Roteiro Aveiro. Os Moliceiros, os Ovos Moles e a santa que não é santa

Um roteiro de Aveiro tem que incluir Ovos Moles e Moliceiros. Mas também há surpresas: uma santa que não é santa e um santo que atira cavacas

Antiga Fábrica de Cerâmica Jerónimo Pereira Campos fotografada a partir de um Moliceiro em Aveiro
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IInjustamente chamam-lhe a Veneza Portuguesa. É injusto porque Aveiro é muito mais do que a cidade dos canais. Tem os Ovos Moles e uma gastronomia associada ao mar que a tornam única.

A cultura liderada pela Arte Nova é mais um dos caminhos pelos quais nos podemos perder. Caminhos que nos podem levar à praia, mas não nos deixam passar ao lado da arte contemporânea de Vhils.

A pé ou nas Bugas, as bicicletas de utilização gratuita da cidade, vamos ainda conhecer uma santa que não é santa e um santo que atira cavacas aos fiéis. Vamos conhecer Aveiro?

Dia 1

Museu de Arte Nova

10:00 – 11:00

Começamos este roteiro a partir do largo do Rossio, junto a Ria, no Museu de Arte Nova. No edifício em tons de azul, janelas trabalhadas com motivos naturais é possível ver flores e animais na fachada. É um exemplar da habitação de Arte Nova na cidade e ficou muitos anos conhecido por Casa Major Pessoa.

Antes de se tornar património do estado esta casa pertenceu à família de Mário Belmonte Pessoa, que a mandou construir. Sabe-se que ficou concluída no ano 1909, mas o que não é consensual é a sua autoria, atribuindo-se com dúvidas a Silva Rocha ou Ernesto Korrodi.

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Atualmente é um polo do Museu da Cidade, Centro Interpretativo Arquitetónico e integra a Rota Cultural Europeia Réseau Art Nouveau Network.

No final da visita, desfrute de uma infusão para ganhar energia para o resto do dia na Casa de Chá que funciona no piso térreo.

Passeio de Moliceiro

11:00 – 12:30

A Ria de Aveiro estende-se por 45 quilómetros e a sua profundidade é baixa. Há pelo menos três rios a desaguar no ex-libris da cidade: o Vouga, o Antuã, o Boco e o Fontão. A melhor forma de a conhecer é fazer um passeio de Moliceiro, um passeio obrigatório para quem quer ficar a conhecer bem Aveiro.

As típicas embarcações de trabalho eram usadas pelos pescadores para apanhar o moliço, uma alga aquática que servia para adubar os terrenos agrícolas de Aveiro.

A construção do Moliceiro é feita a duas mãos e demora, em média, 25 dias. O Pinheiro Manso e Bravo, predominantes na região, são as árvores usadas na construção destes barcos com 15 metros de comprimento e 2,5 metros de largura.

Com a extinção da prática do uso de moliço as embarcações ficaram paradas, mas não demorou muito tempo até que o turismo os agarrou e transformou numa das mais emblemáticas atrações turísticas da cidade.

Do lado exterior, na proa e na ré, estes barcos têm uma das suas características mais apreciadas por quem visita a cidade: as pinturas e os ditados populares, muitas vezes sátiras sociais ou simplesmente humor brejeiro.

Capela de São Gonçalinho

12:30 – 13:00

Da navegação, seguimos viagem a pé, em direção ao interior do bairro mais emblemático da cidade, o bairro da Beira-Mar.

Não vai ser difícil encontrarmos a Capela de São Gonçalinho, um templo que remonta ao ano de 1714 cuja origem está relacionada com São Gonçalo que viveu nos séculos XII-XIII.

Casamenteiro, protetor de doenças ósseas e das gentes da Beira-Mar é também responsável por uma das festas que mais fiéis mobiliza todos os anos na cidade. No início de janeiro a praça desta capela fica repleta de pessoas que se vão tentando escapar às cavacas que são atiradas do topo da capela. As cavacas são doces produzidos na cidade e os fiéis que as atiram fazem-no em jeito de pagamento de promessas.

Ostraveiro

13:00 – 15:00

Para almoçar, a nossa sugestão é o Restaurante Ostraveiro. O nome não nos deixa ir ao engano: a especialidade são ostras.

Para aqui chegar vai ter de apanhar um barco, mas não se preocupe porque o restaurante tem as suas próprias embarcações no Canal Principal, em frente à antiga Lota.

O restaurante faz aquacultura de ostras, berbigão e amêijoas, e por isso tudo o que vai comer é de excelência e fresco. Se tiver curiosidade é possível fazer uma visita guiada à produção nos arredores da ria de Aveiro.

Salinas de Aveiro

15:00 – 16:30

A seis minutos de carro ficam as Salinas de Aveiro, local de trabalho dos Marnotos, nome que se dá ao trabalhador deste ofício.

