazia parte do Fórum Romano de Évora. As várias colunas que ainda mantém de pé ajudam a perceber que é muito parecido com o Templo de Diana de Mérida, em Espanha.
A história foi-lhe dando várias vidas, tendo até sido usado como fortaleza em plena idade média, numa posição fundamental para a vitória na Revolução 1383-1385 a favor do Mestre de Avis. Acabada a necessidade de defesa foi reconvertido em matadouro municipal. Assim ficou por vários séculos.