No traçar de uma nova viagem, pode ser difícil encontrar lugares inexplorados, onde consigamos sentir de verdade o pulsar da vida local. Não que isso seja um requisito necessário para se desfrutar da aventura, mas gostamos sempre de nos apresentar como pequenos exploradores, que pisam lugares nunca antes navegados.
O meu primeiro destino no norte do Vietname foi Hanói. Aterrei vinda de Phu Quoc onde conheci uma checa que me iria dar guarida nas próximas semanas – como tantos outros expats, estava ali como professora de Inglês, neste caso, para vietnamitas interessados em obter o visto de estudante para a República Checa -, e tinha todo um quarto de hotel, que se disponibilizou a partilhar comigo. O facto de estarmos mais afastadas do centro, obrigou-nos a conhecer um lado de Hanói que a maior parte dos turistas não frequentam. Não é um must see, nem tão instagramável como o são Halong Bay ou a prisão Hilton, mas ali tivemos a oportunidade de viver a vida real, de ir aos mesmos supermercados que os donos da nossa guesthouse, aos pequenos restaurantes e bares, de conhecer os parques, onde havia sempre alguém mais velho a fazer exercício em máquinas com mais de meio século.
Mas esta história não é sobre a alucinante vida em Hanói, é sobre uma zona de que me falaram numa noite de cervejas e que imediatamente soube que tinha de conhecer – Ha Giang. Nas semanas em que trabalhei em Phu Quoc, dividi tarefas com um casal romeno que havia partido com a casa às costas há mais de um ano. E tinham encontrado em Ha Giang um segundo lar: totalmente verde, autêntico, rodeado por montanhas, um lugar onde eram dos poucos ocidentais, onde o Inglês que falavam era apenas na escola onde davam aulas, onde TODA a gente lhes dizia “Olá” e viver era fácil, como diriam a Ella ou a Janis.
Não sendo capaz de conduzir uma mota sozinha, juntei-me a um grupo que exploraria essa mesma zona durante 3 dias. Partimos de Hanói numa quinta-feira à noite, num sleeping bus de mais ou menos seis horas, em direção a Ha Giang. Vamos excitados, a partilhar histórias e a conhecer-nos e, por isso, dormimos pouco. Chegamos ao destino de madrugada e cada um dos oito toma um banho quente e come um delicioso Bahn Mi. Somos introduzidos às nossas motas, parceiras imprescindíveis, e seguimos viagem em direção à primeira paragem: Yen Minh.
Ao longo do caminho, vamos parando sempre que a paisagem nos parece demasiado incrível para não ser eternizada nos nossos telemóveis. As montanhas são imensas, há verde em todo o lado, todas as crianças nos acenam, e o trânsito é partilhado com rebanhos. Faz frio, muito frio. Mas a paisagem é absurdamente bonita.
O primeiro almoço é um verdadeiro buffet de legumes e verduras, de arroz, tofu, especiarias… – perceberemos depois que todas as refeições serão assim, absolutamente deliciosas, como o é toda a comida no Vietname.
A primeira noite é passada numa pequena guesthouse em Yen Minh. Tudo perfeito, não fosse o facto de não haver água quente – o banho é adiado, sem discussão, para o dia seguinte. Ainda nessa primeira noite, conhecemos o famoso Rice Wine vietnamita, e travamos amizades encantadoras com um grupo de vietnamitas que janta ao nosso lado. Mal falam Inglês mas a noite não podia ser mais divertida. E por ter sido tão divertida, a manhã seguinte é lenta e algo dolorosa. Mas depois de um café e de umas banana pancakes (o pequeno almoço mais western do sudeste), seguimos viagem.
Desta vez conduzimos em direção a Dong Van, onde dormiremos a segunda noite, e percorremos o famoso Ma Pi Leng pass, um trajeto com cerca de 20 km, entre curvas e contra curvas, a mais 1.500m de altitude. O cenário é, mais uma vez, fabuloso.
Almoçamos já no destino e, depois de pousarmos as pequenas backpacks, partimos para um dos troços mais excitantes do itinerário – vamos em direção à China, sim à China. Equipados com Saigons e 333s (cervejas vietnamitas), conduzimos um par de horas até ao extremo norte e chegamos àquilo a que se poderá chamar de fronteira, ainda que não se trate mais que uma vedação com um cartaz em chinês – fazemos de conta que não percebemos e desfrutamos das nossas cervejas, com os pés assentes num dos países mais interessantes deste lado do Mundo.
Voltando á guesthouse, temos o prazer de tomar um bom banho quente e, mais uma vez, sermos servidos com um verdadeiro banquete de sabores, antes de dormirmos todos juntos no sótão.
No terceiro e último dia é tempo de voltar para Ha Giang, percorrendo o outro lado da montanha. Vamos descobrir umas grutas no meio da estrada, percorremos alguns mercados locais e paramos para mais cenários de cortar a respiração.
Banho quente, roupa lavada, e um mais um bahn mi depois, voltamos à estação para apanhar o autocarro de volta a Hanói. Desta vez já não falamos tanto, a excitação é vencida por 3 dias de pernas abertas em cima de uma mota – parece doloroso, não? Chegamos de madrugada, cansados, doridos, com frio. Depois de 4 noites e 3 dias juntos, cada um segue destinos diferentes, eu vou para a Tailândia, é quase Natal e a minha melhor amiga está à minha espera. Se calhar não nos vamos voltar a ver, mas enquanto tomamos o último pequeno-almoço juntos, damos graças por sermos uns sortudos do caraças e termos tido a oportunidade de fazer esta viagem, um pouco mais off the beaten track.
[wp-svg-icons icon=”bubbles-4″ wrap=”i”] Vietnamita
[wp-svg-icons icon=”users” wrap=”i”] 94 569 072 hab. (2016)
[wp-svg-icons icon=”coin” wrap=”i”] Dong (VND)
[wp-svg-icons icon=”clock” wrap=”i”] GMT+7
[wp-svg-icons icon=”power-cord” wrap=”i”] tipo M
[wp-svg-icons icon=”phone” wrap=”i”] +84
[wp-svg-icons icon=”aid” wrap=”i”] 115
[wp-svg-icons icon=”rainy-4″ wrap=”i”] O Vietname é um país de dimensões consideráveis por isso o clima varia bastante consoante as regiões. Na capital, Hanói, os meses mais frios (dezembro a fevereiro) as temperaturas nãos descem além dos 10ºC. Nos meses mias quentes as temperaturas máximas não ultrapassam os 35ºC é também nestes meses que a humidade do ar é bastante elevada.