Em tempos o Marmoto tinha como características ser um homem de corpo robusto, que tradicionalmente vestia uma camisa de lã branca, um lenço avermelhado ao pescoço, calções largos de algodão e um chapéu preto na cabeça.

Nos anos 60 do século XX existiam cerca de 270 marinhas de extração do “ouro branco” que chegavam a produzir 35.600 toneladas de sal por ano, sendo o principal rendimento de muitas famílias da região.

Na década de 70 o número de marinhas de produção ativas começou a cair, até às sete que existem hoje em atividade e que podem ser visitadas.

Praia de São Jacinto

16:30 – 19:00

A melhor forma de acabar o dia é indo a banhos, sendo o mais difícil escolher a praia onde quer ir.

A lista é vasta e a nossa sugestão recai sobre a Praia de São Jacinto, de areia branca, com várias dunas para estender a toalha e conseguir aproveitar o calor do verão.

Arte Urbana do Vhils

19:00 – 20:00

Seguimos agora em direção à Estação Ferroviária de Aveiro, onde vamos encontrar a obra do artista plástico Vhils.

O rosto deslumbrante esculpido na parede é uma das obras mais inquietantes do autor que tem vindo a desenvolver uma linguagem visual única, destacando-se pela técnica do graffiti e do trabalho de remoção de camadas superficiais de paredes que tem como objetivo estabelecer uma relação de continuidade entre as disparidades culturais e sociais.

Dia 2

Praça da República

9:30 – 10:00

Começamos este segundo dia na Praça da República, uma das praças principais da cidade.

O grande destaque aqui é um painel de azulejos da autoria de Vasco Augusto de Pinho Ferreira Branco, nascido na freguesia de Vera-Cruz, em Aveiro, apesar de se ter licenciado em farmácia, apaixonou-se pelo desenho e pintura e notabilizou-se nessa área.

Igreja da Misericórdia de Aveiro

10:00 – 10:30

Ainda na Praça da República, em cima da calçada portuguesa de padrões circulares, destaca-se a Igreja da Misericórdia de Aveiro.

No topo do portal destacam-se os símbolos nacionais, nomeadamente a Cruz de Cristo, uma esfera armilar e, ao centro, o escudo régio. Os azulejos de vários padrões na fachada foram revestidos já no século XIX.

Do interior destaca-se a capela-mor com um arco triunfal em pedra calcária e o altar maneirista em talha dourada.

Confeitaria Peixinho

10:30 – 11:00

Não vai ser preciso caminhar muito para chegar à Confeitaria Peixinho, o próximo ponto de paragem em Aveiro.

Está na hora de provar o doce típico da cidade, os Ovos Moles. Fundada em 1856 esta é a mais antiga casa desta iguaria que mantém intacta a receita original.

A receita original foi criada pelas freiras da região, numa receita com mais de cinco séculos e a qualidade e tradição são ainda hoje asseguradas pelo saber fazer deste manjar conventual.

Os novos tempos foram trazendo novas iguarias como os Bombons de Ovos Moles, o Moliceiro de Ovos Moles, as Castanhas de Ovos Moles ou até a Cornucópia de Ovos Moles.

Igreja do Convento de S. João Evangelista

11:00 – 11:30

No início do séc. XVII, era construído o Convento de São João Evangelista, recebendo em 1658 as primeiras freiras carmelitas. Ao longo dos anos foi sofrendo algumas alterações na arquitetura com a construção da igreja, iniciada em 1704, preservando a talha dourada e o azul e branco dos azulejos.

Na capela-mor destaca-se o retábulo de talha dourada, com Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal, no trono.

Museu de Aveiro

11:30 – 13:00

O ponto a visitar a seguir é o Museu de Aveiro, muito mais conhecido pelo nome da sua mais famosa inquilina: Santa Joana. Esta infanta, carismática e enigmática viveu por ali os seus últimos tempos em clausura. Porque aquele lugar, antes de ser museu, foi o Convento de Jesus.

Joana consegue ainda outra proeza curiosa. É padroeira da cidade de Aveiro, mesmo sem ser reconhecida pela Igreja Católica como santa. Beata é o seu único título, concedido pelo Papa Inocêncio XII em 1673, mas o povo continua a acarinhá-la e a atribuir-lhe alguns milagres.

No acervo deste espaço concentram-se, essencialmente, as obras herdadas do convento que por ali existiu, sendo o túmulo de Joana a atração mais relevante. Embora seja hoje um museu, está frequentemente aberto para o culto religioso.

Jardim da Fonte Nova

13:00 – 13:30

Caminhamos agora 10 minutos até ao Jardim da Fonte Nova, o pulmão verde da cidade e o espaço perfeito para fazer uma caminhada antes do almoço.

