O meu retiro no Nepal chegou ao fim

Sou de coisas simples. Pouco complexas. De pessoas com coração grande e desprovidas de julgamentos. Sou intuitiva de natureza e observadora de virtude.

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Kathmandu, 7 de Maio de 2017

Sou de coisas simples. Pouco complexas. De pessoas com coração grande e desprovidas de julgamentos. Sou intuitiva de natureza e observadora de virtude. Gosto de pessoas completas e “por completar”, intensas e das suas fragilidades naturais. Não gosto de dramas, julgamentos e em vez de problemas, prefiro desafios. Sou de sorriso fácil e sensível ao que me rodeia. Vejo os erros como aprendizagens diárias e os falhanços como desafios reais para crescer mais. Sou cuidadora, expontânea e transparente. Preocupo-me com o que me rodeia e sou sensível ao sofrimento dos outros. Sou uma “tagarela do pior” e utilizo o silêncio como reflexão, ou porque simplesmente, estou a assimilar tudo. Sou uma pessoa de pessoas.

Conheço-me profundamente, até nas interlinhas. Sei quais são as minhas virtudes e os pontos que tenho para melhorar. Sei que cada dia é transformador e que o “comboio do auto conhecimento tem muitas carruagens e destinos distintos”. Conheço me bem, cada dia aprendo mais sobre mim e sobre o que me rodeia. O Retiro no Nepal proporcionou-me um olhar ainda mais profundo do Eu. Mas “o que raio” é um retiro?

Retiro é uma acção, é retirar-se de algo, afastar-se de uma atividade usual, do dia-a-dia. Já um retiro Espiritual é diferente; está relacionado com algo mais profundo: espírito, alma. Então e tens acesso à internet? Como é possível? Sim é verdade; Tive! Malta, estamos na Era Digital e aqui também há wi fi (melhor que em alguns sítios em Portugal). É um retiro, não é um detox digital (Claro que depende de retiro para retiro). A minha experiência aqui foi para tranquilizar a mente; pensar no que me move, no meu propósito de vida, nos meus princípios, no que realmente importa e cuidar de mim (em vez de ser cuidadora dos outros).

Tudo isto em contacto com uma realidade complemente e extremamente diferente da minha, na companhia de desconhecidos, num país que não é o meu, com uma cultura distinta e com a pratica diária de meditação/ mindfullness. Então…e o que é o mindfullness? Meditação ou mindfullness é sobre viver plenamente consciente de cada experiência. É sobre o Presente, o aqui é agora. É uma prática que permite obter a tranquilidade e dominar a mente. E qual é impacto da prática de mindfullness? Poderia ser só sobre o Eu, mas não teria o mesmo impacto. É sobre o Todo. Permite desenvolver a autoconsciência, a inteligência emocional e o autocontrole, tendo também atenção ao outro e ao que nos rodeia, permitindo ter a capacidade de gerir eficaz e eficientemente os relacionamentos: quer pessoais, quer profissionais. Levo do Nepal uma aprendizagem gigantesca e o contacto com uma realidade do terceiro mundo. Pobreza, violência, dificuldades financeiras, poluição… mas também a felicidade de pessoas que têm muito pouco e que mesmo assim sorriem com o olhar. Vivi cada dia intensamente, sem planos, sem pensar no futuro e sem saudades do passado ou do dia de ontem.

Estive completamente presente e focada. Fiquei num hotel humilde, sem luxos: a fechadura do quarto era um cadeado, o espaço era limpo e respirava-se tranquilidade. Acordava com o barulho da natureza e os pequenos almoços eram simples e servidos com um sorriso no rosto. Apanhava um táxi todos os dias para ir ter com o grupo de participantes que estavam noutro hotel. Todos os dias era uma viagem alucinante num carro que parecia que ia parar a qualquer altura. Não há regras na estrada e por vezes tinha de sair do carro para que o taxista conseguisse passar; a estrada era: ora pedras, ora pedragulhos, ora terra, ora lama. Uma aventura. Respirar era difícil: o ar é extremamente poluído. Dormi pouco, fisicamente estou cansada do rodopio de atividades e mentalmente: rica, muito rica e bastante grata. Vivi uma realidade diferente, sem adornos e comovi-me com o espaço, os locais e crianças do orfanato (que sofreram atrocidades incríveis e que agora espelham felicidade é um amor incrível). Venho de bagagem mais leve, porque deixei a minha roupa às hospedeiras do hotel (nem imaginam o seu olhar de felicidade). Venho de coração cheio! Aprendi muito, tornei me mais flexível e ainda mais tolerante. Aprendi que amor é sobre estabilidade, frescura, transparência e liberdade; e que as palavras e as atitudes tem um impacto gigante quer na tua esfera pessoal, quer no mapa mundo do outro. Levo do Nepal uma experiência rica de autoconhecimento. Foi muito a minha “rota do Eu”; e sim, venho uma “Cátia 2.0” e amanhã quem sabe, estarei uma “Cátia 2.1”. A mudança é constante e isto é só o caminho…

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One comment

  • Ó Cátia, simplesmente fantástica, tu és uma mulher e pêras, parabéns por seres a menina que conheci já alguns anos, embora com mais conhecimento, mas a mesma personalidade. não sei porquê, não me surpreende muito, porque olhando para ti…esta é a Cátia, sempre maravilhosa.
    Obrigada pelo teu depoimento, é do melhor.
    Beijinhos

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