Aquincum é o nome que os romanos escolheram para batizar a cidade que fundaram no local onde hoje está Budapeste. Um nome que deriva da palavra aqua, que significa água, e que ainda hoje ajuda a dar nome aos habitantes da cidade, são os aquincenses. A água é uma espécie de traço indelével da capital da Hungria, desde logo porque o Danúbio, que a rasga ao meio, é uma peça fundamental para contar a sua história, mas também porque as termas são uma espécie de obrigatoriedade no roteiro.
Fizemos uma pesquisa e descobrimos sete termas que merecem ser visitados, mas como o tempo não estica e nas águas quentes de Budapeste não se pode pedir pressa, há dois que ajudam qualquer turista a ficar submerso por esta cultura que não é apenas de velhos e doentes. Ir relaxar a uma destas maravilhas húngaras é um hábito que muitas famílias têm, como uma espécie de almoço de domingo. E também muitos grupos de amigos que aqui passam tardes completas, em antecedência a festas de música eletrónica que rasgam noite adentro.
Termas de Széchenyi
[wp-svg-icons icon=”location-2″ wrap=”i”] Budapeste, Állatkerti krt. 11
[wp-svg-icons icon=”ticket” wrap=”i”] entrada com compartimento: 6200HUF | entrada com cacifo: 6000HUF
[wp-svg-icons icon=”calendar-2″ wrap=”i”] todos os dias: 6h às 22h
O edifício é neobarroco e foi plantado no parque da cidade no início do século XX. Só esta descrição simples é suficiente para começarmos a perceber exatamente do que estamos a falar, um edifício imponente, muito trabalhado e com uma localização privilegiada. Um luxo que faz antever a importância que os húngaros deram e dão às termas.
São 15 piscinas de diferentes tamanhos, sendo três delas na rua. Uma das experiências obrigatórias desta viagem é estar dentro duma piscina com temperaturas negativas no exterior, tarefa facilitada pelas altas temperaturas das águas, que ali chegam naturalmente a cerca de 37ºC.
O percurso começa com a atribuição de uma pulseira eletrónica que facilita a passagem pelas barreiras que dão acesso aos balneários. Há a possibilidade aluguer de cabines, onde a troca de roupa se faz com mais privacidade, mas por um preço mais baixo é possível aceder a um balneário comum, com cacifo, onde é possível deixar objetos pessoais. Entrar numa cabine de madeira é uma espécie de viagem ao passado, à época em que homens e mulheres não se cruzavam por aqui, uma vez que os dias disponíveis para cada género iam alternando.
Fato de banho vestido e toalha debaixo do braço, a circulação faz-se livremente e há uma espécie de troca naquilo a que estamos habituados, porque não é preciso coragem para entrar na água, a coragem fica reservada para quem quiser usufruir das temperaturas agressivas da capital húngara. Os lábios não ficam roxos e os dentes não batem, o desafio é largar o conforto da primeira piscina com a qual nos cruzamos para irmos experimentar a próxima.
Não fazer nada dentro de água é a atividade mais comum, mas os mais irrequietos podem pôr uma toca na cabeça para darem umas braçadas na piscina principal do complexo. É a maior e a mais vazia, porque ninguém vem para aqui para se cansar. Pelo menos fisicamente, porque há quem não se importe de exercitar a mente através de uma partida de xadrez. Não experimentámos, mas diz-se por aí que os entre piões e cavalos, os húngaros gostam mesmo de ser desafiados para um jogo.
Não é difícil encontrar uma espreguiçadeira, mas este também não é um objeto muito valorizado por aqui. O difícil é encontrar os lugares ideais dentro das piscinas para nos sentarmos confortavelmente e trocarmos dois dedos de conversa ou encostarmos a cabeça à borda de olhos fechados enquanto não somos pisados por um francês ou ouvimos os gritos de um espanhol e, mais habitual ainda, percebemos claramente um palavrão de um português que rodeado por várias centenas de pessoas acha que ninguém o vai perceber.
As pessoas são mesmo o bem mais visível por aqui. São tantas que muitas vezes parece que a água desapareceu. Também pelos chinelos no chão se percebe que o número de pés dentro de água é elevado e a possibilidade de um deles estar demasiado perto de nós é gigante. Estas são as termas mais populares de Budapeste e são quase obrigatórias, por isso vale mesmo a pena o sacrifício.
Termas de Gellért
[wp-svg-icons icon=”location-2″ wrap=”i”] Budapeste, Állatkerti krt. 11
[wp-svg-icons icon=”ticket” wrap=”i”] entrada com compartimento: 6500HUF | entrada com cacifo: 6100HUF
[wp-svg-icons icon=”calendar-2″ wrap=”i”] todos os dias: 6h às 20h
É possível entrar no espírito húngaro, sem ser pisado por centenas de outros turistas recorrendo às termas de Gellért. Ouvimos dizer que é aqui que os húngaros vêm para as habituais festas de música eletrónica ou para as reuniões familiares.
A imponência mantém-se e logo à entrada as boas vindas são dadas por um átrio com mosaicos em tons de vermelho, bege e azul e um teto de vidro ao estilo art nouveau. Estamos num hotel do lado Buda de Budapeste dos mais luxuosos e históricos que a cidade tem. Como ouvimos dizer que era para aqui que os húngaros vinham, também ouvimos dizer que aqui se tomaram muitas decisões políticas, já que os soviéticos eram fãs de águas quentinhas.
O acesso é semelhante ao de Széchenyi, mantém-se a tal pulseira e as cabines de madeira para a mudança de roupa. O espaço é que se reduz substancialmente, mas mantém-se a possibilidade de experimentar várias piscinas, bem como outros serviços como sauna ou banho turco.
Entre os pilares góticos muito trabalhados e por baixo de várias varandas com proteções de ferros arredondados está a piscina principal do complexo. Só se pode entrar de toca e é ideal para nadar.
Procuramos os velhinhos com doenças nos tendões ou nas articulações e é muito difícil encontrá-los, mesmo tendo o serviço nacional de saúde húngaro um orçamento especial para comparticipar estes tratamentos. Concluímos aquilo que já nos tinham dito, as termas de Budapeste são muito mais associados a lugares de convívio do que a uma espécie de centros medicinais onde se vão curar doenças.