Ao longo do jardim há pontos onde é obrigatório parar. O edifício em tijolo vermelho da antiga Fábrica de Cerâmica Jerónimo Pereira Campos e o Lago da Fonte Nova, num dos canais urbanos da Ria em Aveiro e o movimento dos moliceiros. A sul do Lago da Fonte Nova é possível observar as ruínas da Capela de São Tomás de Aquino, bem como a chaminé da primeira unidade fabril da histórica fábrica de cerâmicas Aleluia.

Mercado Manuel Firmino

13:30 – 14:00

A cinco minutos a pé do Jardim da Fonte Nova, encontra-se o Mercado Manuel Firmino.

Os mercados tradicionais têm voltado a ganhar novamente vida, mas o mercado Manuel Firmino nunca a perdeu. Com bancas de fruta e peixe, este é um lugar a não perder na visita até a cidade.

Maré Cheia

14:00 – 16:00

Para almoçar a nossa sugestão fica mesmo no centro da cidade, é o Restaurante Maré Cheia.

O peixe e o mariscos são as jóias da coroa neste restaurante no centro da cidade. O difícil vai ser escolher entre as Lulas Grelhadas, o Pregado, os Tigres Grelhados e as Enguias Fritas, pratos difíceis de resistir.

E para não se arriscar a não ter mesa, não se esqueça de reservar antes de ir.

Museu da Vista Alegre

16:00 – 17:00

O destino a seguir fica a 12 minutos de carro, em Ílhavo, e é o Museu da Vista Alegre que conserva e guarda a memória da produção da porcelana artística da empresa natural desta região.

Para além de mostrar a história da fábrica, a evolução estética da produção de porcelana e a sua importância na sociedade portuguesa, nos séculos XIX e XX, o núcleo expositivo conta com mais de 30.000 peças.

É ainda possível visitar a zona envolvente ao museu que é constituída pela fábrica, a creche para os filhos dos funcionários e o teatro. Se tiver oportunidade pode comprar uma recordação da loja do Museu que será uma ótima prenda para oferecer a um amigo ou familiar.

Praia da Barra

17:00 – 20:00

A Praia da Barra é ideal para passar a tarde. Situa-se na Costa Ocidental e possui um extenso areal branco.

A praia oferece boas condições para a prática de diversos desportos como o surf, bodyboard, kitesurf, vela e pesca desportiva. Bem perto daqui está o Farol de Aveiro, construído há mais de um século com 62 metros de altura. É o mais alto de Portugal.

Costa Nova

20:00 – 21:00

A menos de 4 minutos de carro, dê um passeio pela beira mar para ver as casas típicas da Costa Nova que hoje são alojamentos turísticos, comércios e restaurantes. Mas já foram Palheiros e também usados como antigos armazéns de alfaias da pesca.

No início as cores predominantes eram o vermelho ocre e preto e o espaço no interior era amplo e sem divisões, mais tarde foram divididos em tabiques de madeira e decorados com conchas de ostras.

Com a mudança das famílias dos pescadores para a Costa Nova deram aos palheiros uma nova vida e os seus interiores foram remodelados, as divisões foram feitas e as suas fachadas pintadas com coloridas riscas de vermelho, azul, verde e amarelo.

Acredita-se que as riscas foram feitas para os pescadores conseguirem localizar mais facilmente os seus palheiros em dias de nevoeiro.

Zé da Tripa

21:00 – 21:30

Para se despedir da cidade, não pode de deixar de provar as famosas tripas de Aveiro no Zé da Tripa.

A massa é feita com farinha, açúcar, ovos e leite e o recheio pode ser de chocolate, ovos-moles ou pode até nem ter nada lá dentro… mas fica com menos graça.

Como viajar até Aveiro?

A cidade de Aveiro está liga à rede ferroviária nacional através da linha do norte, passando por cá todos os Alfa Pendulares, Intercidades, Regionais e Urbanos que fazem as ligações entre o Porto e Lisboa.

rede expressos logo

Os autocarros da Rede Expressos ligam a cidade de Aveiro a várias cidades do país. O terminal rodoviário fica junto à estação ferroviária.

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Aveiro está bem conectada ao resto do país por via rodoviária. Para quem chega a partir do norte a A1 é a melhor opção. A A1 também é opção para quem chega do sul, assim como a A8 em combinação com a A17. Do interior chega-se via A25.

Onde dormir em Aveiro?

Montebelo Vista Alegre Ílhavo Hotel
Estrada da Ponte, 10
a partir de €110/pessoa (noite)
Reservar no Booking.com

1877 Estrela Palace
Rua José Estêvão, 4
a partir de €100/pessoa (noite)
Reservar no Booking.com

Suites & Hostel Cidade Aveiro
Rua do Príncipe Perfeito, 18
a partir de €34/pessoa (noite)
Reservar no Booking.com

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