Deixei-me embalar por aquele frenesim de pessoas que, à hora de ponta, se atrapalhavam para entrar no comboio cheio.
Podia ser, para mim, mais um dia de rotina normal de saída do trabalho, mas não, o sotaque denunciava-o. Estava em Paris. Começava assim o “Quarto Crescente”.
Envolto na agitação típica de uma grande cidade, deti-me, por momentos, sentado num banco em plena estação, a observar conversas e movimentos. É um exercício que gosto de fazer, mesmo em Lisboa, de ficar por uns tempos apenas a observar o que me rodeia, a sentir a atmosfera e a energia dos que estão à minha volta… a mãe que puxava o filho para não se atrasar para o próximo metro, a senhora de negócios que falava apressadamente ao telemóvel, os turistas perdidos às avessas com um mapa, telemóveis nas mãos e cabeças para baixo, o homem que esgravatava o lixo à procura de algo para comer.
É assim nas cidades modernas. Vida debaixo da Vida. Da cidade da Torre, da Mona e do Arco, que nos prende a respiração a cada paisagem, num ambiente cosmopolita e multicultural, onde as ruas cheiram a croissants acabados de fazer e os museus a perfume, onde a presença de polícias é constante e onde pombos esperam em grupos por bocados de pão nos jardins e os ratos escondem-se por entre o lixo (e já vi uns quantos pelos jardins).
Sentir a cidade é embrenhar-me na rotina local e deixar-me perder pelas ruas. Comprar uma baguete para o almoço no supermercado (afinal a viagem está a começar e a cidade é cara), esforçar-me por pedir um café em francês, andar nos transportes públicos à hora de ponta e acompanhar as notícias locais, que destacam a realização o Fórum de Paris sobre a Paz, que decorre este fim-de-semana.
Acabei a jantar em casa dos meus tios, que emigraram nos anos 70 para França, onde aproveitámos para falar de Portugal e do quão se tem ouvido falar dos portugueses e de Lisboa nas notícias francesas, como um destino turístico que anda nas bocas do mundo, mas também da situação francesa, do Macron e do custo de vida em Paris, que têm sentido aumentar.